Prólogo- O fim

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Notas da autora: 

Essa é uma historia que eu começei quando tinha 15 anos, mas decidi reescrever agora. Mudou bastante, mas a "alma" continua a mesma. Bem, espero que vocês possam gostar. E claro, se gostarem ou não, comentem ou me mandem mensagem para dar opiniões. 

Obrigada pela leitura!!

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O som das gotas caindo nos guarda-chuva negros me envolvem por inteira, me impedindo de escutar o que o homem diz. Ele continua falando, alguns acenam a cabeça para o que ele diz, outros simplesmente olham para baixo, envoltos em seus próprios pensamentos. Não sei como eu devo estar parecendo agora. Minha face esta adormecida, não sei se por causa do frio ou das lagrimas. Lagrimas? Estou chorando? Levo a minha mão a minha cara, e sinto gotas. Percebo que não estou debaixo de um guarda-chuva e continuo não sabendo.

Alex segura minha mão como se eu fosse fugir. Queria pedir para que não o fizesse tão forte, mas sei que não tenho forças agora para pronunciar algo. Me puxando para ainda mais perto, ele me abraça. Não retribuo. Ele esconde meu rosto no seu peito e entendo que ele não quer que eu veja. Mas eu quero ver.

Eu quero vê-lo. Assim, me desvencilho de sua pegada.

Ele não está sorrindo. Ele não está fazendo nada. Acho engraçado como alguém como ele pode estar tão quieto. Tão sereno. Não é de maneira alguma de seu feitio. Sinto que a qualquer momento ele poderia se levantar e sorrir, me pegar no colo e sair correndo, deixando todos para trás, boquiabertos. Seria um dia feliz, assim como muitos que passei com ele. Mas ele não o faz. Continua deitado, inanimado. Sinto a raiva subir pelo meu corpo.

Subitamente, meu corpo dói e minhas mãos tocam em algo molhado e terroso. Olho para baixo e percebo que estou no chão, caída. Alguém me pega pelos meus ombros e me obriga a ficar de pé novamente. É Alex, me olhando com uma cara retorcida pela dor. Não queria levantar. Por mim podia ficar sentada para sempre no chão. Sentada, esperando ele levantar e sair correndo.

Alex continua me olhando, incrédulo. Percebo que o homem vestido de preto em frente a ele não fala mais. Ninguém fala nada, além de uma voz, ao longe, gritando seu nome. Alex me pega pelos ombros e me sacode, lagrimas caindo pelos seus olhos. Vejo que está querendo me dizer algo, mas não consigo escutar nada. Tento focar no que está dizendo.

-Please stop- consigo ler seus lábios. Ele está me pedindo para parar. Parar o que? Não estou fazendo nada. A voz que grita o seu nome fica cada vez mais forte, mais intensa. Alex continua me segurando, forte, chorando.

No espaço de um segundo, começo a escutar a chuva novamente, assim como os soluços de Alex.

-Please stop Ana, please, shut up- Alex fala, com desespero.

A voz gritando pelo seu nome está insuportavelmente alta. Quero que pare. Não quero ouvir nada. Quero que pare. Cada vez mais forte. Cada vez mais...

-Jason, Jason, Jason, Jason- a voz grita, e grita, e grita, me deixando tonta- Jason! Jason! Jason!

De novo. De novo. E de novo. Cada vez mais alto, mais forte, mais doido, mais sofrido. Alex recomeça a me sacodir. Parem. Todos, parem.

-Wake up, Ana!- Alex grita. Meus ombros doem pela força com a qual ele os está pegando.

Ah.

Entendo. A voz. Sou eu.

Tento parar, mas não consigo. Finalmente, fico sem ar, e caio nos braços de Alex, tão inerte quanto ele. Tão inerte quanto Jason.

Vejo sua mãe no canto, olhando para mim e seu pai, olhando para Jason. Tanta gente que eu não conheço, que eu nunca vi. Ela me encara com um olhar vazio, e sinto a recusa de seu pai a olhar para mim. Todos voltam a olhar para frente, para ele, enquanto ele não olha para mais ninguém. Mesmo com os olhos fechados, consigo lembrar do castanho intenso do qual eram. Um castanho para o qual eu olhei inúmeras vezes, para o qual eu sorri incontáveis vezes, um castanho que eu amei, mas do que a mim mesma. Ah, sim. O castanho de seus olhos, um castanho que eu nunca mais veria.

O pastor continua a falar. Se eu conseguisse, riria da hipocrisia da situação. Nada daquilo é para ele. Alex me aperta contra si. Eu sei que eu estou chorando, mas não me sinto chorar. Não sinto as lagrimas. Não sinto nada além da falta do castanho dos seus olhos.

Nada disso pode ser real, essa situação toda é surreal, impossível. Não consigo acreditar que seu corpo está ali, e que essa é a última vez que eu vou vê-lo.

Todos se alinham para ver sua cara uma última vez. Estou logo atrás de sua mãe, mas não nos falamos. Ela me olha e me lança um sorriso fraco, um que não sei se consegui retribuir ou não. Quando chega a minha vez, me deparo com Jason. Como ele era lindo. E engraçado. E gentil, carinhoso, profundo, sorridente, amável. Como ele era.

-Eu te amo-foi tudo o que consigo dizer. Eu quero dizer tão mais. Tantas coisas para você jay, eu quero dizer que  você foi o meu primeiro grande amor, Jay. Eu te amo tanto. Espero que eu tenha sido suficiente. Vou sentir sua falta. Falta do banco verde, falta de você todo, você e seu orgulho, você e o jeito como me conquistou, você e o jeito como me fez entregar por inteira, você a pessoa com quem eu achei que poderia contar com pelo resto da minha vida. Vou sentir falta da sua voz, do seu cheiro, dos seus silêncios e da sua inteligência. Eu gostaria de saber como te tirar dai. Como resolver tudo isso. Mas eu não sei, eu não sei e nunca vou saber. Vai continuar como está, parado e frio, eu não consigo te aquecer e te fazer sorrir mesmo estando na sua frente,  e eu vou ter que continuar sem você, mas como? Eu não sei como viver sem você Jason. E eu não sei o que fazer agora. A única coisa que eu consigo pensar em é te dar adeus, e te deixar ir embora. Desculpa por não conseguir te ajudar Jay. Eu tentei, eu realmente tentei, e só deus sabe como eu continuaria tentando se você ainda estivesse aqui, com toda a minha força para que você nunca acabasse assim, parado no tempo, em um tempo horrivel...

Deposito um beijo em sua bochecha, e deslizo o livro que eu o dera, há tanto tempo atrás, por debaixo de seu terno. Olho para ele, sabendo que será a última vez. Olho para ele, não querendo sair dali, e ao mesmo tempo querendo correr e ir embora, para qualquer lugar, para nenhum lugar. Olho e o sinto, gravo cada detalhe de seu rosto em minha memória, seus lábios, suas sobrancelhas levemente arqueadas, seus cabelos, suas orelhas, suas mãos, juntas e cruzadas, aquelas que me seguravam a não tanto tempo. Seu pescoço. Seus cílios. A curva de seu queixo.

Sei que tenho que ir embora, mas meus pês não querem andar. Acho que Alex percebe, pois ele me pega pela mão e me guia até o lado de fora da capela, onde poucas pessoas se encontram e conversam baixinho. Alguma delas olham para mim, mas rapidamente desviam o olhar. Vejo o sofrimento marcando o rosto de Alex, assim como ele o vê no meu.

-Acabou? Realmente acabou? - reúno forças para perguntar. O mundo não parece fazer sentido.

-Yes, Ana,  it's over. I'm so sorry- ele desaba em soluços, e eu o abraço. Juntos, ficamos chorando. Olho para cima e sinto as gotas de chuva caindo em mim.

Estava chovendo, da primeira vez que o vi.


Momentos InfamesOnde histórias criam vida. Descubra agora