Poema mudo

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Todos os dias era uma barulheira

Naquele quarto,

O relógio com seu Tic-tac, trimmmmmmmmm.

A cama com seu nhec, nhec.

O abajur e seu tic, tic.

O guarda-roupa com seu praft, praft.

E a porta do quarto com seu Toc, toc.

Só quem nunca falava,

Era o criado mudo, mudo, mudo.

Esquecido,

empoeirado ao lado da cama.

Ouvia lá de longe

O carro fazendo ronc, ronc, vrum, vrum, bip, bip.

Um grilo na janela fazendo cli, cli, cli.

E o cachorro do vizinho latindo au! au! au!

Só quem nada dizia,

Era o empoeirado criado mudo, mudo, mudo.

Mas um dia, tudo mudou,

Quando a menina entrou pela porta,

Carregando um barquinho de papel no lugar do sorriso,

Pulou na cama, nhec, nhec.

Acendeu o abajur, Tic.

Pegou o relógio, contou as horas, tic-tac.

Correu para o guarda roupa, praft,

Vestiu sua melhor roupa.

Colocou o sapato apressada, tac, tac

E olhou para o criado mudo,

E com o dedo foi escrevendo sobre a poeira.

E

U

T

E

A

M

O

Dava pra sentir em cada letra,

O amor tocar.

A menina saiu em seguida levando o sorriso de meia lua,

Mas dai em diante, o criado mudo podia falar,

E quando o relógio fazia Tic-tac,

A porta toc, toc,

A cama nhec, nhec,

O abajur tic, tic,

O guarda-roupa praft, praft.

O criado mudo dizia EU TE AMO, EU TE AMO, EU TE AMO.

Não da maneira habitual como todos falavam

Mas de uma maneira que todos entendiam.

Objetos nem tão inanimados assimOnde histórias criam vida. Descubra agora