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Por algum diabo de motivo, Hermione ainda não estava congelando. Mesmo depois de dez minutos.

Andou pelas ruas sem rumo algum. Voltar para seu apartamento? Não tão cedo. Emily conseguira estragar tudo - por definitivo. Fora a gota da água.

Marcar uma consulta.

Como assim?

Hermione revirou os olhos com o pensamento.

Parou numa esquina antes de atravessar a rua. Onde estava? Talvez tivesse ido mais longe do que imaginou.

Dane-se.

Continuou andando. Em determinado momento, a cabeça começou a doer. Veio numa pontada aguda do lado direito. Piorou conforme os minutos passavam.

Tentou se distrair. Como o frio não havia atingido seu corpo - ainda - e não estava imóvel de dor, pensou em Isaac. No que acontecera mais cedo. No que fizeram. Agora, era assim? Isaac seria seu refúgio de tudo?

Desejou encontrá-lo.

Pôquer às dez.

Cogitou a possibilidade de ir até o pub secreto ou mesmo ao apartamento do Sr. Mozart, mas estava longe. O pub ficava até mais perto de seu apartamento.

O pensamento recaiu sobre o Sr. Newton. E sobre como ele podia ser encantador.

Ela fez uma careta. Foi impossível não contorcer o rosto. Não tinha como imaginá-lo sendo encantador. Isaac era bipolar, reservado. Solitário.

Encantador.

O Isaac que você julgaria e imaginaria seria um velho de oitenta anos ranzinza, pirado, sozinho e solteiro. E fechado dentro de livros e teorias. Só que ali, com ela, no século dela, ele parecia mais jovem. Com oitenta e um anos, mas jovem. As características que definiam sua personalidade não haviam se perdido debaixo da terra - o que era bom.

Hermione ficaria louca com um Isaac que amava as mulheres, alegre, espontâneo e que organizava encontros sociais.

Ela despertou de seu devaneio ao tropeçar na calçada. Praguejou baixinho antes de seguir em frente.

Ou quase.

Hermie ergueu a cabeça para analisar o lugar. As ruas. Vazias e escuras. Bem, não conseguia ver seu prédio ao olhar para trás. Nem mesmo um esboço dele.

Suspirou. Deu meia-volta.

De repente, aconteceu algo. Num segundo, ela estava de pé, observando a cidade na vertical, com a dor de cabeça de dias. E então, a cidade ficou na horizontal. Hermione levou um bom tempo para entender.

Ela franziu a testa ao enxergar um prédio como se estivesse deitado. Sua mente confusa se encheu de perguntas. O corpo amolecido permaneceu imóvel enquanto Hermione tentava se situar.

- Alguém? - disse baixinho, mais para si mesma. Quem sabe não estivesse morta?

A cidade se encontrava num estado absoluto de silêncio. O vento levava as folhas secas de árvores pelas ruas, mas o som era pouco perceptível.

- Que merda - sussurrou Hermione.

Ela fez um movimento como se fosse andar, e a única coisa que conseguiu foi balançar os pés no ar. E, enfim, caiu a ficha.

- Que merda - repetiu, só que mais alto e se apressou em levantar.

A cabeça dela agora doía o triplo por conta da pancada. O braço esquerdo estava mais gelado que o resto do corpo. E doía também.

UM RÉQUIEM PARA HERMIONE KINGOnde histórias criam vida. Descubra agora