Capítulo 5 - parte 3 (não revisado)

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A quantidade de naves inimigas que havia naquele momento não devia ser muito superior a cinquenta mil unidades quando Daniel tentou uma última vez evitar a ação final, mas sem sucesso.

– Cavalo de Tróia pronto, senhor – informou o engenheiro chefe. – É só lançar.

– Esse é o nome mais adequado para o que vamos fazer, senhor Kami, infelizmente – disse o Daniel, contrariado. – Coronel aproxime-se mais. Vamos soltar o presente sobre o palácio.

A esfera de mil e trezentos metros finalmente começou a se deslocar, mas ainda voando devagar porque Daniel ansiava que eles desistissem nem que fosse no último segundo.

A frotas solariana e leônida atacavam sem dificuldades e destruíam ou inutilizavam todas as naves que podiam. A Dani avançava e simplesmente atropelava os cilindros que se metessem no seu caminho, escoltada por dois dos grupos de ataque.

Quando estava perto da atmosfera do planeta, uma salva maciça atingiu-os e Nobuntu disse:

– Canhões de superfície, senhor. Muito mais potentes que as naves. Os campos caíram quarenta por cento só com esta primeira salva.

– Artilharia...

– Já, já, senhor – disse Zulu.

Vários raios saíram da nave e atingiram o solo em pontos específicos, eliminando o fogo de superfície sem dificuldades e fazendo com que em vários lugares perto do palácio o concreto entrasse em ebulição e começasse a jorrar magma, de certa forma já iniciando a tão indesejada destruição.

– Feito, senhor – disse Zulu. – São mais fortes, mas estão estáticos. Nem chega a ter graça lutar com essa gente. Acho que acabamos de criar uns trinta vulcões na superfície.

– Bom trabalho, artilharia – elogiou Daniel.

A Dani voltou a avançar, sempre devagar e atropelando as últimas naves que tentavam defender o seu mundo. No espaço, poucas eram as unidades que ainda combatiam quando o almirante viu em uma tela a nave capitânia do inimigo começar a acelerar.

– Zulu, perto do polo sul está a nave capitânia. Tente inutilizá-la sem a destruir.

– Sim, Almirante – disse ele, enquanto um raio saía e acertava a nave nos motores.

– Bom trabalho, Zulu – afirmou Daniel. – Atenção, Vega, por favor, interceptem e capturem a nava capitânia que está no polo sul, começando a perder altitude.

– Certo, Almirante – disse a voz retumbante do avô. – Vamos lá nuinha gente, vamos agarrar esses batráquios.

O avanço pela estratosfera continuou sem mais resistência e aproximavam-se da superfície. A cem quilômetros, Daniel suspirou fundo e disse:

– Liberar o Cavalo de Troia e subir com aceleração total.

― ☼ ―

A pequena naveta começou a voar, carregando a morte junto. O piloto que a controlava fazia com que descesse em um voo irregular de forma a não ser atingida no caminho, a menos que estivesse perto do solo. Quando faltavam quinhentos metros, o controle da nave foi desligado e ela tombou como uma pedra.

– Colocar filtros de luz nas câmeras – ordenou Daniel. – Vai empalidecer o sol.

A pequena naveta desceu a pico em direção ao solo. Quando ela batesse, na velocidade em que estava, os campos de contenção cederiam e a antimatéria seria liberada de uma só vez, espalhando-se e aniquilando-se.

Na nave, todos os painéis ficaram negros e, após quatro segundos, brilharam de forma intensa.

― ☼ ―

– Pelas barbas da Centúria! Olhem só o planeta – disse Ifung, impressionado. – A rosta planetária está rompendo!

– Acabou – comentou o comandante. – Finalmente, após tantos anos de guerra, chegamos ao fim. Morte aos lagartos.

– Morte aos lagartos – gritaram todos os que estavam na cabine de comando, dando abraços uns nos outros em uma alegria geral que até o almirante acompanhava, embora mais comedido.

– Vamos reagrupar e aguardar os solarianos – ordenou Ifung.

– Sim, Almirante.

– Mantenham a guarnição no rádio. Acho que chamarão em breve para uma conferência. Aproveitem para fazer uma avaliação completa da nave, computar baixas e danos. Quero o relatório completo de cada comandante o quanto antes.

– Sim, Almirante.

― ☼ ―

– Observatório, reporte. – A voz do Daniel estava tão abatida que Nobuntu até se assustou.

– A cidade, no centro da queda, foi toda volatizada por cem quilômetros. O solo a toda à volta está desintegrando. Um vulcão gigantesco forma-se neste momento e o magma é expelido com uma violência terrível. A atmosfera entrou em colapso, senhor. As cinzas já atingiram centenas de quilômetros de altura. Rachaduras nas placas tectônicas estão a afundar grandes porções da superfície enquanto enormes vulcões se...

– Basta – disse, quase gritando. – Nobuntu, vamos reagrupar.

– Sim senhor.

Vendo que foi um pouco brusco com os seus subordinados, ele disse:

– Irmãos, desculpem-me, mas é que me desgosta esta ação. É muito triste ter que destruir um mundo.

– Claro, senhor, nós também não gostamos – respondeu o coronel, falando por todos. No fundo, os seus homens admiraram-no e amaram ainda mais o seu imperador por verem nele um ser humano como outro qualquer. O estigma de uma lenda viva era sempre a distância que isso proporcionava aos subordinados, mas tal coisa jamais acontecia com Daniel que nunca escondeu o seu lado humano.

Sabendo o que ele sentia, a esposa foi até à ponte, aparecendo lá em um pequeno salto de teleportação. Encostou-se a ele e disse, pegando no seu ombro:

– "Está feito, amor. Era preciso. Isto sela uma guerra de centenas de milhares de anos."

– "Eu sei, Dani, mas estou muito agoniado."

– "Vem, precisas de descansar um pouco. Não dormes há muitos dias."

– Coronel. Posicione-se no ponto anterior e aguarde o relatório de todas as naves. Eu vou para o meu camarote. Mande procurar sobreviventes e aprisione tantos lagartos quantos conseguirem.

– Sim, senhor, pode ficar descansado. – O coronel viu o seu imperador de ombros caídos, saindo amparado pela esposa. Sabia o quão difícil foi dar a ordem e ele mesmo não gostou de o fazer, mas o peso de ter destruído um mundo inteiro e aniquilado uma civilização caía exclusivamente nos ombros do Daniel e era perfeitamente compreensível que ele se sentisse assim tão mal. A maior parte dos homens com escrúpulos que ele conheceu não teria a força de vontade suficiente para fazer aquilo, mesmo sabendo que era necessário.

No interior do seu camarote, o Daniel chorava em silêncio. Foi a decisão mais terrível que ele tomou em toda a sua curta vida. Provavelmente, em todas as vidas que viveu. A esposa abraçou-o, carinhosa, até que ele acabou adormecendo tamanho era o cansaço que sentia. Acomodou-o na cama e foi à ponte.

– Coronel – chamou-o de lado. – Ele agora dorme. Está demasiado arrasado com a decisão que tomou, então se puder deixá-lo descansar um pouco eu agradeço. Ele quase não dorme desde a morte do imperador Saturnino.

– Sim, senhora – disse o gigante de ébano. – Fique tranquila. Sei exatamente como ele se sente. A única diferença é que eu não dei a ordem. Mas pode ter a certeza que sentimos o mesmo.

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DB II - Ep10 - O Cerco a TantorOnde histórias criam vida. Descubra agora