Capítulo 4

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Eu retornei todas as ligações de Clair, mas ela não me atendia de forma alguma. Eu estava mais preocupada ainda.

Clair nunca havia me ligado tanto daquela forma, por nada.

Até que ela atendeu.

-Clair? O que foi? O que aconteceu?-

-Megan?! Graças a Deus!- A voz masculina soou desesperada do outro lado da linha.

-Thom? Porque está com o celular da Clair e... Porque me ligou tantas vezes?-

Ele não disse nada e o silêncio tomou conta dalí.

-Thom?-

-Megan é a Clair, ela... ela não, ela...-

Ele tropeçou nas palavras e se perdeu enquanto falava, deixando tudo muito mais confuso do que já estava.

Havia algo errado e era com Clair.

-O que houve com Clair?- Elevei meu  tom de voz.

-Ela não está bem! Eu trouxe ela para o hospital e os médicos pediram para eu esperar do lado de fora! Megan, por favor, estou desesperado!-

Desta vez nem gagueijou, mas falou tão rápido que foi quase incompreensível.

-Estou a caminho!-

Eu desliguei.

Liguei o carro e dirigi o mais rápido que eu conseguia. Não me importava com sinais, multas de excesso de velocidade ou qualquer coisa do tipo. Eu simplesmente ignorei todo o mundo ao meu redor. Nada era mais importante do que Clair agora.

Quando eu cheguei quase gritei com a recepcionista e a sua lerdeza encarnada na alma.

Até que eu consegui o número do quarto e a autorização que precisava para entrar no mesmo. Acabei contando uma mentirinha já que pessoas que não são familiares não podem entrar.

Eu me apressei diante dos corredores, olhava para todas as portas e não via o número do seu quarto.

Encontrei.

Thom estava sentado em um banco ao lado. Ele mencionou se levantar para falar comigo, mas eu passei direto.

Abri aquela porta com todas as minhas forças e lá estava ela. Deitada. Como um defunto. Tão pálida.
Ela estava dormindo, usava algumas sondas e parecia tão mais magra do que o normal naquela roupa de hospital.

Me ajoelhei diante da cama e apenas a observei.
Ela abriu os olhos e apenas me olhou.

-Achei que você fosse me deixar aqui sozinha...- Ela sorriu

-Eu nunca te deixaria, mas, e você? Você vai me deixar?-

-Eu não vou te deixar... Vou estar sempre aqui com você, para o que precisar.

-Promete?-

-Eu prometo! Vou estar sempre aqui- Ela pegou em minha mão e levou até meu próprio peito. - Até o fim-

Aquilo foi o limite.

Eu soltei as lágrimas que estava segurando até agora. Eu não queria chorar. Não em sua frente.
Eu queria ser tão forte quanto você, ou pelo menos tentar ser, mas eu não consegui.

-Megan, não quero que chore!- Ela colocou a mão no meu rosto.

Aquilo foi o suficiente para eu entender o que se passava alí. Aquele era o momento. O momento em que eu diria adeus para uma das pessoas mais importantes da minha vida.

-Eu sei que pode ser difícil, mas você tem que aceitar!-

Eu só sabia balançar a cabeça enquanto chorava negativamente. Eu não queria que ela se fosse, ela não podia, mas, ela ia me deixar.

Ela sorriu.

Como ela podia sorrir naquela situação?

-Vou estar com você! Sempre que quiser, vou estar aqui com você... Pra sempre! Eu não vou te deixar! Eu vou melhorar e quando eu sair daqui, vamos fazer mais desafios! Vou encher sua paciência e nós vamos viajar por todo o mundo juntas!- Ela fez um gesto enquanto falava, como se imaginasse todos os países possíveis.- Você vai comigo, não é?-

Eu confirmei ainda chorando.

-Sim Clair... Vou junto com você até o fim do mundo!-

Mais um sorriso.

Aquilo estava me destruíndo por dentro. Apertava totalmente. Doía muito.
Eu odiava despedidas, mas aquela estava sendo a pior de todas. Dizer adeus era como levar uma flechada que doeria bastante, até eu ter coragem o suficiente para arranca-la dalí. Tal ato faria sangrar e depois de algum tempo, com alguns cuidados, cicatrizaria. A cicatriz ficaria alí, marcada e todas as vezes que eu olhasse para ela, iria me lembrar da dor que havia sentido daquele momento.

Ela me estendeu uma coisa brilhante. Era o colar, com pingente de lua que ela sempre usava.
Segurei com força.

-Quero que fique com ele...- Ela estava com a respiração um pouco falha.

Eu assenti.

-Prometa que não vai sair daqui antes da hora e... Prometa que não vai me esquecer!-

Eu a abracei.

-Eu nunca vou te esquecer... Nunca!-

Ela me abraçou mais forte e soltou um suspiro. Senti seu corpo amolecer e pesar em meus braços.

Eu ouvi um barulho alto. Era a máquina. Ela não captava mais seus batimentos cardíacos.

Eu comecei a chorar mais ainda. As lágrimas já estavam caindo por conta própria e eu já não tinha controle em mim mesma.

Os médicos entraram e Thom estava me olhando do outro lado da porta. Ele parou e ficou em choque, como se ainda não acreditasse o que havia acontecido. Até que ele começou a chorar.

Eu não ia aguentar ficar alí. Não mais.

Eu corri até a saída daquele hospital. Eu não queria ver. Eu não queria ver mais nada, se eu pudesse, morreria também.

Me sentei na calçada e olhei para cima, onde eu pude ver a lua mais brilhante que nunca. Olhei para o colar e derramei a última lágrima.
Estava doendo tanto que eu nem conseguia chorar mais.

Ela havia me deixado e não havia levado tudo o que pertencia a ela. Deixou saudade e dor. Deixou tudo o que eu não queria ter agora.

Aquele havia sido o nosso último momento, nosso último segundo, último presente, último abraço.

Seria estranho, porque amanhã eu iria acordar e não iria ver a minha melhor amiga na cama ao lado. Não veria ela ansiosa para ver Thomas mais uma vez, não veria ela dizendo o quanto eu sou boba, não teria que aguentar os choros idiotas por culpa dos garotos idiotas, não veria Ela, nunca mais. Eu nunca mais teria aquilo pra mim.

Eu havia ficado alí com ela, mas acho que quebrei uma promessa. Eu deveria ficar alí com Ela, ao seu lado, até que fosse levada, mas eu não consegui.

Eu só fiquei alí chorando ao seu lado, Não querendo aceitar, não consegui nem dizer o que eu queria antes que ela se fosse, mas... Eu havia ficado alí.

Até o último suspiro

Até o Último SuspiroOnde histórias criam vida. Descubra agora