Cápitulo I

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Castelo de Warwick - 1430 d.C.

Os barulhos do choque entre espadas nas colinas do castelo acabaram me despertando do meu estupor, eles precisavam fazer treinos para se esquentarem. Minha esposa já há muito estava fria, debaixo da terra, esperando por mim.

Sua lápide, uma pedra entalhada com os dizeres: Melisende Isabel Radoslava Dobromil, uma dedicada e amada esposa, estavam me encarando como uma provocação. Traço, com meus dedos calejados, seu nome. Ele faz jus à pessoa com a qual me casei. Radoslava significa graciosa e querida, e Dobromil, casta e pura.

Deixo escapar um suspiro, e vejo a minha respiração subir em branco pelo céu. Era inverno, e a neve caía vagarosamente ao meu redor, deixando a paisagem em uma só cor. Escuto passos atrás de mim, e não preciso me virar para saber quem é.

- Irmão, está aí há muito tempo. Entre e tome algo quente, seus dedos devem estar congelados.

Alexander não era totalmente meu irmão, ele foi fruto de um romance proibido entre uma formosa e bela serviçal do castelo com o nosso pai, antigo rei, e meu pai também. Por ser legítimo, fui coroado e fiquei em seu lugar para continuar seu reinado e cuidar de suas terras como ele um dia fez. Mas ao olharmos para nós dois, nossos traços são semelhantes, somos como nosso pai, pele morena pelos treinos ao ar livre, cabelos castanhos e fartos, olhos atentos e escuros, musculosos por saber como segurar e defender-se com uma espada.

Meu nome possui vários significados, mostrando como meu sangue é Real. Frederick Aires (herdeiro legitimo) Teodorico (rei do povo) Bogdan (dado por Deus), rei Bogdan V, dono do castelo de Warwick.

Mas não vejo meu irmão como uma ofensa. Ele é meu irmão a pesar de tudo, e meu melhor amigo e confidente. É por isso que o nomeei como meu escudeiro e conselheiro. Ele é meu braço direito, é quem cuidou de minhas terras quando não estava em condições físicas e mentais para isso.

A morte prematura de minha esposa, o meu grande amor, acabou de desarmando e me deixando vulnerável como um bebê. Depois da cerimônia para a morte de Melisende, e uma missa para a alma dela, ainda não tinha assimilado que ela não voltaria para meus braços, que não poderia alisar seus longos cabelos escuros como a noite, não poderia tocá-la e amá-la como sempre gostava. Mas no momento em que a terra foi caindo sobre seu corpo, é que meu coração chorou. Trancafiei-me em meu quarto, não comia... Bebia bebidas alcoólicas para esquecer. Foram momentos difíceis, dias difíceis. E agora, e somente agora, consegui retornar ao seu túmulo.

- Frederick?

- Tem algo errado. Parece que ela não está aí dentro. Não consigo acreditar. - Ergo-me.

- Sua tristeza me afeta também, irmão.

Sorrindo, o abraço, batendo forte em suas costas. – Obrigado.

Ele fica momentaneamente tenso, ele sabe que nunca agradeço nada, e nem a ninguém. Ele entende o porquê de agradece-lo e retorna as batidas em minhas costas.

- Não fiz nada que não faria por mim.

*

Frederick não estava bem. Seu coração e alma foram despedaçados. Observava ele comer, seu olhar perdido enquanto as mulheres enchiam seu copo e lhe serviam comidas saborosas e suculentas.

Não podia interferir mais do que já tinha interferido. Auxiliei em sua ausência e só isso. Não fiz o que ele não fazia, dei continuidade às suas ordens, eram seu povo e seu castelo. Nunca quis administrar tudo isso, nunca o invejei. O pouco tempo em que cuidei de suas terras foram alucinantes e quase perdi a cabeça.

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