O Engano

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O rapaz saiu da sala. O corredor estava vazio e bem gelado. O vento parou do lado de fora, as árvores já não balançavam mais.
Caminho pelo corredor calmamente e chegou a escada por onde veio, e parou. Levantou seu guarda chuva e o bateu contra o solo uma vez, o som ecoou pelos corredores. Novamente o fez esperar, 20 segundos... 40... 1 minuto. Uma porta bateu nos andares abaixo.
Começou a descer as escadas largas do colégio. Passou pelo portão por onde entrou, cartazes de trabalhos escolares penduravam na parede, desenhos, colagens, pinturas o fez lembrar de que sua vida escolar foi muito mais dura que a desses garotos.
Chegou em um corredor com uma porta de zelador a esquerda e em frente dava um pátio coberto com alguns bancos de cimentos. A sua esquerda no pátio, um palco e os banheiros. A direita, o refeitório ao fundo todo engradado com um pequeno portão que estava aberto, mais a dentro a cozinha. O lugar lembrava uma prisão.E no meio do caminho um portão a direita que dá ao lado de fora dá escola, é um ao lado oposto, na esquerda que dá nas quadras e arquibancadas. O clima ali parecia mais gelado. Uma chuva começou a cair levemente do lado de fora, uma garoa.
O gesto se repetiu, a ponta do guarda chuva bateu contra o solo uma vez e quase de imediato o portão para a quadra se abriu com um rangido. Seu corpo se arrepiou mas manteve a expressão séria e tomou rumo para fora. Assim que saiu já viu a arquibancada de cimento a sua frente que dava ao gradeado de uma quadra poliesportiva. A direita, a escadaria descia em dois jogos de degraus e mais um quadra a direita.
A chuva apertou. O rapaz se encolheu um pouco mais em sua capa de chuva.
No final dá escada, lá embaixo. Viu uma figura. Toda de branco, em um vestido. Tinha cabelos claros até o meio das costas.
Ele se apressou em descer e chegou perto dá figura. Era uma belíssima mulher, sua pele estava bem pálida, seu olhos pareciam enxergar do longe, parecia que via além dele. Ele decidiu tomar partido.

- Você me entende?

-... Sim.

- Quem ou o que a perturbou?

- ... Está... Tão frio.

Ela virou um pouco a cabeça ao responder. De seus olhos começaram a escorrer lágrimas de cor negra.
O rapaz arregalou os olhos. Ele já tinha visto esse ser antes.

- Nao... Não pode ser.

Ele se virou e disparou escada acima correndo o máximo que podia, adentrou pelo portão aberto e o fechou com o baque forte. Foi em direção ao corredor enquanto que dava na escadaria e parou no meio dos degraus. Pegou seu gravador e o ligou.

- Ainda é quarta-feira. A garota não é apenas uma alma, ela é...

Um forte grito vindo de fora o interrompeu. Ele largou o gravador e levou as mãos aos ouvidos. O barulho era insurdecedor. Ele se abaixou e fechou os olhos. O grito cessou. Ele apertou firme seu guarda chuva e ficou olhando pro corredor abaixo. Tudo ficou quieto. Puxou um cordão do pescoço com um pingente em forma de arvora e começou a proferir na língua antiga com a voz trêmula.

- Aryhana mater defénde me. Qui potestate vires. Quae natura viget.

Ele segurou seu pingente. E vou que seu gravador caiu pelos degraus abaixo. Ele o olhava pensando na possibilidade de o pegar. Desceu um degrau... Desceu mais outro... E outro. Deu uma espiada pelo corredor com parte do corpo apenas. Deu dois passos pelo corredor e se abaixou pra pegar o gravador quando escutou um murmúrio vindo dá direção do pátio que virou o choro de uma mulher.

- Droga.

Ele apertou o cabo do guarda chuva com força e o segurou em posição de defesa.
A mulher apareceu vinda do pátio. Suas roupas agora estavam totalmente sujas, parte de sua pele estava cortada, outras corroídas por vermes. Seus olhos já não tinham mais órbitas e do lugar delas escorria um liquido negro q pingava enquanto ela caminhava lentamente.
Ela parou de frente pra ele.
O rapaz tremia. Já tinha ouvido histórias sobre esse ser, sabia o quanto era aterrorizante. Mas... Ver um de perto era totalmente diferente. Ele sentia a morte vindo dá mulher.
Sem perceber, lágrimas involuntárias caiam de seus olhos.

A cabeça dá mulher começou a se mexer de lado, estalos de ossos se partindo vinham dela. Ela colocou suas duas mãos no chão, foi se abaixando e praticamente se deitou com a testa no chão.

O rapaz observava atento.

A cabeça dela levantou e ela ficou suas órbitas no cara. Sua cabeça se virou pra trás em um ângulo impossível é ela gritou outra vez.

Ele levou as mãos aos ouvidos sem largar o guarda chuva e quase desabou de tanta dor. O grito era intenso demais, ainda mais de tão perto. Ele usou o máximo de força que tinha pra se pôr a subir as escadas. Ele foi se encostando no corrimão, tentando ir o mais rápido que podia. Sabia que quando o feito cessasse, ela viria atrás dele.
O grito parou.
Os olhos dele se arregalaram quando ouviu passos rápidos do corredor abaixo.
Ele não pensou. Suas pernas agiram por conta própria. Disparou escada acima.
Chegou ao portão por onde entrou que estava a direita mas o ignorou, virou a esquerda e depois a direita novamente e saiu correndo pelo corredor que dava na diretoria. Percebeu seu erro. Tinha uma grande no final do corredor e um portão de ferro depois pra sair dá escola. Ele parou de frente ao portão, ofegante e olhou para trás.
A garota vinha devagar, sabia que tinha encurralado sua presa.

O garoto pegou seu gravador com uma mão e com a outra apontava o guarda chuva pro ser que vinha em sua direção.

- ... Eu me enganei... Não era apenas uma alma. Ela já tinha sido corrompida e eu a pertubei. Ela já se tornou o tipo Estranha. Eu tentarei me salvar, mas acho difícil. Quem encontrar esse gravador, por favor, entregue a Aurion na Alameda 12. Aos meus amigos, eu me despeço.

Ele colocou o gravador em cima de uma mesa ao lado de uma sala e se virou pra Estranha.

- Não me renderei, morrerei em batalha.

Seus olhos brilharam em um verde vivo. E no mesmo instante presas surgiram na garota que abria a boca encarando ele.

- Por Aryhanna. Liberte-se, Tizona.

Seu guarda-chuva brilhou esverdeado e ele o separou em dois, a luz emanada diminuiu e duas katanas surgiram uma em cada mão. Escorria um liquido verde de cada uma delas que pingava no chão.

A Estranha já estava a apenas 5 metros dele...

O LEGADO DOS CAMPEÕES - VICTOROnde histórias criam vida. Descubra agora