Capítulo 6

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Noite de 07 de abril de 2016

Camille

Minha vida havia começado a ter apenas um sentido:

Sexta-feira á noite.

Não era por que eu gostava do final de semana, até mesmo porque eu não trabalhava então todos os dias eram praticamente iguais. Mas, o que diferenciava a sexta-feira dos outros dias para mim eram as reuniões.

Eu passava os dias contando as horas para as reuniões como uma adolescente conta as horas para ver seu namorado. Eu desenhava meus colegas de grupo. Pintava o galpão várias vezes, aprendia receitas de petiscos novos, planejava festas que nunca saiam dos papeis e ainda sim nada diminuía minha ansiedade.

Toda sexta- feira á noite eu me arrumava e dirigia uma hora (meia se eu não rodasse o quarteirão várias vezes para me certificar que não estava sendo seguida) até um galpão doado pelo meu avó à um grupo de apoio à pessoas surdas, que ficava entre a minha cidade natal e a minha residência atual.

O relógio no fundo da sala marcava 19:02 quando eu me sentei. Dois minutos depois da reunião semanal do grupo de apoio em língua de sinais ter começado. Nós não gostávamos desse nome, então chamávamos a reunião apenas de Grupo. Assim a mensagem ficava subentendida, podíamos ser um grupo de pessoas problemáticas buscando apoio ou apenas um grupo de amigos que se encontravam toda sexta á noite por falta do que fazer.

-Então qual é seu nome querida? -Sinalizei quando todos já haviam se arrumados em seus devidos lugares.

Uma garota nova tinha se inscrito no programa, apesar de não ser deficiente auditiva, ela preferia sinalizar do que ouvir pessoas falando.

—Ela é muito sensível á barulhos. — Sua avô, uma senhora simpática de mais ou menos 80 anos que tinha se encontrado comigo na reunião da semana passada, sussurrou para mim provavelmente se esquecendo de que eu não ouvia.

O grupo era composto por cinco pessoas, sendo eu a dirigente. Jessica Rodriguez, uma mexicana voluptuosa de lábios sempre vermelhos na casa dos 45 era a responsável pelas notícias (fofocas).

Ryan, um adolescente de provavelmente 19 anos, cabelos castanhos na altura dos ombros e olhos verdes, era o humorista.

May, uma mulher negra, linda e delicada um pouco mais velha do que eu, com 28 anos disputava o lugar de xodó do grupo com Kevin, um senhor de 55 anos que tinha uma queda por coletes coloridos e óculos quadrados.

-N-A-T-A-L-I. – Soletrou a nova integrante. Ela era morena, magra, e tinha uma cara emburrada. – E meu sinal é : - Ela leva os dois primeiro dedos da mão direita para baixo sinalizando um N e o raspa com o indicador da mão direita, como se sinalizasse a palavra IRMÃO.

Todos nós sinalizamos juntos:

-Bem-vinda Natali. – Imitando seu sinal. Ela não sorriu de volta.

Natali era a primeira integrante nova em cinco anos, que no caso era eu. Então, eu não sabia muito bem o que fazer e como Ryan tinha faltado suas piadas não podiam me ajudar.

Aproveitando de sua ausência, perguntei a ninguém especifico o porquê de Ryan ter faltado. Nenhum de nós faltávamos com frequência, acredito que para alguns o grupo era a única maneira de se manter sã.

Quem levantou o braço para responder foi May, mas Jessica já estava praticamente pulando da cadeira para sinalizar.

- Parece que sua vó não está se sentindo muito bem. – Respondeu ela.

O amor (não) doí.Where stories live. Discover now