5

44 4 0
                                    

Mãe

*Antes do acidente*

Odiava vê-la assim. A cada passo que ela dava, era mais um degrau que se afastava de mim. Toda vez que eu tentava alargar nosso relacionamento, ela se fechava. Ela pensava que eu não sabia de suas dores mas eu as conhecia muito bem. Eu só não queria ser egoísta o bastante para mantê-la comigo no meio da situação que estou vivendo. Não quero que Ange seja igual a mim. Quero que ela seje melhor. Eu a amo. E doía ver o quanto ela duvidava disso. Eu só queria o seu melhor. E eu sei que ela não quer perdoar Will, mas ele é a melhor saída para ela. Ele tem mais condições e está em situações melhores para cuidar dela. Eu por outro lado me sinto despedaçada. Não quero que ela me veja assim. Não quero que ela me veja despencando. Não quero exigir dela algo que eu não faço.

Ela só ia ficar com Will até tudo melhorar.

Mas eu já não sabia mais o que esperar de Ange. Com a dor que sentia, acabei empurrando algo que estava na bancada da cozinha no chão. Levei as mãos a cabeça chorando. Meu corpo não doía, mas minha alma sim. Precisava me distrair. Me levantei e comecei a ajeitar a cozinha. Eu me sentia melhor sendo útil. Eu precisava dar tempo a Angel. Ela merecia isso. Estava pegando o que eu havia derrubado quando vi Angel passando. Ela havia se arrumado. Aonde ela iria?

Angel

Acordei sentindo um gosto estranho na boca. Minha cabeça latejava e era difícil mover meu corpo. Desde a cabeça até os dedos. Tentei me encostar na parede para analisar o lugar em que eu estava. Com um pouco de esforço eu consegui. Olhei para os lados encontrando um quarto arejado e bem organizado. Descrevendo em detalhes, minha cama estava perto da janela do lado esquerdo, havia um porta do lado direito, um vaso de plantas perto dela, alguns aparelhos, e o que eu mais notei era a luz do sol invadindo o cômodo. Seria outro dia? Ou o mesmo? Eu queria sair dali e ir para casa. Me sentia impotente. Onde estaria mamãe agora? Na sala de espera?

Uma das últimas coisas que me lembro, foi de que um carro bateu em mim. Eu havia sido atropelada. Será que alguma parte do meu corpo pararia de funcionar? O desespero preencheu meu coração e eu comecei a chorar. Até mesmo as lágrimas eram difíceis de cair.

Eu havia brigado com mamãe. Será que com esse acidente ela adiaria a sua ideia de eu ir morar com papai? Eu espero que sim. Mas não me lembro se ela chegou a dizer o dia em que eu iria. Olhei para o lado da minha cama e encontrei uma pequena mesa com alguns papéis grampeados nela. Seria meu exame? O peguei esticando o braço e o trouxe para perto do rosto. Minha visão era um pouco falha mas estava identificando algo. E então, alguém abriu a porta adentrando o lugar.

Era uma moça morena, baixa e um pouco cheinha. Seus cabelos cacheados eram um pouco acima dos ombros e ela usava óculos. Suas roupas eram brancas. Era uma enfermeira.

Ela me fitou com um sorriso e disse:

-Olá.

Deixei os papéis sobre a mesa e respondi:

-Oi.

-Como se sente? -Perguntou logo em seguida.

-Acho que bem.

-Poderia descrever seus sintomas atuais? -Perguntou levando a ponta da caneta a um bloco de papel.

-Hum, algumas dores pelo corpo, principalmente na cabeça.

Ela anotou tudo rapidamente e disse:

-Eu vou te trazer um comprido, já volto.

Sorri em forma de agradecimento e então ela se retirou apressada. Ela parecia animada. Acho que estava tudo bem comigo. Ou isso ou ela era uma atriz incrível. Observei pelo vidro que dava para o corredor do hospital. Havia médicos empurrando cadeiras de rodas, pessoas calmas trabalhando na recepção, e um ar incomum para um hospital. Era mesmo um dia calmo. Ou talvez porque a maioria dos acidentes ocorriam a noite.

Enquanto há vida, há esperança.Onde histórias criam vida. Descubra agora