Na manhã seguinte, Bernard tomava o seu café sozinho na cozinha, estava muito triste. Havia se acostumado com a presença de Berenyce, com o sorriso dela iluminando tudo por onde passava.
— Bom dia, Bernard! – A voz grossa, forte e vigorosa do Lorde invadiu a cozinha.
— O quê de bom? —O mordomo perguntou malcriado, mais que de costume.
— A sua mãe não lhe ensinou que é feio falar com uma pessoa sem olhar para ela? — Bernard chegou a engolir em seco de tanta raiva, não estava para brincadeiras naquele momento. Respirou fundo na intenção de dizer pelo menos uma meia dúzia de desaforos para o patrão, no entanto, calou-se.
— O que foi, mordomo abusado, perdeu a fala? — A voz do Lorde saiu estranhamente divertida, mas Bernard estava abobalhado demais olhando para ele que estava de barba aparada, cabelo penteado em um rabo de cavalo bem preso na altura da nuca e as roupas tradicionais de um Lorde de verdade. Casaco azul escuro com abotoaduras de ouro, sobre uma camisa branca de mangas longas de seda italiana. Calça de tecido preto e botas escuras até a altura dos joelhos, da mesma forma que costumava ser trajar-se há muitos anos atrás.
— O Senhor vai sair? — Perguntou Bernard gaguejando, sem acreditar no que estava vendo.
— Irei ver com os meus próprios olhos se o trabalho dessa forasteira é mesmo tão bom como você disse ontem, depois darei uma volta pelo Castelo para tomar um pouco de sol. — Exclamou o Lorde calmamente.
— O nome dela é Berenyce, Senhor! BERENYCE! E ela pediu demissão ontem, depois da forma gentil com que o Senhor a tratou. Caso queira se desculpar e implorar para que ela volte, ela mora próximo à entrada do povoado, no bosque aos pés da colina. — Ajeitou a gola do casaco do Lorde, dando três tapinhas sobre ela. Deixando o seu recado discretamente.
— Não abuse da minha boa vontade, Bernard! Se ela quis embora, e volte para o mesmo lugar de onde veio e não apareça por aqui nunca mais. Contrate outra pessoa para colocar no lugar dela, esse tipo de serviço não foi feito para mulheres! — Semicerrou os olhos sendo bem claro. E saiu caminhando com a postura elegante de um nobre em direção a porta, mas ainda deu tempo de ouvir mais um desaforo do mordomo.
— Cuidado para não morder a própria língua, Senhor! Alguma coisa me diz que ela estará de volta mais breve do que o Senhor imagina. — Sentou-se à mesa novamente e voltou a tomar o seu café, mas agora com um sorriso triunfante no rosto.
Lorde Willian sentiu o aroma gostoso das flores adentrar suas narinas assim que colocou os pés do lado de fora, do mesmo jeito que sentia todos os dias quando Luíza era viva. Se soubesse que a sensação seria essa, teria contratado alguém para cuidar do jardim antes, há muito tempo. Teve ainda mais certeza disso quando colocou os olhos sobre a imensidão de flores de todas as cores e espécies. Era a primeira vez que os botões se abriam como se fosse para recepcionar a visita dele naquela área do Castelo depois de anos. O céu naquele dia estava nublado, com pequenas gotículas de chuva caindo, como se até as nuvens estivessem chorando a partida de Berenyce. Tentou não pensar nela naquele momento, já que passou a noite com a imagem do sorriso dela o atormentando. Caminhando pelo jardim notou como ela era cuidadosa com tudo nos mínimos detalhes. Ele viu além do belo gramado verdinho, que a mesma cultivou com o maior zelo do mundo, vasos grandes de barro que abrigavam a trepadeira de ervilhas-de-cheiro que subia por uma estrutura armada em formato de pirâmide, uma gamela de barro com ervas, onde ele reconheceu manjericão, alecrim e salsinha lisa. Mas foi atenciosa o suficiente para usar apenas a área próxima à cozinha para isso, de tal modo que a frente do jardim, que embeleza a parte frontal do Castelo ficasse livre para as flores mais belas e cheirosas, que perfumavam o ar. Nem Luíza tinha tido essa ideia. Realmente tinha que admitir que a jovem era boa no que fazia. O Lorde ficou encantado com tudo o que vira, sentindo-se obrigado a colher a rosa vermelha mais linda que viu e caminhar em volta de todo o Castelo segurando- a e aspirando o seu perfume, tinha o mesmo aroma do Anjo Negro. Cumprimentava a todos que vira pelo caminho, os quais lhe respondiam com os olhos arregalados por estarem vendo o Fantasma de Buckingham em carne e osso. Ainda passou pelo o estábulo para ver Majestoso que estava cabisbaixo deitado no chão.
— O que você tem parceiro? — Perguntou Willian inclinando-se para alisar a crina do animal que relinchou baixinho olhando para ele com os olhos entristecidos.
— Ele está sentindo falta da menina Berenyce e da gatinha Magui! Como o Senhor não tem feito as caminhadas noturnas e quase não veio vê-lo nos últimos meses, as duas eram as únicas visitas frequentes que ele tinha. — Disse o velho Emanuel, responsável por cuidar dos estábulos por décadas.
— Pois espero que ele aprenda a viver sem elas, porque as duas não pisam mais nesse Castelo. — Respondeu enciumado. Como podia, Majestoso, que não deixava ser tocado por ninguém além dele, estar sentindo falta de um estranha que mal conhecia.
Os dias se passaram e outro agrônomo fora contratado para o lugar de Berenyce. Mas de nada adiantou, as flores do jardim estavam murchando a cada dia mais e ninguém sabia ao certo o porquê. Lorde Willian ficara arrasado com isso, pois quando enfim resolveu voltar aos poucos a interagir com o mundo lá fora, tudo estava desmoronando diante de seus olhos como um castelo de areia. A única flor que, curiosamente, permanecia intacta era a rosa que o Lorde colhera no dia que saiu para caminhar em volta do Castelo e que colocou em um pequeno jarro de vidro sobre o criado mudo, ao lado de sua cama. Sem mais alternativas, fez a única coisa que podia fazer diante de tal situação. Preparou-se e foi ao estábulo buscar seu animal de estimação.
— Levante-se Majestoso, temos que ir em um lugar. — Não precisou citar nomes nem nada, o cavalo prontamente levantou-se do chão com a sua postura elegante todo animado, fervoroso, parecendo adivinhar o que aconteceria em seguida.
Enquanto isso Berenyce estava triste sentada no segundo grau da escada que dava para o segundo andar da casa. A tia tinha ido trabalhar e ela iria passar mais um dia sem nada para fazer, sentia muita falta de trabalhar no Castelo e de tudo que existia lá, principalmente do Lorde. Mesmo ele sendo sempre grosso com ela nas poucas vezes que a vira, mas Berenyce sabia que existia um bom homem debaixo daquela armadura gelada. Queria poder conhecê-lo melhor, dizer a ele que a vida pode ser bela sim, mesmo havendo vários motivos para que fosse triste. Agora, infelizmente, nunca mais iria vê-lo e isso doía mais do que deveria. Fora tirada dos seus devaneios por batidas firmes e insistentes na porta. Correu preocupada para atender já que não conhecia quase ninguém e receber visitas era praticamente um milagre. Teve medo de ser algum problema com a tia Irene.
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Lorde Willian (um conto de amor) Completo.
RomanceLorde William Walquer era um homem bondoso e respeitável. Até perder a mulher e o filho de apenas cinco anos em um trágico acidente de carro. Desde então vive uma vida solitária e amarga, escondido atrás dos muros do seu sombrio castelo, no povoado...