07. Emma

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Os dias na nova escola estavam sendo bem complicados - honestamente, aquele estranho garoto estava fazendo tudo ser mais complicado

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Os dias na nova escola estavam sendo bem complicados - honestamente, aquele estranho garoto estava fazendo tudo ser mais complicado. Não que isso seja ruim, muito pelo contrário. Mas confesso que sempre ficava chateada quando Jake me bombardeava com diversas perguntas. Eu me sentia desolada, atingida e culpada, já que algumas coisas que eu falei para ele eram mentira.

- Você está pronta pra encará-lo novamente, srta. Bloom? - Bronwyn pergunta, enquanto eu colocava meus sapatos. Às vezes eu a achava tão ingênua que sentia pena dela. Bronwyn era uma das crianças do orfanato da srta. Peregrine que não eram permitidas a ir a escola. Millard era outra delas, por motivos bem claros - Sabe que deve ter cuidado.

- É, eu entendo. - retruquei, revirando os olhos - Somos os Henderson, viemos da Inglaterra, temos muitos parentes e blá, blá, blá...

- Sinto muito por ter que viver nessa farsa, srta. Bloom, mas não temos escolha. - Wyn olha para baixo com um semblante triste e desnorteado - A srta. Peregrine já fez muito só de encontrar esse lugar, onde não podemos envelhecer.

Cheguei perto de uma das melhores amigas que eu tinha no orfanato e pus a mão em seu ombro. O próximo gesto, que nem eu esperava, foi abraçá-la. Sabia exatamente como ela estava se sentindo. Perdida, sentida, sozinha. Também me senti assim quando chegamos aqui. Tivemos que aprender tudo sobre esse novo século: sobre aparelhos telefônicos, gírias, vestimentas... nossa adaptação foi difícil.

- Wyn, somos uma família. Eu sei que você sente saudade da nossa fenda, mas ela está destruída agora. Não há nada que nos faça retornar para lá.

- Não acho que esteja ajudando, Emma. - uma voz surgiu do nada. Não consegui encontrar a origem dela, e só então compreendi que era Millard me bisbilhotando pela milésima vez.

- Millard, isso é errado! - gritei, provavelmente assustando o menino - E faça o favor de pôr algumas roupas.

- Sim, srta. Henderson. - provocou ele antes de sair do quarto. Despedi-me de Bronwyn e dessa vez fui falar com Claire. Ela teria causado muitos problemas no dia anterior.

A "Garotinha da Srta. Peregrine", como era conhecida, se aventurou pela floresta da cidade e acabou se perdendo. Olive tentou procurá-la com sua magnífica habilidade de flutuar, provavelmente chamando atenção indesejada. Victor foi o salvador da pátria, já que se dispôs em procurar as duas e trazê-las a salvo para cá. Acabei ajudando o Bruntley mais velho, antes mesmo de ele chegar ao orfanato - o meu fogo veio a calhar. Após ter recomendado à Claire para não sair sem permissão, fui até a srta. Peregrine para me despedir dela. Era hora de ir à escola, afinal.

- Admita. - ouço uma voz profunda, vinda das minhas costas. Viro para encarar seu dono, era Enoch. Ele estava com um moletom preto e usava pequenas argolas no nariz e na orelha esquerda (acho que eles chamam de "piercing" por aqui), que ele teria conseguido sem a permissão da srta. Peregrine - ela quase estrangulou o garoto por isso.

- O quê?

- Que você gosta de mim. - forcei para não dar uma risada, às vezes ele conseguia ser extremamente irritante e convencido.

- Do que você está falando, idiota?

- Eu dei uma olhada no seu celular, dona Bloom. - ele chegou bem perto, tive que me afastar - Estava tirando fotos minhas enquanto eu dormia?

- Em primeiro lugar, quem te deu permissão para olhar meu celular? Em segundo, é, eu tirei sim. - confirmei, cruzando os braços - Hugh apostou que eu não conseguiria chegar a 3 centímetros próximo do seu quarto. Acabei provando que eu conseguia com uma foto. Problemas, bebezão?

- Nenhum. - respondeu, sem olhar nos meus olhos - Aliás, até gostei desse desafio.

- Vai se ferrar, garoto! - depois de uma discussão com ele, seguimos até nossa mentora, que estava acompanhada de Horace. Ela nos deu os mesmos avisos de sempre e pediu para mantermos sigilo sobre nossa verdadeira identidade em toda e qualquer circunstância.

Também falou sobre nossas peculiaridades poderem falhar nessa nova época, já que eram acostumadas aos anos 40. Isso me deixou preocupada, mas Horace me acalmou após me dar alguns conselhos. Depois de muitas falatórias, caminhamos até chegarmos ao portão do colégio.

Esse era o momento que eu tanto esperava desde ontem. Eu veria Jacob mais uma vez.

- Lembrem-se - disse Horace, enquanto limpava as quase inexistentes partículas de poeira de seu casaco - Aqui é uma nova realidade, não somos mais os mesmos ao entrar nessa escola. Aqui eu sou Howard Henderson e vocês sã-

- Ethan e Emma Henderson, é já sabemos. - Enoch adiantou, seguindo em nossa frente. Entramos na sala e encaramos vários olhares sobre nós, o de Jake foi um deles.

- Boa noite, senhores. - brincou o sr. Tate - Não acham que estão um pouco atrasados?

- Acha que eu ligo pra sua opinião? - Enoch respondeu, surpreendendo a todos nós. Ouvi algumas risadas e suspiros. Nosso professor de matemática estava vermelho de raiva.

- Se não liga, acho que não deveria estar aqui. - o sr. Tate pegou e assinou um folheto pequeno e o entregou para "Ethan", que apenas revirou os olhos - Parabéns, sr. Henderson. Acabou de ganhar um ingresso para a diretoria.

- Que se dane. - Enoch retrucou. Tentei gesticular para ele desistir de afrontar nosso professor, mas não deu certo.

- Espero que não se perca no caminho. - Enoch suspirou, antes de sair. Resolvi sentar no mesmo lugar que ontem - Mais alguém? Não? Ótimo.

Horace conseguiu uma carteira com uma garota ruiva. Ele tentou falar um "bom dia" pra ela, mas não teve resposta. Jake estava ao meu lado, com uma expressão sisuda em seu rosto.

- Seu irmão é mais estranho do que eu pensava. - falou, sem nenhuma emoção aparente.

- Acredito que ele encararia isso como um elogio. - o silêncio entre nós dois dominou. Olhei para o relógio, que marcava 8:38 e depois para a lousa.

- Por que você disse aquelas coisas ontem?

- Jake, eu não quero que você se decepcione com o meu verdadeiro eu. - respondi, um pouco mais triste ao lembrar da nossa conversa.

- Prometo que eu não vou, Emma. - ele encostou uma de suas mãos na minha. Ao fazê-lo, notei que uma garota me encarou com raiva. Me senti pressionada, acabei deixando o calor que percorria em minhas veias atingir todo o meu corpo - Ai! Você ficou quente assim ou...

Larguei da sua mão como um reflexo.

- Escuta... - continuou ele, ignorando o que acabara de ocorrer - Venha comigo depois da aula. Podemos ir à pista de gelo.

- Não posso. - afirmei, cabisbaixa - Minha mãe nunca me deixaria sair de casa à tarde.

- E que tal à noite? - ao dizer aquilo, o garoto sorriu. O professor chamou nossa atenção e nos voltamos para ele, ainda rindo. Dados poucos segundos, Jacob me entregou um papel amassado, quase não pude ler suas letras. Mas quando consegui, me forcei para não sorrir.

Me encontre na pista de gelo de Englewood às 10 da noite

LOST KIDS ;; jake p.Onde histórias criam vida. Descubra agora