Capítulo 5

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Janeiro de 2012

Bianca Davis

Onde está o meu bebê?   Era a única coisa que eu conseguia pensar o mês inteiro.

Os dias se passaram e Camille continuava trancada no quarto. Vizinhos e amigos da escola vinham ver como ela estava e ela se negava a ver qualquer pessoa que não fosse eu ou suas irmãs.

Confesso que me deu uma pontada de satisfação ao ver a mágoa no rosto de Rodrigo quando ela se recusou a deixa-lo entrar no quarto.

Quando Camille recebeu alta, o médico havia me informado que ela devia fazer tratamento com a psiquiatra do hospital, mas eu lhe garanti que ela era uma menina forte não precisava dessas coisas. Porém, quando os dias começaram a passar e ela piorou, eu comecei a ficar preocupada. Decidi ligar para a médica só por precaução, já tinha decidido me passar por uma amiga com uma filha depressiva, mas o evento daquela tarde me fez reconsiderar.

Era uma quarta-feira e eu havia acabado de voltar do mercado depois de uma manhã cansativa no salão de beleza, eu havia comprado o prato favorito de Camille, frango com batatas e arroz primavera, claro que ela preferia o caseiro mas eu tinha acabado de fazer as unhas e o cheiro de alho ficaria impregnado no meu esmalte. De qualquer forma, quando eu estava preparando uma bandeja arrumada, enfeitada com flores naturais, Rodrigo ligou para me contar que a sua nova esposa estava gravida. Isso mesmo a outra estava esperando um filho. Desliguei o telefone por não saber bem o que fazer e no dia seguinte quando ele retornou eu apenas disse que a ligação tinha caído.

Depois de receber uma notícia certamente desconcertante daquelas, eu precisava me manter forte. O prato favorito da Camille, eu repetia para não perder a compostura. Depois da ajuda de três copos de whisky, eu subi as escadas e apertei o botão que fazia as luzes de Camille piscar para que ela abrisse a porta.

Assim que ela abriu a porta, seu olhar desanimado perdeu o foco. Ela caminhava para trás como se eu fosse seu pior pesadelo.

—Esse cheiro. Não. Aqui não. — Ela sussurrava. Duvidei que ela soubesse disso.

E então ela começou a gritar e a chorar, balançando sozinha dizendo Por favor não... Aquilo encheu meus olhos de lágrimas.

Levei a bandeja para baixo ainda sem entender o que tinha acontecido e depois de gritar para Caroline ajudar sua irmã, peguei o telefone e liguei para a doutora Alice, uma amiga da família que morava na cidade ao lado. Ela era bonita, estava na casa dos quarenta, e tinha uma voz calma tão doce pelo telefone, que me dava enjoos. Contei á ela quem eu era e senti uma leve mudança na voz. Meu sobrenome tinha essa influência nas pessoas. Meu pai havia sido o candidato mais votado nas eleições do ano anterior. O melhor prefeito que já tivemos, dissera Irene uma vez quando discutíamos política no salão.

—Ela só saiu de casa para jogar fora suas coisas e desde então só abre a porta para suas irmãs ou quando eu levo comida. — Contei depois sobre o incidente e perguntei se ela atendia em casa. Ela me cobrou um extra de duzentos reais para ir até minha casa no sábado de manhã, mas me deu o diagnostico por telefone mesmo.

—Não se preocupe com o comportamento de Camille, senhora Davis. Qualquer coisa pode ser um gatilho para trazer á tona lembranças daquela noite. O estresse pós-traumático é uma coisa difícil de se superar, alguns pacientes levam anos, enquanto outros em questão de dias retomam sua rotina.

Eu disse á ela que minha filha era forte e que só precisava de alguns remédios para superar isso.

—Sua filha é uma menina forte só de ter aguentado passar por uma situação traumática como a aquela. Nem sempre medicamentos são a melhor solução. Não exija demais dela senhora, ela é apenas uma criança. Nos vemos amanhã.

Ela é forte, eu pensava. Mesmo tendo a imagem da minha filha encolhida no canto da parede, implorando por sua vida a alguém que não estava mais lá, cravada em minha mente, eu continuava á pensar: Ela é mais forte que todos nós

O amor (não) doí.Where stories live. Discover now