10. Jake

123 10 8
                                    

Aquelas palavras me dilaceraram vagarosamente e continuaram na minha cabeça por alguns minutos

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Aquelas palavras me dilaceraram vagarosamente e continuaram na minha cabeça por alguns minutos. Sei que elas vinham de um garoto repleto de ciúmes por sua irmã e que faria tudo para protegê-la, mas ainda assim, nada me tranquilizava. Saber que eu era a causa da desgraça de Emma deixava meu coração apertado e angustiado. Resolvi, então, ir até a casa dela. Era a única maneira de falar com Emma sem nenhuma interrupção; assim eu aproveitaria para perguntar sobre sua mãe e sobre o incidente do estabelecimento. Até agora tentei entender como eu fora puxado para fora da pista por uma força invisível.

Peguei meu casaco e disse a minha mãe que estava indo na casa de uma amiga - felizmente, ela não soube da minha saída para o Frost Beat na semana passada. Lembrei-me que ela me falou seu endereço, quando ainda estava se decidindo se iria ou não para a pista de gelo. Segui as direções corretas com o auxílio do meu celular e só parei ao chegar numa mansão meio antiga. Olhei para tela por umas 4 vezes, esperando que o celular me localizasse. Aquilo não seria a casa dela... seria? Para provar, aproximei-me de uma janela e tomei cuidado para não ser pego por ninguém - tinham algumas pessoas lá dentro. Ouvi a conversa entre eles.

- Temos que encontrá-la, pessoal. A srta. Peregrine não pode ter sumido assim. - falou uma voz grossa. Supus ser mais um dos irmãos de Emma.

- Não é simples assim, Victor. - resmungou outra, que reconheci ser a de Emma. Meu coração bateu com mais força e eu fiquei ali sem entender o porquê - Nem sabemos por onde começar a procurar.

- Claro que sabemos. - Ethan. Sua voz me deu calafrios - Será que a carta de sequestro não foi o suficiente?

- Eles não deram nenhum endereço, Enoch. - Emma voltou a falar. Apesar de não saber quem "Enoch" era, a resposta parevia ter sido dada à Ethan - Obviamente.

- Na realidade, acho que temos uma dica. - disse outra voz, mais distante - Tem uma marca na parte inferior do papel. Ela me lembra muito as garras de um falcão. Mais precisamente, um peregrino. Andei estudando um pouco sobre algumas espécimes de aves e tenho certeza que é isso.

- Ela não pode ter marcado aquela folha se foi sequestrada. - houve um silêncio perturbador. Enquanto isso eu tentava me apoiar numa pedra escorregadia, para ouvir. Eu estava perto de cair, até que... - Temos que investigar mais e-

POFT!

- Ouviram isso?

O barulho veio de mim, essa teria sido a pior parte. O galho da árvore que usei para me apoiar se partiu e veio em minha direção. A última coisa que me lembro, antes de desmaiar, foi alguém chamando o meu nome.

[. . .]

- Jake. Jake? - a voz de Emma chamou a minha atenção. Abri os olhos vagarosamente, sentindo apenas agora a dor do impacto - Ah, ele acordou. Você está bem?

- Eu... E-Emma... - foi tudo o que a minha voz trêmula pôde articular. Ao lado da garota estava Ethan, com uma expressão ameaçadora.

- É claro que ele está bem. - disse ele - Se não ele estaria morto.

- Cale a boca, Enoch!

- Enoch? - perguntei, ainda mais confuso. Ethan apenas revirou os olhos e bufou.

- Que maravilha, Emma Bloom. Agora ele sabe mais do que deveria. - retrucou. Em seguida, um garoto cheio de abelhas em seu corpo se aproximou, batendo em Ethan. Eram tantos insetos anexados em seu corpo que recuei de medo.

- O que está acontecendo aqui?! - exclamei. Emma entortou as sobrancelhas, como se estivesse com pena. Ela repousou sua mão em meu ombro e deu um fraco sorriso.

- Tem algumas coisas que eu preciso te dizer, Jake. - Emma olhou para todos antes de falar algo - Estes aqui não são meus irmãos. Bem, pelo menos não de sangue. Somos todos órfãos. Meu verdadeiro nome é Emma Bloom. Estes são Enoch O'Connor e Horace Somnusson.

De repente olhei para "Ethan", ele estava desconfortável.

- Então quer dizer que seus ciúmes pela Emma eram na verdade...

- Não ouse dizer mais uma palavra. - repreendeu e eu só assenti. Ele gostava de Emma.

- Prossiga, Emma. - uma voz, que não consegui identificar de onde veio, sussurrou em meu ouvido. Procurei por alguém,mas não fui capaz de encontrar.

- Certo. Somos peculiares, Jacob. Pessoas que conseguem fazer coisas magníficas como flutuar, controlar o fogo ou a natureza. - ela parou para respirar, confesso que tive vontade de rir dela, mas seria muito rude da minha parte - Nossa mentora, Alma Peregrine, é uma peculiar chamada ymbryne e consegue controlar o tempo e se transformar em ave.

- Mas ela não está aqui. - uma garotinha de cabelos encaracolados falou. Parecia tão triste que cheguei a ter pena. Eles esperaram que eu falasse algo, mas estava em choque. Infelizmente, não pude conter a risada que segurei por um tempo.

- HAHAHA. Tá, ok. O que mais? Clark Kent mora aqui?

- Clark Quem? - perguntou um deles. Emma estava um pouco chateada e continuou a falar.

- Mas é verdade, Jacob!

- Essas coisas não existem, Emma! - gritei, sentindo-me traído por alguém que chamava de amiga - Eu entendo, você mentiu pra mim. Mas não precisa continuar a me fazer de idiota!

 De repente, algo estranho aconteceu. Uma pedra começou a flutuar e todos olharam pra ela. Enoch deu uma risada e continuou encarando-a. Por fim, a mesma voz que ouvi do "além" se pronunciou. Ela veio do mesmo lugar que a rocha.

- Se isso não for uma prova, meu caro, - disse "a pedra" - então não faço ideia do que seja. A propósito, de nada. Foi eu quem te puxou para fora daquela pista congelante, naquele dia. Brrr.

Eu caí no chão pela segunda vez, afastando-me da pedra e dos outros que começaram a rir de mim.

- E-Essa coisa acabou de falar comigo?

- Ei! Não chame Millard de coisa. - disse a garotinha dos cachos - Ele só é invisível.

Emma voltou a se aproximar de mim, mas tive medo de tocar nela.

- Eu não vou te machucar, Jake. Nunca o faria. - sussurrou, fazendo-me acalmar de alguma forma - Eu te falei que você se decepcionaria com o meu verdadeiro eu. Mas você não quis ouvir.

- A-Acho que eu posso... me acostumar com... isso. - afirmei, sem retirar os olhos dela. Será que essa era a sua habilidade? Hipnotizar pessoas?

 - Que bom. E acho que seria injusto não dizer que foi dessa maneira que eu conheci seu avô, Jake.

- Vovô Abe? - engasguei - Ele também era como vocês? Um peculiar?

- Sim. Ele conseguia ver monstros, os que nenhum humano ou peculiar capacitado poderia ver. Seres sem rosto, enormes e famintos por almas peculiares. Os etéreos.

- E-Eles tinham várias línguas e um sangue preto escorria pela sua boca? - quando perguntei, Emma e os outros ficaram pasmos.

- De acordo com os registros peculiares, sim. Como você sabe disso?

- Porque na noite em que Abe morreu... eu vi um deles.

- Jacob, isso é impossível! Nem mesmo nós conseguimos vê-los. - ela continuou a negar - A não ser que você seja um...

- ... Peculiar. - completei, sentindo meu estômago contorcer.

LOST KIDS ;; jake p.Onde histórias criam vida. Descubra agora