Two.

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Passada uma semana desde que eu acordei, o doutor finalmente me deu alta, dizendo que eu já estava boa o suficiente para ir pra casa.

Enquanto estive ali, eu não parei um segundo. Fazia Alaia andar comigo pelo hospital a cada 15 minutos, para me exercitar e não correr o risco de esquecer de nada.

Alaia me trouxe umas roupas novas para eu vestir e, pela primeira vez, ela deixou eu ir sozinha no banheiro. Assim que eu entrei lá, dei de cara com um espelho, pendurado na parede.

Era tão estranho me olhar no espelho. Eu tinha plena consciência de quem eu era, eu lembrava da minha aparência, mas ao encarar meu reflexo, meu primeiro pensamento foi que era uma outra pessoa ali. Minha pele estava pálida demais, com olheiras embaixo dos olhos castanhos claros, eu estava mais magra do que antes, meus cabelos loiros estavam ressecados e embaraçados demais para ser verdade e nada, em mim, parecia ser realmente meu.

Querendo evitar uma crise de choro, me pus a vestir a calça jeans e a t-shirt branca básica que Alaia me trouxera. Não sabia dizer se aquela roupa era minha.

Ao sair do banheiro, dando um sorriso mínimo, por estar finalmente saindo desse hospital, minha irmã me entrega um par de tênis pretos, juntamente com uma jaqueta de couro, que reconheci imediatamente, por mais que tivesse quase certeza que não era minha.

- Essa jaqueta é minha? - pergunto, já a vestindo.

- Ah, eu não sei, era sua favorita, você estava sempre usando ela.

- Eu reconheço ela, lembro da sensação que eu sentia quando a colocava, mas eu não tenho certeza se ela é minha.

Alaia balançou a cabeça, pegando a mochila cheia de coisas que ela usava quando vinha passar noites comigo.

- Bom, sendo sua ou não, ela cai muito bem em você. Vamos?

Aceno com a cabeça e, juntas, saímos do hospital pela porta da frente. O sol reluzia no céu azul, mas o vento estava forte, o que causava um pouco de frio.

Quando eu senti o sol bater em minha pele, não podia me sentir mais viva. Dei um meio sorriso para o chão e continuei andando, até o carro de Alaia.

▪ ▪ ▪

- Chegamos.

Olho pela janela a casa que Alaia apontava. Era a mesma de minhas lembranças, de dois andares, azul claro com branco, sacada de frente para aquela rua pacata e, na minha opinião, chata.

Ela estacionou o carro na garagem e eu desci, olhando para todos os lados possíveis. Cada coisinha que eu via despertava uma lembrança, o que acabou sendo uma coisa muito boa, já que memórias se tornaram uma coisa preciosa pra mim.

Entramos na cozinha da casa, apenas alguns móveis estavam em lugares diferentes, mas, mesmo com a mudança de lugares, eu reconhecia tudo, me lembrava de cada momento ali com a minha família.

Mesmo que Alaia tivesse mudado um pouco a casa, ela me contou que não tocou em nada no meu quarto, desde o dia do acidente. Deixara tudo como eu havia mexido pela última vez.

As lágrimas já dominavam meus olhos, mas eu lutei contra elas, tentando impedir que eu chorasse mais uma vez. Estar ali, no meu quarto, na minha casa, me emocionava bastante, isso não poderia ser negado.

- Alaia, só uma pergunta.

- Sim, querida?

- Quanto tempo... Eu fiquei em coma?

Me viro para ela, que estava parada na porta do quarto. Sua mão apertou a maçaneta, a tristeza dominando seu rosto.

- Cinco anos. - ela suspirou, baixinho, ao ver a expressão de surpresa e tristeza em meu rosto.

Cinco anos era muito tempo para ser real. Eu dormi por cinco anos. Todos os meus amigos, dos quais eu não lembrava, estavam a cinco anos de distância de mim.

- Alaia... Eu, posso ir tomar um banho? Depois eu desço e te ajudo a arrumar as coisas, pode ser?

- Claro! - ela instalou um sorriso um tanto forçado em seu rosto. - Quando estiver pronta, pode descer.

Esperei até escutar seus passos descendo a escada, para então trancar a porta. Tinha tanto para ver e sentir ali, que não podia fazer isso com Alaia.

Andei até minha escrivaninha e abri as gavetas, achando montes de papéis, canetas, presilhas de cabelos e coisas do tipo. Sobre a mesma estava uma agenda. Meu nome estava escrito nela, com a minha caligrafia.

Sentei na cama, para que pudesse analisa-la direito. Abri ela na página que continha minha última anotação.

"Dia 21 de outubro, UMA SEMANA DE FÉRIAS INTEIRINHAS COM O J"

Franzi a testa, sem entender nada dessa frase sem pé nem cabeça (que claramente foi escrita por mim, já que eu reconhecia minha letra).

Afinal, quem era esse tal de "J"?

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