XIV

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Marte era muito mais bonita vista de perto. Suas cores vibrantes, uma mistura de vermelho com laranja, refletiam no enorme vidro. O estômago de Louis vibrou de nervosismo.

Estavam tão perto agora.

Exatamente 3 dias e 18 horas.

E pensar que já fazia mais de cinco meses desde que entrara ali. Era quase aterrorizante. A solidão, a falta que sentia de sua família e vendo Harry a cada minuto. Se ainda não havia enlouquecido, iria enlouquecer no caminho de volta. Mais cinco torturantes meses.

Não iria aguentar. Não mesmo.

Louis apenas queria um milk shake e sentar em um banco qualquer na praça perto de sua casa, com o sol em seu rosto e sem um garoto para desgraçar sua cabeça. Suspirou, empurrando seus óculos que insistiam em escorregar pelo seu nariz. Olhou de relance para Harry, sentado não muito longe, abraçando suas próprias pernas e parecendo estar em outro mundo.

O que não era mentira, de fato.

Haviam passado as últimas 12 horas em função da nave. Ainda estavam longe de terminar, já que tudo tinha que estar perfeito na hora do pouso: todos os motores, o nível de combustível e todo o sistema que os controlavam. Louis pensou em ir dormir, talvez acordar quando já estivessem chegado e fingir que estava tudo bem. Mas não conseguiria simplesmente fazer isso.

O olhar de Harry para o nada o deixava um tanto quanto inquieto, as palmas de sua mão formigando. Louis não merecia Harry. E isso era a única coisa que ele podia processar no momento, enquanto sua mente gritava Harry. Quando acordava e ele não estava ao seu lado, quando ia correr na esteira e Harry não chegava com uma nova piada e principalmente quando sentia a solidão vindo com tudo contra si e só conseguia pensar em ficar perto do outro. Apenas conversar ou até mesmo ficarem sem falar nada por horas, pois realmente, tudo o que precisava saber estava em seus olhares e em seu toques.

E Deus, ele estava ferrado.

Louis estava decidido que não iria ir embora de Marte sem tentar. Não iria mesmo.

"Me desculpe." Murmura, Harry vira a cabeça para si no mesmo instante. Quase assustado. "Merda, isso realmente não ajuda em nada, não? Mas... Acho que não consigo evitar fazer isso. Te machucar. E isso me machuca tanto também, você não faz ideia."

Harry continua com seus olhos vibrantes e agitados sobre si, esperando algo a mais. Esperando Louis dizer algo a mais.

"Eu pensei que iria conseguir viver sem você. Continuar vivendo sem você. E agora, uma semana depois, eu não consigo mais, Harry... Não estou pedindo que me perdoe." Louis faz uma pausa, olhando para o imenso planeta a sua frente. "Não faço ideia do que estou pedindo, na verdade. Só... Sinto sua falta. Senti sua falta por 8 anos, não acho que consigo mais por um segundo."

Era isso. Harry estava sugando toda a sua vida, e ele simplesmente se deixava ser sugado junto. Porque Harry era o amor da sua vida e ele percebeu isso tarde demais: quase cinco dias depois de ter deixado Styles sozinho em Harvard, enquanto bebia com amigos e se sentia afundado em completa solidão. A saudade parecendo que havia queimado metade do seu ser.

E naquele momento, Louis sentiu o mesmo sentimento daquela noite inundando seu peito. Saudade de algo que estava há poucos metros de você.

"Eu te odeio." Diz Harry, sua voz lenta, fazendo Louis morder os lábios instantaneamente pelo nervosismo. "Você é um idiota, sabia?"

"É, eu s-" Harry o interrompe, levantando de sua poltrona.

"Sabe? Eu acho que não." Avança alguns passos, apontando o dedo para Louis. "Você não sabe porra nenhuma, Tomlinson, e foi isso que fez nosso relacionamento desabar. Você. Por que não agiu como um adulto e ficou na cidade por mais alguns dias? Deus, eu nunca vou entender o que você fez... Eu te amava... Mas eu não sou o mesmo garoto estúpido, Louis! Agora eu enxergo quem você realmente é: egoísta pra caralho. E o pior é que eu te deixei me tocar mais uma vez."

Quando Harry termina, sentindo todo seu corpo tremer pela raiva, Louis o olha completamente atônito. Sentindo seus óculos deslizarem novamente pelo seu nariz, mas agora não se atrevendo a mexer um músculo sequer. Harry fecha sua mão, que antes o apontava, seus pés vão para trás como se estivesse cambaleando e então, Styles volta a sentar em sua poltrona.

Os minutos se arrastam, Louis continua em silêncio.

As mágoas do passado, aparentemente, nunca vão deixar os dois. Foi difícil demais esquecer um ao outro... Talvez por algum motivo.

Eu te amava. Eu te amava. Eu te amava.

Era como estar atrás daquela porta novamente. Indo embora para depois descobrir que nunca mais iria voltar. Mas nunca diga nunca.

"Eu sinto muito."

"Isso não vai mudar nada, Louis." Harry diz uma última vez antes de se levantar e ir para o quarto.

Louis definitivamente iria enlouquecer.
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Seu corpo parecia muito pequeno com todo aquele traje espacial. Sentado em sua poltrona - mais uma vez - Louis olhava o relógio digital em quase uma contagem regressiva.

Agora, faltava menos de uma hora.

Harry estava ali, sentado em sua poltrona de piloto. Desde aquela pequena discussão, não voltaram a se falar. Era uma tortura da qual Louis merecia e sabia disso, sua garganta quase fechando de tantas palavras não ditas. Não via a hora de dar o fora dali, correr até nunca mais ser achado.

"Tudo pronto?" Harry pergunta, sua voz nervosa e impaciente.

"Uh... Sim." Louis hesita, Harry não o olha.

E foi assim o primeiro contato entre eles nos últimos três dias. Com Harry ligando os equipamentos, a tela se iluminando com instruções e o sistema em início. O som dos motores era algo revigorante, tendo em conta o silêncio que Louis teve que aguentar até ali. Uma voz feminina pode ser ouvida, Hannah, a assistente virtual da nave. Em 5 minutos, eles estariam ao vivo.

O mundo iria vê-los, em alta resolução e tudo mais.

Então, tem um momento de quase paz, quando ambos percebem o que estão prestes a fazer.

Seriam as primeiras pessoas a chegarem em Marte.

Um pequeno flash de luz vermelha se acende. O show havia começado - na verdade, há muito tempo, mas agora, era real. Começam a clicar nos botões certos quando sentem os propulsores serem ligados. Harry falava animadamente com a câmera, como sempre sendo o centro das atenções.

Sinceramente? Louis não dava a mínima. Assistia Harry com um sorriso contido no rosto. E continuava o assistindo quando colocam o cinto de segurança e quando a contagem regressiva realmente começa.

Era real. Iriam pisar em outro planeta. Iriam pisar em Marte.

Era como um dejá vu do início de tudo. Harry e Louis lado a lado, os cintos quase os enforcando. Iria dar tudo certo, não? Mais do que o pouso.

E então... 3, 2, 1.

i need space - l.sOnde histórias criam vida. Descubra agora