Deveres em conflito

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Sigo firme até meu quarto, nenhuma palavra, nenhum som, nenhuma lágrima. Alexander Esta ao meu lado em silêncio, a ausência de palavras faz parecer que ele não quer ser notado, quer fingir que não está ali, que não está vendo minha situação vergonhosa, mas ele está. Ele está ali, eu não ouço suas palavras mas sinto sua presença, ouço seus passos apressados, ouço sua respiração calma e suave, sinto sua mão em meu braço, sinto seu toque firme e cuidadoso, sinto o quanto se importa comigo, mas será porque é seu trabalho ou...
- Senhor? - disse Alexander de forma calma olhando em meus olhos.
- Henry? - insistiu, agora com as mãos em meus ombros -você está bem?
     Estamos no meu quarto, estou sentado em minha cama olhando para Alexander, olhando em seus olhos, me perdendo na escuridão de seus olhos negros. Não consigo lhe responder, as palavras se formam na minha cabeça mas se perdem em meus lábios, meus olhos começam a queimar novamente mas desta vez não consigo segurar, sinto algo escorrendo por minha bochecha, estou chorando. 
       Alexander se aproxima e coloca seus braços ao meu redor, ele está me abraçando. Seus braços me amparam como nada pudera antes, ele me ampara como ninguém pudera antes, não posso evitar abraça-lo. Minhas mãos deslizam de meu rosto, seguem por seu peito, chegam até sua cintura e seguem até suas costas, onde meus braços o envolvem e nesse momento ele me segura mais forte, não a ponto de me machucar mas a ponto de me fazer sentir as batidas de seu coração e sentir como se nada fora de seus braços importasse, me fazendo sentir que tudo ficaria bem.
      Escutamos batidas na porta e impulsivamente nos afastamos, ninguém poderia me ver naquela situação, eu o príncipe, abraçado à um serviçal, isso é inadmissível. A porta se abre e o rei entra em meus aposentos, claramente embriagado; pelo vinho barato que servia em grandes ocasiões para não perder seu estoque pessoal da adega real. Ele estava andando na direção de Alexander, pudera ele estar tão alcoolizado a ponto de me confundir com meu serviçal? 
- Senhor? - disse Alexander calmamente mas com certa preocupação em sua voz.
     Antes que eu pudesse dizer algo meu pai lhe deu um soco no rosto. Alexander caiu no chão desorientado, o soco havia sido forte.
- SEU BASTARDO!- gritou o rei quase não conseguindo parar sobre seus próprios pés -Porque fez isso?
- Porque fez isso? Você nem ao menos sabe quem eu sou, como pode querer me culpar por algo? - falei alterando a voz claramente irritado.
Meu pai semisserrou os olhos em minha direção, parecia não reconhecer me. Agora ele está andando, ou melhor, cambaleando em minha direção, parando de frente para mim.
- Como você ousa falar desta com o seu rei?-disse ele com certa arrogância em sua voz.
- E como você' ousa vir até aqui, neste estado, me acusar por algo que eu sequer sei o que é?- falei tentando manter a calma.
- Ah você não sabe o que fez?- disse começando a rir - Então você não pediu para seu pequeno escravo inventar essa história barata de mal estar, apenas porque não tinha coragem de encarar sua noiva? 
Seus suditos? De encarar a mim e à minha decisão?
- Primeiro, eu tenho coragem de encarar o que tiver que encarar. Segundo, eu não pedi que Alexander inventasse uma desculpa por mim, eu realmente não estava me sentindo bem.-falei de firma ríspida - E a propósito, como você pode planejar o meu casamento sem ao menos me perguntar sobre? 
- Meu filho, o dia em que eu tomar minhas decisões baseados na opinião de outra pessoa além de mim  será o dia em que você vai ser coroado rei, pois eu estarei morto, queimando em uma pira em honra a minha morte e indo em direção ao mundo dos mortos -concluiu com aquele sorriso infeliz estampado em seu rosto.
- Pois bem, você escolheu fazer este casamento mas eu escolho não me casar, você não pode me forçar a casar com alguém que eu nem ao menos conheço.
- E você acha que eu conhecia sua mãe antes de me casar com ela? Você deveria agradecer por estar conhecendo ela agora, eu só conheci Genevieve no dia de nosso casamento .
- Claro, muito' obrigado pai!- disse no tom mais sarcástico que consegui.
- Ah pare com essa lamentação, mais parece uma princesa com todo esse drama. É só um casamento. Casamentos não passam de uma mera formalidade para formar alianças, são apenas negócios. E você, como príncipe e meu primogênito, deve cumprir seus deveres como tal.
- Mas é da minha vida que estamos falando. Não é uma batalha ou um baile, você não pode planeja-la como quiser.Você por acaso pensou que eu posso não querer me casar neste momento de minha vida?
- MAS ESTE É O SEU DEVER! - gritou o rei alterado- Por que eu teria tido filhos se não para formar alianças em nome do reino?
- Então eu sou só...só mais uma forma de negócio para você?- disse quase perdendo a voz. Neste momento meus olhos voltaram a queimar, mas fui forte e segurei as lágrimas que persistiam em querer transbordar de meus olhos.
- Claro que não- falou em um suspiro- Você é meu filho, você nasceu do amor entre mim e sua mãe. Você nunca será um negócio, mas tem seus deveres como príncipe assim como eu tenho os meus como rei. Não se esqueça que antes de ser rei eu fui um príncipe, eu sei que essa história de casamento pode parecer ruim agora, mas vai melhorar e assim que conhecer a princesa Elizabeth, você vai se apaixonar por ela assim como me apaixonei por sua mãe.
      Dito isso, ele virou e ainda cambaleando saiu dos meus aposentos, sendo acompanhado por seus guardas; minha mãe sempre ordenava que os guardas ficassem perto de meu pai em grandes comemorações, em pequenas comemorações, em todos os banquetes de todos os dias, ele sempre exagera no vinho.
       Após sua saída vou até Alexander, que está sentado em uma cadeira no canto do quarto. Ele está com a mão pressionada em seu olho, pobre Alexander, apanhou de meu pai em meu lugar e ainda teve que presenciar mais uma de nossas discussões, o mínimo que posso fazer é ajudá-lo. 
- Deixe-me ver isso -disse me aproximando e estendo as mãos em sua direção.
- Não é necessário senhor, estou bem -falou hesitante, mas antes que pudesse dizer algo mais eu já estava com um trapo molhado em mãos diante dele.
- Ora Alexander, eu sei que esta mentindo -falei com um sorriso inevitável no canto da boca- Eu te conheço desde sempre, sei quando mente e quando fala a verdade. E você claramente não está bem, venha, deixe-me ver seu olho.
- Mas senhor...
- Mas nada, tire a mão do olho e deixe-me limpa-lo -disse insistente.
- Tudo bem senhor -falou desistindo de questionar-me.
      Peguei o pano úmido e fui limpando o sangue que saia do corte feito pelo anel real de meu pai em seu rosto, o mais delicadamente possível, depois de ele ter sido pego pelo punho de meu pai em meu lugar não era justo faze-lo sentir mais dor, só porque não sou um poço de gentileza não significa que não posso tentar não machuca-lo. Com uma mão segurava o pano úmido, fazendo movimentos suaves limpando o sangue do rosto de Alexander, e usava a outra mão para apoiar seu rosto. Sua pele era macia como a pele de um bebê, suas bochechas rosadas, agora estão manchadas com o tom avermelhado de seu sangue . O calor está emanando de seu corpo, estamos tão perto, posso sentir o ar que sai de seus lábios e toca minha pele suavemente. Me distraio por um segundo e acabo apertando demais o pano úmido sobre o pequeno corte em sua pele.
- Ah -disse ele quase como um sussurro ao segurar em minha mão e fechar os olhos.
- Me desculpe, te machuquei?
- Está tudo bem senhor, não precisa se desculpar -disse abrindo os olhos novamente.
- Está brincando? Você apanhou do meu pai em meu lugar, e ainda teve um que ouvir outra de nossas discussões, eu não tenho que pedir desculpas apenas por tê-lo machucado agora mas também pelo mal entendido de meu pai -digo me afastando e me sentando em minha cama.
- Senhor, está tudo bem- falou se levantado e ficando à minha frente -Acho melhor o senhor se preparar para os novos compromissos da tarde, afinal o dia ainda está longe de terminar.
- Sim, esta bem longe de terminar -falei me levantando e indo relutante em direção a porta.

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