Corredor - Parte 2

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— Só  precisamos da senha, nada mais. — escuto uma voz muito  longe. Não consigo identifica-la.

— Não!  Não podemos deixa-la viva. —  ele contradiz. Mesmo de longe, sua voz deixa transparecer um tom irritado, provavelmente eles estão  brigando — Ela vai nos denunciar! —ele continua, me dando a possibilidade  de ouvir melhor.

O silêncio paira no ar, posso sentir a tensão  entre eles.

— Esse não é o nosso trabalho! — esbraveja. Instantaneamente meu corpo gela me dando a percepção da pessoa que está falando.

O que aconteceu?? Pergunto a mim mesma. Sonolenta, abro os meus olhos lentamente e tento me levantar do lugar em que eu estava deitada, mas esse movimento  é  impedido pela dor insuportável na minha cabeça, com o intuito de por a mão na cabeça, percebo que as minhas mãos estão  presas por uma corda grossa. Atordoada, começo  a mexer minhas mãos  entre as cordas, de nada adianta, só serviu para causar mais dor no meu pulso.
O ambiente  escuro me impede de identificar o lugar onde eu me encontro, por isso,  vou me arrastando até um lugar onde eu possa me recostar.  Depois de  me encostar em algo que eu julgo ser a parede, percebo que eu estou completamente enganada, o barulho do pneu sobre a estrada é inevitável de ouvir, o som da chuva, que em outra ocasião  estaria me trazendo conforto, bate fortemente sobre o capo do carro, causando um barulho estridente.

— Eu não vou arriscar minha vida por ela! — O silencio é interrompido pela voz do  amigo do Ian.

— NÃO VOU MATA-LA !  — vocifera. Sua voz vem de trás de mim, provavelmente isso é  uma van.

— Se você não matar,  eu mato — ele ameaça. Meu coração  acelera e um aperto no peito, extremamente forte, é  sentido por mim. Brian! Eu preciso dele aqui. Choramingo baixinho, orando para que eles não ouçam e percebam que eu já acordei.

— já basta os pais dela, não quero ser pego de novo. — Ian tenta soar convincente.

— Não adianta Ian, eu não vou desistir ! — Não, ele não pode fazer isso comigo, as lágrimas são inevitáveis, meus olhos começam a arder pois tento prendê-las, porém não funciona,  minha garganta começa a fechar causando uma dor horrível, começo a respirar com dificuldade, tento manter a calma, no entanto o ar continua escasso. Entre as tentativas falhas de prender o choro, deixo escapar um soluço, mas ele é  abafado pela voz do Ian.

— CHEGA!! VOCÊ NÃO VA... — A fala dele é interrompida por um grito.

— IAAN!! O CAMINHÃO!!! — Ele grita, mas já era tarde demais. O som ensurdecedor da buzina do caminhão faz com que eu ponha imediatamente  as mão nos ouvidos para tentar amenizar o barulho, entretanto não me impossibilita de escutar o som agudo do pneu deslizando sobre a estrada coberta de gelo, sinto o impacto da van e o caminhão, meu corpo é jogado em direções perpendiculares. Tudo passa em câmera lenta, por um momento esqueço da dor, esqueço da vida, esqueço da morte. Minha voz quase inaudível é ouvida no vazio do carro, grito, nada acontece, minha voz ficou presa, não a ouço mais, só restou a voz do Ian e do seu amigo. O carro é  lançado inúmeras vezes contra  o chão, e meu corpo o acompanha, sinto me destruída, incapaz, não há nada que eu possa fazer, e uma última vez o carro é  lançado ao chão, nesse momento o porta malas do carro é aberto, o meu corpo é arremessado em direção ao asfalto, o impacto do meu corpo contra o chão é  amortecido pela grossa camada de neve, mesmo assim, não impede que o meu braço fique preso entre o meu corpo e a neve.  Grito, esbravejo, mas nada dissipa a dor em meus braços, as minhas mãos  continuam presas as cordas. Olho para o céu mas a chuva dificulta a visão das estrelas, então olho para o lado, a poucos  metros de mim está  a van jogada sobre a estrada, um fumaça, quase imperceptível, surge em meio a chuva que logo se transforma em uma grande chama.
Imediatamente tento levantar mas caiu logo em seguida, o fogo começou a se espalhar pelos matos que estão entre as montanhas e a estrada, tento levantar novamente mais o meu tornozelo  dói devido a queda na escada. Caiu novamente no chão, não estou aguentando  mais, a neve está deixando o meu corpo dormente, me impedindo de sentir algumas dores, porém ela faz arder cada vez mais a minha pele, o fogo se alastra sem dó, começo a me arrastar pela estrada, preciso chegar no outro lado da rua, onde tem uma floresta, minha pele arde sem cessar, as lágrimas são inevitáveis.  Começo a me mover mais rápido mas o fogo vem com mais intensidade em minha direção, eu preciso levantar, tento novamente, consigo ficar em pé  por milésimos, no entanto, logo volto ao chão. Tento novamente, dessa vez tento ignorar a dor, levanto e faço o maior esforço para tentar andar mais rápido para chegar ao outro lado, meu passos aceleram quando eu escuto a voz do Ian chamando o meu nome.

— MIAA!! — Ele grita por mim, meu sangue gela só de ouvir a sua voz  — Nós precisamos  dela Josh — ele se dirige ao amigo, que até a pouco tempo o nome era desconhecido por mim.

— Precisamos acha-la Ian, não podemos perdê-la —  exclama. Procuro convencer a mim mesma que não existe dor e me obrigo a andar mais rápido, ele não pode me ver, ele mão pode!

— Eles vão encontra-la — diz convincente, suas palavras me causam mais medo, não posso desistir agora, não vou desistir. Consigo chegar do outro lado da rua, me seguro a primeira árvore que encontrei, paro por um segundo para recuperar o fôlego perdido durante a caminhada. Não tinha percebido  o quão alto se encontrava a estrada, e nem o quão escuro era, o contraste entre o branco da névoa sobre as árvores e o preto da floresta sem luz se misturavam em uma linda sintonia, eu não consigo enxergar nada além de um palmo a minha frente.  Não posso perder tempo, começo a andar, mas no segundo passo meu pé pisa em falso novamente, meu copo cai novamente na relva fria e é lançado  ladeira a baixo. Coisa de segundos parece horas quando te causa dor, sinto cada folha sob mim,  cada pedra, cada  espinho, meu corpo vai perdendo a velocidade  gradativamente até chegar em um lugar plano, quando percebo que não estou mais rolando, tento recuperar minha sanidade, mas estou completamente  tonta, minha visão está turva e um enjoo enorme se apodera de mim. Não sei quando tempo fiquei deitada no chão,  quando me sinto melhor, levanto, mas a última coisa que eu vejo, antes de  braços firmes me segurarem,  é  uma arma  pontada para mim.

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