O Primeiro Ano Sempre é o Pior

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- Sente raiva dele? - o detetive ostentava enorme olheiras, mas parecia firme em seu julgamento, me olhava com tanta severidade nos olhos, que parecia que ele queria me matar.

- Sim. - disse sem rodeios.

- Por que ele matou tantas pessoas inocentes? - "inocentes" repeti na minha cabeça e aquilo me fez rir, não um riso natural e sim um riso sarcástico e cheio de raiva.

- Por que perdi meu melhor amigo. E por que essas pessoas não eram pessoas tão boas assim!

- Você quer dizer que todos esses alunos que morreram pagaram...

- Não! - gritei e bati na mesa com força, ele estava começando a me irritar pra valer. - Nada justifica o que ele fez, mas chamá-los de vítimas inocentes? É ridículo! Charlie clamava por ajuda, dos seus pais, da escola, de mim! E tudo o que fizemos foi dar as costas a ele!

Fechei os olhos me lembrando de tudo o que tinha passado com ele até chegar ali, ele me dava sinais que só fui perceber depois que a merda tinha acontecido. A raiva maior que sinto é por mim mesmo, por não ter evitado isso e por não ter contado a verdade toda sobre mim a ele.

"Quando entramos no ensino médio, tudo parecia ter piorado, Charlie havia se aproximado de seu pai, o que foi uma droga. Ele tinha virado um deles, estava mais musculoso, por causa do acampamento de verão que seus pais haviam o colocado. Era algo relacionado a treinamentos do exército. No primeiro ano ele se afastou de mim na escola, tinha entrado pro time de basquete e tinha se tornado popular, até mesmo os veteranos gostavam dele. Os valentões não o provocavam mais e ele até tinha virado amigo deles. Charlie tinha se tornado outra pessoa e eu o odiava por isso. Foi um ano bem turbulento para mim.

Ele conversava comigo quando estava em casa, no começo eu ficava irritado por isso. Por que ele simplesmente me ignorava na escola, eu acenava e ele fingia que não me via , comia na mesa dos atletas e saia com lideres de torcida. Mas quando voltava pra casa ele voltava a ser o nerd que era, colocava sua camisa de Star Wars e jogávamos jogos de rpg online, íamos a eventos (nos quais tínhamos certeza que ninguém da escola apareceria) assistíamos animes e liamos mangás. Charlie era meu único amigo, na verdade tinha outros do clube de xadrez que eram tão nerds quanto nós dois, mas nada era parecido com a amizade de Charlie.

Um dia quando estávamos voltando de um evento Charlie viu uns garotos da escola passando por ali de carro, nunca o vi tão branco, ele correu até um beco me fez segurar suas sacolas, tirou o moletom do Batman que usava e colocou a jaqueta do time, eu nem mesmo tinha percebido que ele tinha a trazido. Saiu de lá sem nem me explicar nada, só saiu. Ele acenou para Erick o capitão do time e os dois se cumprimentaram. Sai do beco incrédulo com o que ele tinha feito.

- Charlie? - eu o chamei – Charlie? - ele me ignorava e aquilo me deixou irritado. - Charlie??? - berrei.

- Você conhece aquele nerd Charlie? - ele se virou pra mim de canto de olho. Riu como se fosse a coisa mais engraçada do mundo e disse: - Não! Vocês estão indo aonde? To precisando relaxar, vamos beber.

E ele saiu cantando pneu junto aqueles caras. Nunca vou me esquecer daquele dia, nunca vou me esquecer daquele olhar de desculpa que ele me lançou depois que o carro saiu."

- E o que você fez?

- O que mais poderia fazer?

- Fui pra casa carregando as coisas de Charlie e o esperei chegar. - respirei fundo me sentindo envergonhado, eu tinha sido muito trouxa dele, pelo primeiro ano inteiro. - E depois quando ele chegou bêbado e não podia ir pra casa, eu o deixei ficar no meu porão. E escutei durante quase toda noite seus pedidos de desculpa.

Meu Amigo CharlieOnde histórias criam vida. Descubra agora