One.

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Uma luz branca praticamente me cegou quando eu abri os olhos, depois do que me parecia ter sido um sono muito longo. Minhas costas doíam de ter ficado tanto tempo deitada, minha cabeça rodava por ter aberto os olhos rápido e dado de cara com a luz logo em cima de mim.

Piscando várias vezes até conseguir me acostumar com a luz forte, consegui distinguir o teto.

- Doutor, ela acordou! - disse uma voz embargada pelo choro, perto de mim. Tentei me virar para ela, sem sucesso.

- Ora, mas olhe só. Quando eu vi o quadro dela na semana passada, eu tive certeza que ela iria acordar cedo ou tarde.

Doutor? - eu pensei - Mas onde é que eu estou?

Logo, um homem entrou em meu campo de visão limitado, fazendo eu me sobressaltar um pouco. Ele aparentava uns 40 e poucos anos, tinha uma barba cerrada e cabelos pretos, onde já despontavam alguns fios brancos. Usava óculos quadrados na metade do nariz, o que lhe dava um ar engraçado.

- Que bom que está acordada, senhorita Baldwin.

Ao tentar abrir a boca para perguntar onde estava, não consigo fazer as palavras saírem direito, o que acaba resultando em um som sem sentido.

- Tudo bem, não vamos nos esforçar. Já fez muito por hoje, acordando. Só vamos terminar de fazer uns exames e logo você vai poder se sentar e comer alguma coisa. Alaia, poderia me acompanhar por favor?

Ouvi passos se afastando e a porta do quarto se fechou, me deixando no silêncio. Alaia, dona da voz embargada que eu escutei antes, é a minha irmã mais velha, que tem a minha guarda, já que quando nossos pais se envolveram naquele acidente, ela era a única maior de idade. Relutante em me entregar para alguma casa de adoção, ela fez questão de pegar a minha guarda, até que eu fosse maior de idade e decidisse as coisas por mim mesma.

Passados alguns longos minutos que eu passei em completa agonia, sem poder olhar pra lugar algum a não ser para o teto sem graça, a porta se abriu novamente e dessa vez umas três pessoas entraram.

Duas enfermeiras tiraram alguma coisa do meu pescoço e me ajeitaram para que eu pudesse ficar sentada direitinho, enquanto uma outra mulher fazia a cama se dobrar, fazendo minha postura ficar reta o suficiente para comer.

Elas me fizeram uma série de perguntas, que eu conseguia responder, por mais que eu ainda pronunciasse a maioria das palavras erradas. Parecia que algo travava minha língua e não me deixava falar com clareza. As enfermeiras fizeram testes com meus dedos, pulsos, pés, pernas e outras articulações que pudessem não funcionar como deveriam. Tudo estava em ordem.

Alaia agradeceu a elas e se sentou na poltrona ao meu lado, depois de depositar uma bandeja com comida em meu colo. Ela parecia meio abatida e silenciosa, coisa que com certeza ela não era.

- O que foi? Algo está errado? - falo baixinho e devagar, tentando não errar em nenhuma pronúncia.

- Não, minha querida. Nada errado. Eu só... Senti muito a sua falta.

Ela esboçou um sorriso e se aproximou de mim, me abraçando de lado, para que eu continuasse a comer, eu estava morrendo de fome.

- Alaia... - levantei os olhos para ela, piscando de leve. - O que aconteceu comigo?

Alaia mordeu o lábio, parecendo meio nervosa.

- Você se envolveu em um acidente. De carro. Foi muito grave querida, muito grave mesmo. Ninguém acreditava que você iria se recuperar.

Eu estava perplexa. Eu não conseguia me lembrar de acidente nenhum, eu não lembrava de nada que havia acontecido comigo. Era uma sensação agoniante e desesperadora.

- Por que eu não me lembro disso? - minha voz arrastada me irritava cada vez mais, me fazendo ficar frustrada, me dando uma vontade enorme de chorar.

- No acidente... Você foi a mais afetada, pois acabou voando para fora do carro... - eu podia ver seus olhos cheios de lágrimas, pela dor de relembrar disso. - E... Além disso, você se chocou contra o outro carro. Foi um acidente feio, Hailey... Mas você está aqui agora, comigo. É isso que importa, certo?

- Sim, claro. - minha voz não passava segurança pra mim mesma e logo, eu estava desabando em lágrimas.

E não importava o quanto eu tentasse, não conseguia me lembrar de nada mesmo.

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