No dia do tal baile, de fato, Berenyce era a jovem mais linda da festa. Estava deslumbrante dentro de um vestido branco de renda colado ao corpo valorizando bem as curvas da cintura. Era longo com uma pequena calda arrastando no chão, salpicado com pedrinhas brilhantes que pareciam diamantes reluzindo sob a luz do luar. O decote era em V, de mangas três quartos. O cabelo preso com cachos soltos enfeitados com pequenas flores brancas, muito bem colocadas. Para completar nos pés sapatos de cristal, como os da Cinderela. Presente de Bernard, que fora visitá-la e disse que só era para usá-los em uma ocasião especial, e aquela, certamente, era. A maquiagem era leve, pouca sombra e um leve batom rosa claro. Um anjo de olhar triste.
— Obrigada por te vindo comigo, querida! Vamos nos divertir muito! — Irene percebeu que a sobrinha ficara nervosa assim que colocaram os pés no salão onde seria o baile e tentou tranquilizá-la. Ela usava um vestido longo dourado que valoriza bastante as suas curvas fartas, o decote era em V bastante chamativo, o cabelo em um coque alto muito bem feito. A tia de Berenyce parecia uma rainha, pelo menos esse fora o pensamento que o Rei Arthur, que vivia implicando com ela na escola onde lecionava, teve assim que colocou os olhos nela. Quase engasgou com o vinho, a presença dela o deixou meio atordoado.
— Porque todos estão olhando para nós, tia? – Perguntou Berê se encolhendo toda atrás de Irene, incomodada.
— Deve ser porque somos as únicas pessoas negras presentes, filha. Os outros têm a estranha mania de julgar aqueles que são diferentes da maioria. Mas não se preocupe, somos convidadas e temos todo o direito de estarmos aqui. — Abraçou a sobrinha, depositando um beijo em sua testa. Na verdade, não era bem isso e as duas no fundo sabiam bem. Conheciam aquele tipo de olhar que dizia "o que essa leprosa está fazendo no meio de nós? " ou "Aqui não é o lugar dela!" Mas como todos no povoado ficaram sabendo, se os únicos que tinham conhecimento sobre o assunto era o Lorde Willian e o médico que Irene chamou para atender a sobrinha no dia que adoecera? Aí que residia o problema. Irene pediu descrição ao médico sobre o assunto, mas a primeira coisa que o Dr. Aristóteles fez quando chegou em casa foi comentar com a esposa, pediu a ela para tomar cuidado com as crianças perto das forasteiras, pois trouxerem com elas uma doença contagiosa. Como se um homem estudado como ele não soubesse que AIDS não se pega assim tão fácil. Mas o preconceito é capaz de tornar até mesmo o homem mais esperto do mundo em um tolo. Então, a mulher fez o favor de alertar as amigas, que alertaram outros amigos e os vizinhos e assim até que o Condado todo ficasse sabendo.
— Boa noite Irene, como vai? —Perguntou Jherod, um jovem professor que trabalhava com ela. Sempre a tratou bem, com respeito. Sua postura era alinhada e tinha os olhos claros. O terno azul marinho era moderno e elegante, não combinava tem um pouco com as vestes do demais que moravam no pequeno Condado.
— Bem, Jherod e você? — Sorriu para ele, que beijou sua mão.
— Melhor agora que chegaram. Não vai me apresentar essa moça linda que veio com você? — O rapaz olhou interessado para Berenyce, que ficou envergonhada no mesmo momento.
— Essa é a minha sobrinha Berenyce. É bom que conheça gente da idade dela. — Empurrou-a para mais perto dele. A moça tinha o olhar baixo e as bochechas queimando de vergonha.
— Sou Jherod, prazer em conhecê-la! – Estendeu a mão para cumprimentá-la, oferecendo-lhe o seu melhor sorriso.
— Não ouse tocar nessa leprosa, Jherod! Sabia que isso não tem cura, meu filho? Dizem que é doença de negros, de gente suja que não gosta de tomar banho. — Irene não acreditou que tinha ouvido aquilo, se todos não estivessem olhando para elas com nojo pensaria que estava delirando.
— Pelo amor de Deus, mamãe, cale a boca! – Exclamou o rapaz morto de vergonha.
— Há doença pior do que a AIDS senhora, como a falta de respeito ao próximo. Sou soro positivo sim e não tenho vergonha que todos saibam disso. — Berenyce empinou o peito e ergueu a cabeça.
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Lorde Willian (um conto de amor) Completo.
RomansaLorde William Walquer era um homem bondoso e respeitável. Até perder a mulher e o filho de apenas cinco anos em um trágico acidente de carro. Desde então vive uma vida solitária e amarga, escondido atrás dos muros do seu sombrio castelo, no povoado...