Uma surpresa? adoro

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12 de Abril, Quinta Feira

Custou  imenso levantar-me da cama hoje. Estava tão habituada as férias que mesmo que já tenha passado dois dias de aulas, ao terceiro ainda não estou pronta para isto. Eu sempre concordo com quem defende que “depois de um dia de férias deveria vir outro”. Não me cairia nada mal neste momento. Já só vou a escola por obrigação, tive nega a tudo, menos psicologia e geometria descritiva… (Não se estejam a rir nem a gozar porque sei perfeitamente que não tive nega a tudo, mas é a maneira que uso para enfatizar o “bonito” numero de negas que tive). Parece que já não vale a pena, porque no primeiro período só tive positiva a Língua Castelhana (como prenda de natal da professora que me deu um cinco), a Historia (sim, mereci porque me esforcei), a Psicologia (é MUITO fácil) e a Geometria Descritiva (só podia ser porque estou a repetir as mesmas coisas que já dei em Portugal. Passei de quatro positivas a duas! Que horror. Matemática e Física, nem se fala… qual é a minha de ter vindo para ciências só porque tem mais saídas? Não quero resposta, nem quero comentar mais!

- Ai, desculpe ‘setora! – digo nervosa, procurando o telemóvel, primeiro pelos bolsos das calças depois na mochila. Estou nervosa porque não o encontro e ele continua a tocar. Grrrr. Estava num dos bolsos pequenos da minha mochila. “Porque raio me liga este a esta hora?”

Fiquei espantada! Como é possível que o Saul me esteja a ligar a esta hora e em plana aula? Por acaso não vai a escola? Por acaso não sabe que eu ando na escola? É a primeira vez que isto acontece durante todo o ano letivo e por isso tenho a certeza que ainda que eu seja negra, os colegas que conseguiam ver a minha cara, viram-me corar. “Já passou Carol!”.

Assim que as aulas terminaram, ainda dentro do recinto escolar, tentei retribuir a chamada mas não atendia. Ao passar o portão sinto puxarem-me pelo braço esquerdo e involuntariamente desprendo-me com agressividade. Durante todo o ano lectivo nenhum dos meus colegas tivera intimidades suficientes comigo para tal contacto físico, por isso a primeira coisa que me passa pela cabeça é que me queiram assaltar. É verdade, tenho um pouco a mania da perseguição. Olho bem para a pessoa que recebeu o meu golpe e “quem diria”! É o Saul.

- Mas o que é que estas aqui a fazer?

-Ola. Dois beijos. Tudo bem? Sim eu também! – Ironizou o Saul com um ar de quem ficou afetado com a minha reação.

- Ai desculpa!- disse passando a mão pela sombra celha preparando-me para me desculpar. – É que desde que estou aqui, não estou habituada a que me toquem de tal forma e depois nem sequer esperava encontrar-te por aqui.

- Pois, liguei-te pra avisar que te esperava aqui, mas esqueci-me que aquela hora só podias estar na aula. Depois saíste com uma pressa que achei melhor agarrar-te! – Disse a ultima frase com um sorriso.

Tem um sorriso lindo, de engate, mas não deixa de ser lindo. No momento em que estou com ele, estou um pouco naquela de “afasta-te de mim” pelo que me contaram a Lorena e a Elena, mas não sei se é verdade por isso tento afastar um pouco esse sentimento.

- Está bem! – Retribuí o sorriso.- Estou desculpada, certo?

- Bem isso já depende… Vais ter de me mostrar que mereces!

Inclinei-me para o seu rosto e dei-lhe um beijo na face. Nem eu esperava, mas como passou-me por segundos a primeira coisa que me disse quando começamos a conversa, aproveitei.

- Humm… Estas desculpadas sim senhora!

Demos uma volta. Sentamo-nos no banco de um parque infantil a conversar sobre as notas da escola e ele contou-me que trabalhava com o pai no seu escritório como ajudante. O pai era dono de uma firma da construção civil. O resto da conversa foi sobre como era a minha vida em Portugal e como era a vida dele, obviamente, em Espanha, algumas aventuras de ambos, etc.

Mas não sabem o que é que aconteceu! Estávamos a meio da conversa quando o Fred telefonou. Levei bem a situação. Pedi ao Fred que telefonasse mais tarde e ao Saul disse que se tratava de um amigo meu de Portugal. Sei que não tinha de dar-lhe explicações, mas eu estava a sair com ele tendo uma “espécie” de relação com outro rapaz.  Sabendo que possivelmente sente alguma coisa por mim torna-se mais difícil saber que terei de falar-lhe do assunto. “ Tenho tempo. Entre nós não se passou ainda nada de mais para além de um beijo”. Mas sei que algum dia terá de ser. E não só terei de contar ao Saul sobre o Fred, como também terei de contar ao Fred sobre o Saul.

- Gostei da surpresa! – Disse quando nos íamos a despedir.

- Era essa a intenção. – Disse acariciando-me o rosto, como da primeira vez que nos encontramos, com as costas dos dedos.

B.C: O que se passou hoje não foi muito importante, mas começo a achar que eu e o Saul faríamos um belo casal. Quê? Esqueçam a parte do belo casal! Eu acho é que faríamos bons amigos…

A surpresa foi linda! Nunca pensei que fosse fazer algo assim para mim, porque no fundo não nos conhecemos a muito tempo. Parece que já sou alguém para ele. O que as suas amigas disseram-me era verdade.

Tenho de tomar uma decisão urgente quanto ao facto de contar o que está omisso para ambos. O Fred telefonou-me e não falamos muito tempo. O que falamos foi sobre as saudades que, sinceramente, do meu lado estão a diminuir, sobre as notas e o que possivelmente faríamos quando eu fosse de férias para Portugal.

Tenho medo dos meus sentimentos.

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