Jack | Jackson Wang

006

 You, once again.

Amaya

Arrasto os meus pés pelo chão alcatifado da biblioteca, tentando ao máximo manter os olhos abertos. Todo o peso do meu corpo parecia estar mais notável, sentia-o todo ao mover-me no meio de tantos corredores alcatifados. Quatro horas de sono, claramente, não eram suficientes para manter o meu cérebro nos seus níveis de funcionalidade normais. A meio de vários suspiros prolongados, breves faltas de atenção e alguns olhares de lado, consigo certificar-me de que chego a uma das mesas renovadas do local antes de dormir ali mesmo.

Não lhes achava muita piada. Às mesas minimalistas, todas da mesma cor, com aquele brilho de frescura recentemente adquirida. Sempre preferi as antigas, escuras e gastas. Tinham a sua magia, claramente. Possuíam aquele cheiro característico da madeira, davam uma outra aura à biblioteca. Tudo era perfeitamente limpo e claro agora. Minimalista. Aliás, toda a cidade parecia ser assim. Era o que era, talvez eu é que fosse esquisita demais para este lugar. Adorava isto, mesmo assim.

Após pousar as minhas coisas em cima da mesa, passei as mãos pela cara num movimento lento, para me acordar um pouco. Trabalhar, Amaya.

- Certo. – murmurei, para mim mesma. Foquei a minha atenção nos papéis rabiscados, cabeça pousada numa mão. Os cenários para a peça estavam todos prontos. Quero dizer, estavam alguma coisa, tentei o meu melhor. Ao menos isso. Assenti, arrumando os desenhos depois, agora de mãos numa das obras clássicas que teria que estudar. A Paixão de Jane Eyre. É uma obra de tudo interessante, mas mesmo assim sendo, não consigo entender como vou pegar nisso e fazer disto uma "apresentação revolucionária", palavras do professor. Suspiro. Penso sempre no ar que devo dar às pessoas, provavelmente de maluquinha, que fica a falar sozinha e a gesticular para o ar. Um pequeno sorriso curva-se no meu rosto, só faço figuras, realmente. Para ser honesta, nada disso me afetava, estava crescida demais para me importar com coisas tão miseráveis como os inundáveis caprichos dos outros. É verdade o que dizem sobre crescer e aprender.

As vibrações do meu telemóvel sobre a mesa despertam a minha atenção, já semicerrava os olhos para tentar ver o que era. Bem feito da minha parte não trazer nem óculos nem lentes comigo. Percebi ser uma mensagem de Lara, aproximei o objeto do meu rosto para ver.

Lara: Alô alô, vais à aula hoje?

O meu semblante franziu, logo juntei uma resposta.

You: Como assim aula hoje, Lara? A aula de piano é amanhã...

Posso jurar que o meu sistema nervoso não estava preparado para o susto que estava prestes a levar ao ler a mensagem de resposta, que demorara menos de segundos para aparecer no meu ecrã.

Lara: Maya??? Em que planeta vives?

Lara: A aula é hoje, sim!

Lara: Daqui a dez minutos, mais precisamente?

Perdi a respiração, estupefacta por, mais uma vez me esquecer de algo. Isto é uma rotina agora. A biblioteca ficava a uma distância absurda do campus, dez minutos não davam nem para descer as escadas do edifício. Socorro.

Lara: AMAYA FAY!!

You: Estou a ir!! Não demoro nada!

Pânico é definitivamente pouco para o que se passava na minha cabeça. Estiquei-me sobre a mesa, numa posição absurda, colecionei todos os meus pertences, enfiando-os dentro da minha mala da melhor forma possível. Já estava ofegante e ainda não começara a correr sequer.