Cap.10 - Clark

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Quando eu tinha treze anos, eu e meu irmão fazíamos todo o tipo de brincadeiras, éramos uns verdadeiros pestes para falar a verdade, e antigamente nós costumávamos passar as férias de outono em uma casa de campo que tínhamos na Califórnia, me recordo que lá havia um rio que diziam que era habitado por um crocodilo, e Jonathan e eu - é claro - nunca dispensavamos um desafio. Lembro que escalamos uma enorme árvore que ficava logo acima do rio, meu irmão me convenceu a ir primeiro, óbvio. Não precisou de muito. Todos sabiam que para me encorajar a fazer algo bastava dizer "eu duvido". E então eu pulei. Meu salto teria sido lendário se eu não tivesse batido a bunda em um galho e rasgado meu short favorito, ainda assim, isso não diminuiu a grandeza da queda. Eu recordo exatamente da sensação; era como se eu estivesse flutuando no espaço e ao mesmo tempo caindo de um prédio, era imensurável e devastador, e eu nunca senti meu estômago se contorcer tanto, agora ver os olhos, a boca, o nariz, o cabelo, ou até mesmo sentir o cheiro de Kent Parker estava deixando essa sensação de magnitude no chinelo.

- Senhor Nicholls, esse... homem está te incomodando? - a voz do senhor à minha frente me trouxe de volta para o presente, e com isso, me trouxe de volta para Kent e suas loucuras.

- É claro que não estou incomodando. - Kent se aproximou, ajustando meu terno com delicadeza excessiva.

Semicerrei os olhos.

- Senhor? - o homem insistiu.

- Eu preciso ter um papo à sós com você, florzinho. - Kent acariciou meu peito mansamente, depois se virou para o gerente e murmurou: - Ele adora quando eu o chamo assim.

- Só me diz de uma vez o que você quer. - rosnei entre dentes. Ele sorriu abertamente e esgueirou as mãos pelo meu peito, afastando o terno. O tecido caiu no chão com um farfalhar.

- Sempre tão mandão, Nicholls. - suas mãos finas agarraram minha gravata. - Não é tão arrogante assim na cama.

Porcaria. Por inúmeras razões - que eu poderia listar agora mesmo - eu deveria tirar as mãos ágeis de Kent de mim, mas simplesmente não conseguia. Eu sentia como se meu corpo todo estivesse formigando, estava experimentando uma confusão nova, uma sensação nova... sensação de plenitude. Uma emoção que me arrastava como uma onda forte. Eu não poderia deixar Kent Parker me domar daquele jeito. Que diabos estava acontecendo comigo?

- O que está fazendo? - flexionei a mandíbula com tanta força que temi que a quebrasse. Meu peito arfava, apesar de meu rosto continuar neutro. Kent sorriu um sorriso miúdo e meu coração deu uma batida à menos.

- Você ainda vai me agradecer por isso, babaca. - resmungou tão baixo que eu quase não consegui escutar, mas depois ergueu os olhos castanhos calmamente e eu percebi coisas que nunca pensei que notaria. Kent tinha pintas; no queixo, acima da sobrancelha, na testa - quase escondida pelos cabelos. Seu nariz era um pouco mais redondo do que parecia, mas era... perfeito. Merda, quando eu comecei a reparar em narizes?

- Kent?

Ele suspirou.

- Você; - apontou com o queixo para o gerente. - Vista o terno dele e vá para dentro quando eu der o sinal.

- O que? - o homem gaguejou e Kent revirou os olhos. - Que sinal?

- Esse.

Era como se alguém tivesse jogado uma granada no meio do restaurante. Quando Kent Parker encostou os lábios nos meus, eu senti como se estivesse vivenciado uma explosão, não aquelas cinematográficas, mas sim aquelas de verdade, aquelas que te trazem um arrepio na nuca, aquelas que te fazem se perguntar o que demônios estava fazendo na terra sem aquele beijo? Como porcaria de demônios eu tinha sobrevivido anos sem essa sensação? E como se compartilhasse o mesmo pensamento que eu, Kent resmungou.

Sugar (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora