O segundo não

4.9K 653 435
                                    

– Então alunos, é só isso por hoje.

Após o professor terminar de falar – ou até antes disso –, os estudantes saíram toda de seus lugares e correram para fora da sala de física, todos cansados e não pensando em nada além de suas camas e comida – porque, quem não pensa em comida, não é?

Kyungsoo arrumou seu material, no mundo da lua. Fez tudo no automático, até mesmo sair da sala e descer as escadas.

Sua cabeça viajava desde o que comeu semana passada para lhe fazer vomitar – coisa que ele não se lembrava, era um mistério mesmo depois de dez dias – e o que aconteceria com o Will no final de Stranger Things – algo realmente intrigante, se você ainda não terminou a primeira temporada.

Voltou ao seu estado normal apenas quando viu Baekhyun tentando bater em Chanyeol no final da escadaria.

– Aish, seu poste orelhudo! – reclamou, dando-lhe um soco no braço esquerdo.

– Mas Baek, eu disse alguma mentira? – perguntou inocente, mas sua carinha de santo não o salvou de outro soco com direito a um chute de presente.

– Pirralho! – gritou.

– O quê está acontecendo? – o Do perguntou, rindo ao ver Chanyeol sair de perto do Byun uns três metros.

– Esse... Esse... Esse filho de uma dama da noite disse que eu estou gordo! – exclamou, choroso.

– Chamou minha mãe de puta, viu só Soo? – o Park fez um som com a boca em reprovação para Baekhyun, quase ganhando outro chute. – Calma Byun, eu apenas disse um fato, algo totalmente perceptível. – falou, com voz de filósofo e mexendo o dedo indicador de um lado pro outro.

Kyungsoo gargalhou auditivamente, juntamente do Park, mas Baekhyun não achou graça alguma e acabou por ficar com mais raiva ainda.

– YAH! Por que em vez de encher meu saco junto do seu primo girafante, não vai se pegar com o JongIn, huh?! – gritou, dando as costas para os primos e saindo de lá com fumaça saindo das orelhas – não literalmente, por favor.

– Girafante? – Chanyeol perguntou, confuso, e saindo de perto de um Kyungsoo estático para perguntar sobre essa palavra nunca ouvida por si para o esquentadinho.

Ainda estático, o Do ficou ali, parado e observando os dois amigos se afastarem. Como assim “se pegar com o JongIn”?!

– Parado! Baekhyun me explique isso ago-

– Kyungsoo!

O de estatura baixa se assustou ao ouvir seu nome ser proferido por aquela voz tão conhecida, virou-se para de onde a mesma vinha – logo atrás de si – e viu quem já suspeitava ser. Kim JongIn. Revirou os olhos, vendo que ele tinha um sorriso bobo nos lábios cor de pêssego grossos e até se esquecendo dos xingos que iria proferir para o melhor amigo Byun.

O de pele mais escura vinha até si com passos rápidos, como se não quisesse que o mais baixo fugisse de si, já que nunca tinha tempo vago para ver ou falar com o Do. Afinal, Kyungsoo era mais velho, e certamente de uma classe diferente da sua, uma mais avançada e para alunos de sua idade.

– Annyeong! – sorriu – de novo –, finalmente chegando mais perto do Kyung, esse que se afastou um passo, não querendo ficar muito perto e se deixar enfeitiçar pelo perfume natural que o mais novo emanava. Vai que ele vira uma HyunA da vida, que vive correndo atrás de idiotas como o Kim – novamente, palavras de Kyungsoo. – Como está?

Kyungsoo pôs suas duas mãos nas alças de sua mochila, nervoso. Por que, quem não ficaria nervoso perto do grande Kim JongIn? Limpou a garganta para respondê-lo e sorriu forçado.

– Estou ótimo, e não espere que eu pergunte o mesmo pra você. – grosso, como sempre. Mas, JongIn já era acostumado, e mesmo que doesse, aguentaria para no fim, ganhar pelo menos um sim. – Mas... Era só isso? Posso ir agora? – perguntou já se virando para sair de lá o mais rápido possível.

– Oh! Aniyo, aniyo! – negou várias vezes com as mãos e cabeça, não deixando o outro ir embora antes de lhe fazer o pedido que queria adequadamente. – Eu só queria... Lhe perguntar algo. – riu nervoso, e suas bochechas coradas não deixaram essa passar e mostraram para o mais velho o quanto JongIn estava envergonhado e constrangido.

– Sobre...? – incentivou, esperando que ele continuasse sua fala e perguntasse logo, afinal, ele estava com fome.

– E-eu... – Kyungsoo viu o Kim respirar fundo varias vezes, sorrindo em seguida para mostrar que estava confiante sobre o que iria falar – coisa que ele não estava realmente, mas ninguém precisa saber além dele mesmo, não né? – Eu só iria lhe chamar para jantar... Já que já são quase oito horas e... Bem, você deve estar com fome. – deu e ombros, coçando a nuca a procura de algo que esvaziasse seu nervosismo.

O de pele mais clara arregalou os olhos com a sentença do outro, mas nada disse por longos minutos – sim, minutos. Uma mania do mais baixo, com certeza, era deixar o Kim esperando por uma resposta a seus convites tão inesperados e fofos. Quando finalmente deu por si, JongIn faltava morrer ali mesmo, tipo, ele estava suando muito.

– Você está bem? – perguntou, com uma preocupação que não sabia de onde saiu. ‘Desde quando comecei a ficar preocupado com o Kim?’, perguntou-se mentalmente.

– Claro! – exclamou, assustando o outro. – Q-quero dizer... Ne. – falou mais baixo, querendo se matar por ter chamado a atenção dos alunos que passavam por ali. – Só responde logo! – suplicou.

Tá, até que ele fica fofinho assim, não é Kyungsoo?

Não’.

– Ah, eu... – espremeu seus lábios em formato de coração e olhou pelos cantos dos olhos para os lados, procurando uma desculpa para fugir dali. – Eu não como a noite, faz mal.

Após sua fala, Kyungsoo simplesmente disse um ‘tchau’ rápido e saiu correndo portão afora.

Na calçada, ainda correndo, ele brigava consigo mesmo por ter deixado o outro assim, mais uma vez com um fora grosso e seco. Mas em seguida, se socava mentalmente por ter tido pena do Kim, já que foi ele quem começou com essa rivalidade.

Afinal, existia mesmo uma rivalidade entre o Kim e o Do?

Com essa pergunta em mente, Kyungsoo seguiu para o restaurante da senhora Park – sua tia –, encontrando o amigo baixinho e o primo orelhudo ainda naquela discussão sobre o Byun estar gordo. Sentou-se ao lado dos dois, vendo a tia aparecer com seu jantar quentinho e de graça, o que sempre comia.

Mas, ainda no pátio, JongIn olhava para o portão que o mais baixo atravessara minutos antes, mas o olhava não estava triste e sim com raiva.

JongIn podia jurar que, todo dia na sua caminhada até o prédio onde morava, via Kyungsoo jantando com os amigos no restaurante dos Park. Ele havia mentido de novo para si?

Mais uma vez, o Kim ganhou um não. O segundo daquela semana, e a segunda rejeição.

Ninguém nunca rejeitava Kim JongIn.

A segunda pista de sua suposta paixonite também apareceu, já que ele sentia uma imensa vontade de chorar a noite inteira com o simples pensamento de Kyungsoo não gostar de si, e tinha uma vontade maior ainda de socar o rostinho lindo dele e depois beijar-lhe como pedido de desculpas pelo ato bruto.

‘O que foi que eu fiz de errado dessa vez?’

Toda vez que você me diz um nãoOnde histórias criam vida. Descubra agora