XIII

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2037

O ar estava pesado quando a única coisa que se ouvia era o som de suas respirações. Harry olhava para o chão - para aquele exato lugar - enquanto fantasiava sobre uma explosão em meio ao espaço. Depois de alguns dias, ele conseguiu transformar a tristeza e a mágoa em... Raiva. Ou algo do tipo.

Desviou o olhar, tentando focar no seu trabalho. Ele estava ali para isso. Embora sua atenção estava focada em outra coisa da qual estava perto, muito perto.

E nem ao menos poderia fugir.

Louis estava em sua cama na beliche, todo seu corpo coberto pelo edredom. Eles não dormiram mais juntos, nem ao menos conversavam ou se olhavam nos olhos. E Louis tem que admitir que era a sua culpa, mas também, como iria conseguir continuar como tudo estava depois que aquilo aconteceu?

Fizeram sexo. E isso era a única coisa que rondava em sua cabeça. Na cabeça dos dois.

Nas quatro cabeças?

De qualquer maneira, iriam ter sorte se as imagens das câmeras não fossem vazadas por acidente (lê-se compradas), e Louis teria que voltar para o observatório que veio. Ou aproveitar a enorme quantia que estava recebendo e morar em alguma ilha no Caribe. Bem longe de Harry. Isso parecia bom.

Ouviu os passos de Harry chegando até o quarto, trancando a respiração por nenhum motivo aparente. Manteve a cabeça por debaixo do edredom, realmente não querendo ver Harry naquele momento. Em momento algum. Apertou o lençol com força até as dobras de seus dedos ficarem esbranquiçadas, a culpa o remoendo lentamente por dentro, enquanto o outro chegava cada vez mais perto.

A culpa de tê-lo deixado a oito anos atrás. A culpa de tê-lo deixado a cinco dias atrás, completamente nu e com suas marcas no corpo. Louis gostaria de fingir que nada aconteceu, mas ele não conseguia. Sua mente borrava e seus batimentos duplicavam.

E o som de seu calçado em contato ao chão parou. Harry estava parado.

Se preparando para ser esfaqueado ou ter sua cabeça cortada, o som dos passos de Harry voltaram, agora se distanciando. Assim como eles mesmos.

Louis pôde voltar a respirar. Finalmente.
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O banheiro da nave consistia em uma pia, um espelho e algo próximo a um vaso sanitário futurístico. Não tinha chuveiro - eram obrigados a se lavar com lenços umedecidos e depois colocá-los em um recipiente em que podia sugar toda sua água. Louis se trancou naquele lugar pequeno se sentindo sujo, e os lenços umedecidos não ajudavam muito, embora o deixavam com um cheiro agradável de baunilha com rosas. Era o que estava escrito na embalagem, ao menos.

Enquanto lavava seu cabelo com shampoo a seco - obrigado modernidade - ouve um grito da sala de comando, depois do som de um baque.

Harry.

Louis estava sem camisa e suas calças estavam caindo incansavelmente, mas ele foi o mais rápido possível abrir a porta e correr para o lado de fora, pensando no pior. Um derrame? Harry cortou os pulsos? Se sentiu nervoso de repente.

E seus olhos foram até um Harry sentado no chão, com o braço sangrando - na verdade, no máximo havia uns dois centímetros de um corte, que deixou o menor mais preocupado do que gostaria - Louis se ajoelhou ao seu lado, suas mãos ainda tremendo com o susto. Ou com a ideia de Harry ter se ferido seriamente.

"O que aconteceu?"

"Nada." Harry o olha, limpando a garganta quando percebe que o mesmo está sem camisa. "Pode ir colocar uma camiseta, eu sei me virar."

"Não seja idiota, eu cuido disso."

Louis vai até o kit de primeiros socorros da nave, pegando o que era necessário. Quando volta, se senta de frente para Harry, que ainda o esperava com sua cara emburrada. Pega o seu braço gentilmente - o mais gentil que conseguia naquele momento, com os olhos de Harry praticamente o furando - até pensou em colocar álcool não só na ferida do garoto, mas nele todo e então dançar ao redor de seu corpo em chamas. Mas isso não parecia muito legal.

"Isso vai arder." Avisa.

"Você acha que eu tenho 5 anos, Louis?" Harry ergue uma de suas sobrancelhas, o questionando.

"Pare de agir como uma, então."

Louis passa o algodão no corte com certa brutalidade, fazendo o outro dar um leve grito de dor. Harry aprofunda ainda mais sua carranca.

"Sou eu mesmo que estou agindo como uma criança?" Balança a cabeça repetitivamente, tentando não se irritar com o menor. "É um corte minúsculo, por que você ainda faz questão de cuidar de mim? Ou pelos menos fingir que fez algo de bom desde que chegou aqui. Além de ter me comido e me colocado de lado, é claro."

Apesar de tudo, Louis continua em silêncio, lá no fundo sabendo que merecia cada palavra daquelas. Cada soco no estômago. Engole em seco enquanto coloca um curativo bege e sem graça em seu corte.

"Obrigado." Harry murmura, ainda sentindo a irritação percorrendo seu corpo. Louis suspira pela décima vez.

Queria beijá-lo. Queria se deitar no chão com o outro mais uma vez, e nunca mais se levantar. Talvez mandar a NASA se foder, Marte e todos os extraterrestres ao seu redor. Se deteve quando Harry ficou de pé.

Abriu a boca para falar algo. Gritar tudo o que estava preso em sua garganta, pedir desculpas por ser um completo idiota. Dizer para ele que mesmo depois de todo aquele tempo, Louis o amava. Cegamente e completamente. Mas eles se olharam e seu coração bateu rápido demais. Louis odiava como Harry o fazia ficar: exposto como um adolescente apaixonado.

"Durma comigo esta noite." Louis murmura, uma última vez antes do outro sair de sua vista. "Por favor."

Harry para no caminho para o quarto, sua respiração pesada e difícil. Olha pra trás, para Louis, tentando transparecer as mínimas coisas possíveis . Sua cabeça sacode, dessa vez em negação.

"Eu... Não, Louis. Não."

Então, ele vai. Tomlinson tem que conviver com a ideia de dormir naquela cama gelada e vazia. Dormir sem agarrar os cabelos de Harry - estavam crescendo agora, droga.

Mas Louis já aprendeu a fazer isso uma vez. E ele irá aprender de novo.

Independentemente do quanto aquilo iria doer. Não iria cair de novo. Não ali, não quando seu trabalho e seu coração corriam perigo.

i need space - l.sOnde histórias criam vida. Descubra agora