"O céu estava azul,como nas típicas tardes de primavera, o sol não estava muito forte nem muito fraco, o clima estava perfeito para uma caminhada ao ar livre. Apenas eu e Alexander como de costume, eu andando apressado para chegar logo aos bancos perto do lago, e Alexander andando lentamente olhando para a paisagem, para o céu, para a grama que percorria todo o chão, até mesmo para os pequenos insetos que vez ou outra repousavam em suas vestes. Ele via o mundo com outros olhos, via a beleza das coisas em seus detalhes, via o que eu não conseguia ver. Confesso inveja-lo por tal dom que possuía.
Chegando ao banco às margens do lago, nos sentamos e permanecemos ali em silêncio apenas observando as pequenas ondas que se formavam quando uma folha de uma árvore caía na água, quando Alexander quebrou o silêncio entre nós.
- Eu gosto de vir aqui com o senhor, meu príncipe- disse ele com aquela voz calma e suave que apenas ele possuía.
-Eu também gosto de vir aqui com você! Gosto da sua companhia, da sua simples presença que já torna meus dias mais leves. Eu gosto de você!" Era o que queria dizer a ele mas o que saiu foi...uma catástrofe.
- Também gosto de vir aqui. E a sua companhia não é de se jogar fora, considerando que é um reles serviçal.- disse em tom de brincadeira.
Automaticamente me arrependi de minhas palavras, ao olhar para a expressão de Alexander; uma mistura de tristeza e decepção; aquele olhar tristonho dele em minha direção fez eu me sentir como o completo idiota que sou.
Queria pedir desculpas, queria poder dizer tudo o que podia para deixá-lo feliz e com aquele sorriso...aquele sorriso que até me fez perder o foco em pedir desculpas, queria poder fazer isso, mas meu pai me ensinou a sempre manter a cabeça erguida, a nunca me desculpar com ninguém, muito menos com um simples serviçal.
Mas Alexander não era simples, não era apenas um serviçal, ele era Alexander, o garoto meigo que cresceu ao meu lado, que me conhecia melhor que todos, que sabia mais sobre mim do que eu mesmo.
Não encontrei palavras que pudessem expressar meu arrependimento, quando me vi já estava com as mão em seu rosto, aqueles olhos negros como a noite me encarando com uma mistura de surpresa e nervosismo, seus lábios rosados incontroláveis se sobrepunham um sobre o outro com pequenas mordidas de ansiedade. Não me contive, meu corpo impulsivamente se jogou contra o dele, meus lábios foram de encontro aos dele e...."
- Hã? O que está acontecendo? Quem está ai?- disse ainda meio sonolento e assustado ao lembrar do sonho que tivera a pouco.
- Sou eu senhor- disse Alexander com certo receio na voz, já era de se esperar depois da forma que tratei ele mais cedo.
- Entre. Já estou pronto para me levantar.
Ele entrou e foi direto as cortinas pesadas, abrindo as e deixando a luz do sol penetrar no ambiente. Odeio quando ele faz isso. Me levantei relutante e fui até o banheiro, onde Alexander estava a minha espera preparando o banho.
Assim que ele desviou o olhar para a janela, me despi e entrei rapidamente na banheira. Enquanto Alexander esfregava minhas costas como de costume, tudo em que conseguia pensar era em meu sonho; o rosto dele em minhas mãos, o calor emanando de seu corpo, aqueles lábios nervosos...
- A...Acho melhor eu mesmo me limpar desta vez-disse pegando bruscamente a esponja de sua mão.
- Mas senhor, essa é minha obrigação, faço isso todos os dias...-disse ele de forma confusa.
- Eu sei, eu só acho que está na hora de começar a me banhar sozinho, sabe, já estou bem grandinho.
Maldição! Por que disse isso? Agora vou ter que me banhar sozinho todos os dias. Mas é melhor assim, não é certo ser tocado por um homem, pelo menos é o que meu pai, o rei, disse.
- Tudo bem senhor, como queira. Vou preparar suas vestes.- disse Alexander se levantando e voltando para meu quarto.
Ao terminar de me banhar, olhei atentamente por todo o banheiro para me certificar que ele não estava ali, sai da banheira e me cobri.
Alexander logo chegou com minhas vestes, ele estava se aproximando para ajudar a me vestir quando impulsivamente recuei.
- O que está acontecendo senhor?- perguntou Alexander com uma cara de confuso- O senhor ficou estranho toda vez que me aproximei esta manhã. Fiz algo de errado?
- Não...Não é isso,é só que...- nem mesmo eu sei qual é o problema, foi apenas um sonho louco como qualquer outro; superei e finalmente falei- Não é nada. Eu apenas fiquei me lembrando do que o rei sempre me dizia quando era pequeno...
- Não é certo ser tocado por um homem- disse Alexander com um suspiro e um sorriso no canto da boca- Eu me lembro das inúmeras vezes em que o rei disse isso ao senhor.
- É...como se ele também não tivesse um homem que o serve e o toca- falei com um tom sarcástico.
- O senhor sabe que o rei estava se referindo a outro tipo de toque, não sabe?
- Sim...claro que eu sei, eu apenas confundi as coisas- disse tentando disfarçar o meu claro constrangimento.
- Ha...- disse Alexander se aproximando com minhas vestes- acho que o rei pensara que o senhor e eu pudéssemos desenvolver certa afeição um pelo outro, já que passamos tantas horas juntos.
-HaHa...isso é...loucura não? Pensar que pudesse ter algo entre nós...-disse tropeçando nas minhas próprias palavras.
- Sim... até porque somos homens...e...e...e como ele gosta de ressaltar...não é certo ser tocado por um homem"- disse ele com certo rubor nas bochechas ao imitar meu pai- É melhor o senhor começar a se preparar, o dia será cheio hoje- continuou.
- Sim, é claro- respondi tomando minhas vestes de suas mãos.
- A propósito...o que era tão importante que queria me dizer mais cedo?
- O senhor vai descobrir logo...agora temos que nos apressar para os compromissos de hoje.***
A noite estava começando a cair quando um mensageiro da casa dos Kyle chegou ao reino.
- Vim a mando do rei George da casa dos Kyle. Ele me envio para lhe dar uma resposta sobre a proposta que foi feita pelo senhor - disse o mensageiro dos Kyle.
- Então meu rapaz...qual a resposta de seu rei George?
O rapaz pegou um pedaço de pergaminho do bolso de suas vestes e começou a lê lo.
-Eu, rei George da casa dos Kyle, declaro aceita a oferta de união entre as casas dos Graham e a dos Kyle, através do sagrado laço do matrimônio, entre o herdeiro dos Graham, Henry, e a herdeira dos Kyle, Elisabeth- o rapaz fez uma pausa para tomar fôlego e continuou- Chegarei ao reino dos Graham ao entardecer, para formalizar a nossa aliança e tratar dos detalhes da união.
- Ora que notícia formidável!-disse o rei alegremente- vamos providenciar comida e bebida para comemorar essa grande notícia, e não se preocupe em voltar para o reino dos Graham, já anoiteceu e seria imprudente te mandar de volta agora, os bosques são perigosos a essa hora. Vamos providenciar um quarto para que você passe a noite.-disse o rei ao mensageiro***
Estávamos passando pelo salão de conferências, indo para a cozinha, quando ouvi uma voz me chamando.
- Henry!- era o Rei/meu pai- Venha até aqui filho, temos que tratar de alguns assuntos importantes.
Adentrei o salão seguido por Alexander que estava logo atrás de mim. Sentei me à mesa enquanto ele ficara em pé ao fundo do salão.
- Então meu pai, o que é tão importante para que queira falar comigo tão cedo?
- Eu estive pensando no seu comprometimento com o seu reino,como futuro Rei que é, já que é o meu herdeiro mais velho- disse ele de forma calma e suspeita, o que será que ele quer?
- Diga logo o proposito desse assunto pai, não quero me atrasar para meus afazeres do dia- falei de forma impaciente.
- Esta bem, eu queria te preparar para a notícia mas vejo que já é um homem e pode lidar com grandes responsabilidades. -disse meu pai de forma ríspida.
- Grandes responsabilidades? Como assim? Eu já tenho muitas responsabilidades e você quer me dar mais ainda?
- Eu sou o Rei, Henry- gritou ele- Eu posso te dar quantas responsabilidades eu desejar.
- Esta bem!- respirei fundo e continuei- E qual é essa responsabilidade da qual está falando?
-Bem, eu quero...ou melhor, esta decidido, que você vai...
Meu pai foi interrompido pela chegada de minha mãe, mais ansiosa e nervosa do que de costume.
- JON! JON!- gritou aproximando-se- Eles chegaram ! Você não disse que chegariam ao entardecer?
- Foi o que o mensageiro disse...ele deve ter se enganado- falou o Rei tentando acalmar sua Rainha.
- Quem chegou?-disse confuso- É algum comerciante estrangeiro? Só isso deixaria você tão eufórica não é mamãe?- falei com um certo sarcasmo.-Mamãe teve um "romance proibido" com um certo comerciante estrangeiro que vinha ao nosso reino de tempos em tempos com especiarias e tecidos finos, mamãe era a responsável pela negociação. Pelo menos isso era o que eu pensava.
Um dia fui até a sala de negociações, para pedir ao comerciante um tecido novo para meu aniversário. Não poderia ter tido uma visão pior. Mamãe me fez prometer não contar a ninguém, ou ela seria apedrejada nas ruas da cidade. Sendo assim não contei a ninguém, mas aquela visão horrenda ainda surge em meus pensamentos nos momentos mais impróprios, como agora.
Mamãe está me lançando seu olhar mortal, papai está com cara de confuso assim como eu, então pergunto novamente.
-Então...Quem chegou?- digo, sem sarcasmo dessa vez.
- O rei George, da casa dos Kyle.- disse a rainha voltando a compostura.
- Ele e toda a família.- falou o rei com um sorriso malicioso em seu rosto.
- Ora! Deixem essa conversa para depois, não é educado os anfitriões não receberem os convidados- disse a rainha saindo em disparada pela porta. O que era um claro sinal de que deveríamos estar seguidora.
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Post Scriptum
RomanceEm uma época em que o poder é hereditário e tudo o que importa é manter a linhagem, sem importar-se com amor verdadeiro ou liberdade de escolhas, eis que surgem Henry e Alexander. Henry, um príncipe diferente dos outros, ao menos em seu interi...