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09:30

Acordei sentindo dor de cabeça. Eu nunca fui de ter enxaqueca, mas agora aquela dorzinha parecia me atormentar. Precisava de remédios. E de um café da manhã também. Eu me sentia como se tivesse ficado a noite toda fora. Me sentei na cama com as cenas de ontem bem gravadas em minha cabeça. Mas o que eu mais me lembrava era daquele 4 terrível, dos socos que troquei, da dor, das palavras de mamãe, e algo que fiquei repensando era a frase: "Qual será a próxima? Eu estou grávida?". Quem me conhecia sabia que eu não era desse tipo. Eu tinha meus erros mas nunca faria isso. Quero dizer, mesmo que gostasse de alguém, mas como não gosto, não vou sair por ai como se não valesse nada.

Mas também me lembrei da garrafa de vinho. As pessoas tinham suas próprias maneiras de afogar as mágoas. Umas eram chorando, (como eu fazia na maioria das vezes) outras eram saindo e no caso da minha mãe, bebendo.

Eu podia me recordar das rugas que surgiam em seu rosto e das olheiras. Era culpa minha. Mas nem tudo. Onde estaria meu pai agora? Estava em outra cidade, disso eu sabia. Eu estava evitando ele, assim como mamãe. Eu não nutria nenhum sentimento por ele. Pelo menos é o que eu acho. Por mais que a mamãe fosse chata as vezes, se eu tivesse de escolher entre salvar mamãe ou salvar papai, eu escolheria a mamãe, porque ela está aqui comigo.

Estava na hora de eu mudar a minha vida. Só que eu precisava de forças. Eu só esperava que mamãe não estivesse tão brava comigo.

Me levantei da cama e fui ao banheiro fazer minhas higienes. Quando joguei um pouco de água no rosto, procurei apagar as más lembranças de ontem. Ao sair do banheiro ajeitei minha cama e dei uma rápida arrumada em meu quarto. E então criei coragem e fui para o andar de baixo. O cheiro dos waffles era incrível. Me sentei em volta do balcão da cozinha e disse um "bom dia" para mamãe que estava de costas para mim virada para o fogão.

Ela se vira, coloca os waffles em um prato, me entrega e pergunta:

-Suco ou café?

-Café, por favor. -Eu digo, pois imaginei que iria precisar.

Ela serve café para mim na minha xícara favorita e se vira novamente para o fogão.

É claro que eu já havia levantado minhas suspeitas. O que eu podia esperar daquele dia?

-O que tá acontecendo? -Pergunto.

-Como?

-Você nunca se lembra de servir café na minha xícara favorita e agora...

-Eu não sabia que era a sua favorita, eu só, servi. -Explica ela calmamente.

Ela então se senta e eu me sinto um pouco desconfortável com o que estava acontecendo.

Levo um majestoso pedaço de waffle a boca e mastigava quando mamãe disse, após dar um gole em seu café.

-Eu precisava falar com você.

Parei de mastigar por um segundo mas logo prossegui. Ao engolir disparei minha pergunta:

-Há algo de errado?

Ela sorri e fala:

-Eu acho até engraçado você perguntar. Porque não ta indo nada bem.

Seus olhos lacrimejam.

-O que aconteceu na sala do diretor? -Pergunto.

-Por quê isso importa?

-Isso importa muito!

-Ele só me disse que vai pensar em algo e puni-la quando as aulas retornarem. -Ela comenta.- Mas não era isso o que eu queria te falar.

-Então o que era? -Pergunto já curiosa.

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