Capítulo 1

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Quando eu abri a porta a primeira coisa que estranhei foram as luzes todas apagadas. Pensei na possibilidade de uma queda de energia já que Clair (Minha amiga) estar em folga hoje, mas, havia um pequeno feixe de luz passando por debaixo da porta do quarto.

Vagarozamente adentrei no cômodo.
Lá estava ela, deitada de bruços. Seus cabelos louros e ondulados caiam sobre a cama e ela estava às lágrimas.
Pensei ser mais um dos "Seus Garotos" que faziam ela sofrer e cair em lágrimas quase todos os dias. Mas, percebi que era algo mais sério. Eu nunca tinha a visto assim antes, a não ser quando o seu gato Fluffy, morreu. Pobre gatinho.
Ela passou semanas e semanas, um dia após o outro, apenas chorando, sem sequer sair de casa.
Ficou tão pálida quanto um defunto... E era exatamente assim que ela se encontrava agora, se não estiver pior.

Soluçando em meio às lágrimas, tentava enxugar o rosto vermelho, mas, novas lágrimas sempre surgiam.
Virou-se ao perceber minha presença e sentou enxugando as lágrimas.

Andei em sua direção e me sentei a sua frente, encarando-a. Logo a abracei e as lágrimas retornaram.
Percebi que ela estava quente e suas mãos e pés estavam muito frios. Estava com febre alta.

-O que aconteceu?- Perguntei com o rosto em seu cabelo, sentindo o seu perfume.

-Meg, Eu... Estou morrendo!- Ela se separou de mim e olhou em meus olhos.

Aquilo me fez rir. Clair era exagerada, não podia sentir dor de cabeça que já era motivo de pensar que estava com um câncer no cérebro.

Coloquei a mão em sua testa e em seu pescoço ainda com um sorriso no rosto.

-Você está com febre? Enxaqueca?- Falei um pouco irônica.

Ela me olhou confusa. Logo percebi, que eu era a única que estava rindo. Era mais sério do que eu imaginei.

Meu sorriso sumiu dando lugar à uma enorme preocupação.

-Clair... O que houve?- Perguntei passando as mãos em seu rosto.

Vi um papel atrás da mesma e pensei em todas as possibilidades otimistas possíveis, apenas para não pensar o pior.

-O que é isso?- Perguntei pegando o papel um pouco amassado.

-Esse é o resultado do meu exame...- Ela disse enchendo os olhos mais uma vez.

Me recordei. Ela havia feito um exame alguns dias atrás, pois estava sentindo algumas tonturas e logo eu passei os olhos por todo aquele papel.

"Leucemia"

Clair estava com Leucemia. Não dava para acreditar. Era a Clair, a minha melhor amiga que conheço desde sempre. Até ontem, ela estava muito bem, até saiu com uns amigos.
A garota mais sorridente e radiante de todo universo, a mais otimista em todas as situações, estava me dizendo que iria morrer.

Ela me olhava como se esperasse alguma coisa. Uma resposta, comentário, explosão, medo, mas, nada saiu.
Eu não conseguia dizer nada. As palavras estavam presas na minha garganta.
Eu abria a boca, mas... Nenhum som.

-Meg... Eu Pensei e-

-Clair, o que você decidiu?- Eu interrompi.

-Eu não sei... Eu quero fazer o tratamento mas, quando eu penso sobre esse assunto, só vem a minha cabeça que eu só vou estar adiantando a minha mor-

-Não! não! Clair, você não vai morrer! Eu vou estar aqui com você, o tempo todo! Não importa o que aconteça... Entendeu?-

Puxei-a para um abraço e logo nós duas estávamos chorando.
Eu estava tão triste, surpresa, angustiada... Era uma mistura de sentimentos ruins, mas tudo o que eu conseguia fazer naquela hora era chorar.

Eu não podia deixa-la morrer, ela não podia partir e me deixar aqui! O que eu seria sem ela?
A pessoa que me conhecia melhor que ninguém, não podia me deixar.
Pode até soar egoísta, mas, se for por ela, eu sou egoísta de todas as formas possíveis.

Clair me abraçava forte e soluçava entre as lágrimas que continuavam a cair.

-Prometa ficar para sempre comigo...- Ela disse quase inaltível.

-Eu vou cuidar de você! Vamos passar por isso juntas... Eu prometo.-

Ficamos bastante tempo alí, até que Clair segura meus ombros e nos afasta mais uma vez.

-Eu queria... Queria fazer uma coisa!-

-Que Tipo de coisa?-

-Caso esse seja o meu fim-

-Já falei para não pensar nessa possibilidade!-

-Me escuta!- Insistiu - Como eu ia dizendo, se esse for meu fim, quero fazer todas as coisas que eu nunca fiz!- Ela falou me olhando como se esperasse algum tipo de aprovação.

-Perder a virgindade está dentro da lista?-

Meu comentário fez com que nós rissemos.

-Coisas realmente importantes! Como, Fazer loucuras inimagináveis!- Ela disse empolgada.

-Como?-

-Ah sei lá... Tirar as roupas em uma praia e correr como se só houvessemos nós duas no mundo...-

Nós rimos.

Era incrível sua capacidade de esquecer problemas rapidamente, mas o que poderia fazer? Aquele era o seu jeito desde sempre.

Quando éramos pequenas, Quebramos um vaso caro do meu tio avô. Ainda lembro das palavras dela.

"Vamos aproveitar o quanto pudermos, porque quando ele descobrir não vai dar boa coisa... Que tal esconde-esconde?"

Éramos crianças levadas, que nem sabíamos o que eram problemas de verdade.

-Desde quando "Tirar as roupas e sair correndo feito loucas" é importante?- Perguntei irônica crusando os braços.

-Quis dizer loucuras extremas que só podem ser vividas uma vez!-

-Eu entendi, estava apenas brincando com você... Mas até que correr nuas na praia não seria má ideia-

Rimos mais uma vez.

-Você é uma boba!-

Até o Último SuspiroOnde histórias criam vida. Descubra agora