VI

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2037

Louis odiava Harry com todas as forças. Mesmo estando um pouco mais amigáveis que o normal, ele queria socar a cara dele. Muito. Até quebrar seu último dente. Ou o nariz, quem sabe.

Enquanto assistia Harry comer em cima de sua cama, com direito a farelos de comida pastosa sobre o lençol, Louis percebeu como Styles era irritante.

Pelo menos para ele, tudo em Harry era extremamente irritante, até mesmo o som de sua respiração quando ele dorme. Não que o de olhos azuis fique assistindo ele dormir, puff.

"Por que você tá me olhando assim?" Styles indaga, Louis pode jurar ver um pouco mais de comida caindo da sua boca.

"Eu não estou te olhando." Desviou o olhar.

"Ta sim, e parece planejar a minha morte." Harry cerra os olhos para ele.

"Você prefere que eu te mata como?" Louis fingiu estar pensativo.

"Engasgado. Com o seu pau." Um sorriso malicioso esgueirou sobre seus lábios.

E não, Harry não deveria ter dito aquilo e ter rido por conta de suas bochechas coradas, sujando ainda mais o lençol. Louis se sentia envergonhado por ter memórias de coisas do tipo. A sua vontade de matá-lo cresceu ainda mais.

"Bem que você queria." Tomlinson o olha mais uma vez, agora rindo. Harry não diz nada, apenas dando de ombros e continuando a comer.

Louis agradeceu pelas câmeras da nave não terem áudio.
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Tudo parecia normal agora. Comer comida estranha, não tomar um banho decente e tomar xixi - filtrado corretamente, ok? -, Louis até parou de se importar com a presença de Harry e até mesmo parou de tentar ser seu amigo. As coisas deveriam acontecer naturalmente, pensou.

O de olhos azuis se sustentou com aquela quase amizade estranha que eles tinham. Normalmente, trocavam farpas entre si e aprendiam novos xingamentos, mas quando sentavam um perto do outro, contemplando suas existências, eles fingiam que tudo era como antes. Que eram apenas dois garotos aprendendo a amar, embora não falassem isso em voz alta.

Harry sentava em sua poltrona - ele ressaltou isso quando pegou uma caneta e escreveu seu nome nela - enquanto lia seu romance policial na frente de todos aqueles botões.

Eles não podiam, de jeito nenhum, dirigir a nave até chegar em Marte. A rota era milimetricamente calculada e computadorizada, Harry detestou essa ideia. Quem faz a porra de uma nave se não é pra dirigir?, disse depois de receber essa notícia.

Louis escovava os dentes um tanto animado, com seus air pods tocando alguma música eletrônica alto demais.

"Você pode desligar isso? Eu consigo ouvir daqui."

Ele não o escutou, continuando a sacudir a cabeça. Harry grunhiu irritado, se levantou e os arrancou de seu ouvido.

"Qual é o seu problema? Eu estou tentando ler." Louis dá um pequeno pulo por conta do susto e da voz irritada do outro. Ele o olhava com as mãos na cintura, e o pé batendo contra o chão.

Styles sempre foi a pessoa mais zen que você pode imaginar. Com a fala mansa e movimentos lerdos, mas Louis sempre o conseguia irritar. Se bem que, aquele sentimento era mútuo.

O menor apenas riu com sua irritação, Harry bufou.

"Por que você anda tão estressado, princesa?" Louis, depois de cuspir a pasta de dente, ergueu uma de suas sobrancelhas.

"Não me chame assim." Aquele era um de seus apelidos daquela época, embora não soasse mais como antes. "Por favor."

"Ok. Certo." Louis piscou vagamente, percebendo o que acabará de fazer.

O maior o devolveu seus air pods, não ligando realmente se ele iria colocar suas músicas o mais alto possível e voltou para seu lugar e seu ebook.

Louis ficou parado, não sabendo exatamente o que diabos aconteceu ali e com o rosto sujo de pasta de dente.

"Você está bem?" O de olhos azuis indaga, Harry apenas olha para a frente.

"Você está?" Aquela era, talvez, a primeira conversa real que eles tiveram desde que puseram os pés ali.

Olhando um no olho do outro, a dor era palpável vindo do verde de Harry.

"Eu perguntei primeiro." Louis cruzou os braços, o outro revirou os olhos.

"Claro que não estou, Louis. Faz 8 anos, e eu sei que deveria ter superado, mas eu vejo que você também não superou." Seus olhares se cruzaram outra vez. "Minha vida nunca mais foi a mesma depois de você."

"O que você quer dizer com isso?" Louis entendeu exatamente o que ele quis dizer, mas não acreditava.

"Você realmente não sabe?" Harry suspirou, talvez pela décima vez naquele dia, tentando arrumar coragem para continuar sua fala. "Eu te amo desde a primeira vez que te vi, e eu não parei de amar em nenhum momento da minha vida."

Louis, por acaso, já agradeceu pelas câmeras não terem áudio? Embora, naquele momento, as câmeras eram uma de suas últimas preocupações.

Ele não faz ideia de como cruzou aquela sala tão rápido, passo após passo, e então, suas mãos no rosto de Harry. Nem mesmo Styles sabia o porquê de ter segurado a cintura de Louis tão forte, seus lábios se roçando vagarosamente, com a língua do menor pedindo passagem. Harry entreabriu a boca, se sentindo como um maldito garoto, ele entreabriu seu coração também, suas línguas entraram em uma dança suave, a saudade fazia eles suspirarem, buscando abrigo um no outro. Ah, como Louis sentiu falta daquilo.

Em um instante, a ficha de Tomlinson caiu. Estava beijando. Como um baque, Harry o empurrou. Estava uma completa bagunça, com os lábios vermelhos e olhos arregalados.

O menor olhou pra câmera, tentando controlar sua respiração.

"Que porra, Louis?" Harry k empurrou mais uma vez, com seus olhos mais escuros que o normal. "Você quer ser demitido? Você quer?"

Ele abriu a boca, mas nenhum som saiu. Harry continuou o olhando enfurecido. Enfurecido por Louis ter o beijado e por te-lô respondido.

"Você não deveria ter feito isso." Styles queria gritar, extravasar toda a raiva que sentia desde que Louis foi embora, mas ele manteu sua voz a mais calma possível. "Eu não deveria ter feito isso."

"Eu sei, caralho... Eu sei." Louis grunhiu. "Me desculpa."

"Eu que peço desculpa." Morde os lábios, nervosamente. "Eu não deveria ter dito nada."

Quando Louis ia falar alguma coisa, Harry já tinha virado de costas. Agora, ambos tinham que arrumar suas próprias bagunças.

Louis poderia criar diversos poemas sobre aqueles lábios. Mas ele não podia, não é? Não deveria. Teria sorte se as imagens do seu momento insano não fossem parar na televisão.

Embora Louis queria beijá-lo de novo. E talvez pelo resto da vida.

Engolindo em seco, Tomlinson olhou em direção a Harry. Estavam de volta a estaca zero, onde nunca deveriam ter saído.

i need space - l.sOnde histórias criam vida. Descubra agora