capítulo três.

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O som estridente do sinal anunciando o fim da aula, fez Jungkook revirar os olhos em pura frustração. Ele lançou um olhar mortal para a pilha de trabalhos sobre sua mesa, dos quais precisava fazer a correção antes de ir embora.

— Até amanhã, professor! — Um de seus alunos dissera em tom cortês, arrancando um suspiro desanimado por parte de Jeon.

— Até amanhã, não se esqueça do dever de casa. — Resmungou em resposta, retirando da pilha o primeiro fichamento, puxando o plástico protetor para analisá-lo.

Ao menos se deu ao trabalho de examinar minuciosamente o conteúdo, folheou as páginas e rabiscou "A" na capa.

Jungkook queria ir para casa, jantar com seu pequeno.

[...]

Jeon respirou fundo quando parou em frente à sua residência, retirando a chave do bolso e destrancando a porta. Aquela doce fragrância prominente no ar invadiu suas narinas sem nenhuma sutileza assim que entrou, resultando um sorriso nos lábios cansados.

Cheiro de Jimin. O aroma de manhãs ensolaradas, noites frescas de primavera e baunilha.

— Eu estou em casa, anjo. — Anunciou, jogando a mochila pesada em cima do sofá.

Não houve resposta.

— Jimin?

Silêncio.

Jungkook disparou em direção às escadas com o coração martelando, uma súbita fisgada em seu peito fez com que ele engolisse a seco, temendo abrir a porta. Sentindo a palma de suas mãos suarem, rodou a maçaneta, deparando-se com o rosto delicado de Jimin enquanto dormia.

Uma onde de alívio o atingiu e um sorriso desenhou-se nos lábios ao tempo em que puxou o ar, fartando os pulmões.

Sinceramente, aquele pirralho preocupava Jeon.

Durante a semana dava aulas de literatura e não podia ficar com Jimin em casa, o que tornava cada instante longe uma tortura. O pequeno não estudava e raramente saía de casa, fora diagnosticado com afefobia¹ há oito anos atrás, distúrbio mental desencadeado por um forte trauma que sofrera em sua infância, quando as ruas cruéis eram seu único abrigo.

Aos poucos, Jungkook observou o quarto com olhos curiosos, fechando a porta atrás de sí. Lambeu os lábios ressecados, sentindo sua pulsação sanguínea acelerar. Parou em frente à cama do mais novo e alí ficou, vendo-o dormir serenamente, enquanto que um líquido quente aquecia seu coração. Durante uma hora permaneceu daquela forma, até que o vento impiedoso adentrou o cômodo pela fenda das persianas, atingindo diretamente o rosto do pequeno. Jimin então bocejou baixinho, piscando os olhos algumas vezes antes de despertar, seu olhar confuso focou-se aos poucos sob o mais velho.

— Jungkook-hyung? — A voz rouquinha pela sonolência, saindo daqueles lábios cheinhos, fez Jeon sorrir. Ele se pegou com uma imensa vontade de morder o mais novo, mas conteve-se.

Tinha medo das incertezas, das inúmeras possibilidades, de perder aquele que era mais precioso para sí no mundo inteiro. Todas as vezes em que ousou o tocar, Jimin recuara com terror, como se Jeon pudesse feri-lo. No começo, Jungkook não era capaz de compreender, pois havia o acolhido em sua casa e assim, assinado a sentença final de seu relacionamento com Taehyung. O ruivo desaparecera de sua vida com a mesma rapidez que chegara, afirmando ser jovem ao extremo para cometer tal "loucura". Mas Jeon não se importou, fez de tudo pelo menino, inclusive o adotou e lhe deu amor, fora carinhoso e paciente com seu pequeno durante oito anos.

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