Capítulo sem título 3

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                                                              "Príncipe da noite."

          Pouco tempo depois, as duas mais novas moradoras do pequeno Povoado de Buckingham, ou melhor três, já estavam acomodadas na nova casa. Com elas veio Magui, o filhote de gato que Berê achou na rua uma semana antes da mudança. O felino era uma verdadeira graça, todo malhado nos tons de preto com alaranjado, os olhinhos puxados extremamente azuis escuros completava a carinha de levada que a pequenina tinha. As novatas estavam encantadas com o amistoso chalé que de agora em diante seria seu novo lar. Irene ficou admirada com a beleza do lugar, os móveis todos amadeirados num tom escuro bem profundo, combinavam perfeitamente com o macio sofá bege no meio da sala em frente a uma lareira rústica. Quem construiu o lugar conhecia bem o significado da palavra conforto. Fez questão de deixar a sobrinha escolher o quarto que queria se instalar. Berenyce, que foi muito bem educada por ela, escolheu o quarto menor. Entendia que a tia precisaria de um espaço maior para guardar os livros e outros materiais que usava para lecionar. Também a jovem não era o tipo de ficar enfiada dentro de um quarto seja qual tamanho fosse, o seu elo estava em meio a vegetação, pisando descalça na terra e brincando com os animais.

Organizaram tudo o que puderam até altas horas da noite e antes de se recolherem Berenyce preparou um pequeno recipiente com leite e outro com ração para deixar ao lado do seu bichano, caso mais tarde sentisse fome. Foi tomada por um imenso desespero quando percebeu que a gatinha não se encontrava em lugar nenhum. Preocupada com ela e em onde poderia ter se camuflado, vestiu em cima do pijama branco de bolinhas cor de rosa, o primeiro casaco que encontrou pela frente e saiu sem rumo para procurá-la apenas na companhia da fraca luz que emitia de sua lanterna vermelha, presente do Padre Bento quando menina.

— Magui da mamãe, vem aqui agora! — A jovem chamava pelo bicho como se fosse uma criança. Passava da meia noite, o frio que fazia só não era maior do que o medo dela não encontrar a gata. Nunca teve receio de andar no escuro, ao contrário, o mistério dele lhe fascinava, ficava imaginando quantos segredos a escuridão guardava consigo. Gostava da noite com a mesma intensidade que apreciava a beleza do dia. Para a jovem as duas fases criadas por Deus foram feitas para serem apreciadas de maneiras diferentes, pois cada uma tinha a sua beleza, principalmente um encanto próprio. Berê fazia questão de assistir ao pôr do Sol sempre que podia, achava perfeita a junção dele com o céu. Era como se a natureza contasse uma história de um amor quase impossível entre dois seres completamente diferentes, mas quando se encontravam tornavam-se perfeitos um para o outro. O crepúsculo era a maior prova disso...

Andando pelo vale a jovem ficou em um estágio hipnótico ao se deparar com a figura mais inusitada que vira em toda sua humilde vida. Não tinha visto muitas coisas incríveis, mas de fato aquela, com certeza, se tratava de uma.

"Um verdadeiro Príncipe..." — Pensou Berenyce ao ver um cavalo tão negro como aquela noite escura e fria, correndo na velocidade da luz. O que realmente lhe chamou a atenção foi o homem que montava o belo animal, sua postura era ereta e para lá de elegante, a capa que escondia aquele ser misterioso apenas o deixava mais irresistivelmente sedutor, ela não sabia ao certo o significado da palavra sedução, mas foi o que veio à sua cabeça no momento.

"Que coisa linda..." — Sussurrou a moça baixinho escondida atrás de um arbusto olhando o Lorde andando sobre a ponte com o animal milimetricamente caminhando com leveza atrás do dono.

Aquela imagem lhe causou uma sensação fora do comum. Quando William tirou o capuz, ela levou a mão a boca de tanta admiração com a beleza do homem misterioso. Berenyce não era boba, logo notou que alguma coisa de muito errada acontecia na vida dele, uma tristeza profunda estava gravada em sua alma. O que era visível por fora eram apenas vestígios do que ele carregava por dentro. Refletiu a jovem encantada com o que via. Por um momento o Fantasma olhou na direção onde ela se escondia como se sentisse sua presença ali. Com medo de ser descoberta pelo "desconhecido" saiu correndo de volta para sua casa e para sua alegria, quando chegou, Magui estava tranquilamente sentada na varanda como se estivesse esperando pela dona.

Lorde Willian (um conto de amor) Completo.Onde histórias criam vida. Descubra agora