A queda

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    Eu abro os olhos e vejo o céu tranquilo de uma tarde de domingo. As árvores dançam guiadas pelo vento leste , que bate suavemente em minha face sonolenta. Meus cabelos são negros, curtos e bagunçados. Meu nome é Brendo e não sei porquê me sinto mal. Alguns me tem como tímido, mas prefiro o termo recluso. É mais correto em meu caso.

      Tenho um irmão chamado Thi. Bem,ele sim é tímido, ou melhor, um tanto quanto inseguro de sí. É a pessoa que sempre está do meu lado, da melhor maneira que pode, é claro.

      Moramos numa vila calma chamada Bela, na região montanhosa de  Nasi. As pessoas de lá são simples e gostam de ajudar umas as outras da melhor maneira que podem. Os mais jovens gostam de calvagar até os bosques nas planícies logo abaixo e eu nunca fiquei em último lugar nas corridas que apostavamos. Mas meu irmão não gostava de calvagar e apenas nos assistia descer.

      —Você está bem,Brendo? Não é hora de dormir,sabia? Venha! Nell está tocando no poço—disse uma voz doce a mim.

       Nive Helia... Seus olhos são de um castanho claro como a luz. Seu sorriso leve me acalma e me atira em sombras profundas; seus cabelos loiros  me envolve em pensamentos tolos. Não intendo como ela consegue me desmontar mesmo sem nenhuma intenção aparente.

       Atravesso  as humildes casas e as simpáticas pessoas e chego ao poço ,onde Nell está tocando com destreza sua flauta. Procuro o rosto  de Nive,mas encontro apenas o rosto quieto de Thi. Mais da Metade da vila está lá, cantando e batendo palmas, seguindo o ritimo alegre da canção de Nell. Ele é um jovem alto e loiro famoso em toda Glories por suas lindas canções.

       Thi chega perto de mim e pergunta timidamente onde eu estava. Digo apenas que estava com um pouco de sono.  Ele desdenha.

       Thi é um sujeito baixo e de muito poucas palavras. As vezes é difícil conversar com ele. Penso que tem medo de tudo e todos. É meu irmão casula. Olhos cor de avelã e cabelos um pouco mais claros que os meus. É um humano à parte.

       Meus olhos insistem em procurar por Nive em todos os cantos. Não posso evitar. É algo involuntário. Persisto até encontra-la sorridente junto aos seus amigos. Não penso em me aproximar. Não faço parte  do circulo de amizade dela. Mas ela leva toda a minha lucidez. As trevas pairam sobre mim e tornam meus delírios alegres em motivo de pesar. Imagino que estou tocando suas mãos, mas a realidade é que  as mãos dela procuram ficar o mais distante... Mas eu não quero que ela domine os meus pensamentos! Eu preciso deixar todas essas idiotices de lado. Preciso ser o que eu tenho de ser! Mas... Eu não sei quem sou.

       Nell tocou até o anoitecer ,fazendo o povo feliz por um momento. Em seguida, comeu em um banquete feito em homenagem a ele, despediu-se e seguiu seu caminho incerto e belo.

       Quanto a Thi e a mim, seguimos até a nossa casa,assim que Nell disse adeus. Thi tem 16 anos e eu tenho 19, mas nós vivemos sozinhos em uma casa humilde de madeira, já que nossos pais morreram quando ainda eramos criancinhas. O povo de  Bela foi quem nos criou e nos educou. Nunca soubemos como os nossos pais morreram, mas, da minha parte, não pretendo descobrir. Não seria capaz de vingar meus pais já que sou fraco, caso se tratasse de um assassinato.E,pelo que nos dizem,nossos pais eram pessoas pacatas. Então, decide viver de tal maneira, sem procurar sofrimento e alimentar angústias. Nós temos um cavalo chamado Cinzento. Ele era um potro quando Chebi, um velho amigo de meus pais, nos deu com um sorriso no rosto. Disse que havia prometido um cavalo ao nosso pai.

       A noite passa rapidamente, trazendo uma manhã cinzenta e fria. Não tenho a mínima vontade de levantar da cama. Ao invés disso, meus pensamentos voltam-se a Nive outra vez. Tento resistir pensando em músicas engraçadas que ouvi outro dia,mas Nive envolve-me em seus braços e caio em devaneios outra vez.

    Thi preparou seu café e já está alimentando o Cinzento. As vezes penso que Thi realmente gosta de trabalhar. Ele nunca me acorda. Como eu havia dito, Thi é um humano à parte.

    Levanto hesitando da cama e me preparo para aparecer de vez. Quando termino de comer o desjejum, vou ajudar Thi com as tarefas,mas ele já está quase terminando tudo. Viro o rosto e vejo Nive andando tranquila e suavemente. Meu peito aperta e meu ânimo cai. Como ela pode me fazer tanto mal?

      Thi percebe e pergunta oque estou sentindo. Eu não o respondo. Meus olhos seguem ela por mais que eu tente evitar. Isto está me destruindo. Queimando dentro mim. Não posso suportar!

       Os passos de Nive vacilam e ela cai com um som surdo. Minha primeira reação é correr em direção a ela. Thi vem logo atrás. O corpo dela está suando frio e sua respiração é bastante ofegante. Eu tenho que fazer algo. Tenho que ajudá-la!

      —Thi, vamos levá-la ao Grimas!  Rápido! Agora!

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