A chegada do caos.

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       Segui o príncipe até a entrada do castelo real, onde todos estavam formando uma enorme multidão ao redor das carruagens reais dos kyle- eram carruagens de madeira rosa, as mais raras de todos os reinos. Elas vinham do outro lado do oceano, eram necessários 10 dias e 10 noites para ir e voltar de navio. Muitos navios se perderam na imensidão do mar ao navegar as cegas apenas para conseguir essa bendita madeira rosa. O reino dos Kyle é o reino mais rico de todos os reinos, por isso só eles eram capazes de pagar pela madeira rosa preciosa. Fui tirado de meu devaneio por um puxão em meu braço. 
      Era a rainha Genevieve, claramente irritada por eu estar fora de minha posição, que é logo atrás do príncipe Henry. 
-Sério mãe? Precisa puxá lo desse modo?- disse o príncipe de forma ríspida.
- Ele pode até ser seu criado querido, mas eu sou a rainha e trato a criadagem como bem quiser- disse a rainha,arrumando o cabelo de Henry. O príncipe revirou os olhos e se virou em direção às carruagens reais.
      Primeiro saiu o rei George; gordo, barba grande, baixa estatura e ego gigantesco, tem todos os pré requisitos de um rei. Ele parou diante do rei Jon e aguardou o restante da família. 
      Primeiro veio a rainha Helena; pele clara, olhos castanhos, cabelos perfeitamente cuidados e longos, não muito alta, mas mais alta que rei George. Logo atrás veio a princesa Anna, a filha mais nova; era como uma versão oposta à da mãe, cabelos curtos e despenteados, pele queimada pelo sol, e uma reputação que a precede pelos reinos. Dizem que ela é o pesadelo dos Kyle que se tornou realidade, uma revolucionária diz ela. E enfim saiu a princesa Elizabeth, a mais velha e futura noiva de Henry; ao contrário da irmã, ela era quase como uma cópia da rainha, de uma beleza incomparável e invejada por todas. Não pude deixar de notar a troca de olhares entre ela e príncipe Henry, ao se posicionar ao lado da família e em frente a ele. Não consigo esconder, a verdade é como uma estaca cravada em meu peito, eu também a invejo.


                                   ***

       Estamos alinhados em frente a família real Kyle, a princesa Elizabeth fora a última a sair da carruagem -sua beleza é incontestável, pelo que ouço pelo Reino sua beleza é invejada por todas, sendo plebéia ou nobre, jovem ou mais velha, livre ou compromissada, todas as invejavam. Agora sei o porque de tal inveja, ela é realmente esplendorosa, uma beleza única, nunca havia visto tal beleza antes.
      Ao se aproximar ela olhou em meus olhos e não pude evitar a armadilha traiçoeira que são seus olhos, verdes  como as folhas das árvores em um dia de verão. Fui levado de meus pensamentos por um leve toque em minhas costas. Era Alexander, alertando que eu devia estar me curvando para a família real antes que minha mãe me lançasse seu olhar mortal. 
     Após algumas formalidades, que nem ao menos prestei a devida atenção, adentramos o castelo e seguimos para o salão de festas. A noite seguia tranquilamente, até que meu pai resolveu se levantar e pedir a atenção de todos.
- Meus caros súditos e membros da corte real. É com imenso prazer que anuncio a união das casas Graham e Kyle.
      Não entendi bem, como os reinos irão se unir? O único modo de unir dois reinos distintos é através de um...
      - Um casamento será realizado, para que a união seja selada - completou o rei.
      Enquanto todos brindavam e comemoravam a notícia fiquei imóvel, aquelas palavras ecoavam em meus ouvidos repetidamente, de novo e de novo sem parar. Senti meu coração se apertar e minha garganta fechar, como pudera ele fazer isso pelas minhas costas? Sou seu filho, seu filho mais velho, seu primogênito, eu deveria ser a pessoa mais próxima que ele tem, ele deveria ter me consultado antes de tal decisão.
      Antes que me desse conta meus olhos começaram a queimar, não podia ser fraco, não podia chorar, ao menos não ali na frente de meu pai e de todos, queria me levantar e sair mas continuei ali, imóvel, até que senti uma mão em meu ombro. Olhei para cima, era Alexander em toda sua glória me salvando novamente, antes que pudesse dizer alguma coisa ele já estava ao lado de meu pai dizendo sabe-se lá o que. Voltou ao meu lado e segurou em meu braço, me ajudando a levantar e caminhar até meu quarto.


                                   *** 


    A noite estava seguindo sua normalidade quando o rei fez o infeliz anúncio da união das casas de Kyle e Graham. No instante em que o rei comunicou à corte que tal união seria selada através do matrimônio, meu olhar foi de encontro ao príncipe que estava claramente surpreso por tal revelação. Ele estava completamente imóvel, seu olhar vago e repleto de raiva, não poderia imaginar o que se passa por sua cabeça nesse momento. 
       Eu como seu servo deveria tê-lo avisado, deveria ter cumprido meu dever e dado à ele a notícia assim que soube. Sou roubado de meu auto julgamento ao notar o olhar de Henry, seu olhar está completamente vazio, não há alegria, não há raiva, não tristeza, há apenas vazio, e então seus olhos começam a se avermelhar, todo o sentimento preço em seu interior está prestes a transbordar, não posso permitir que ele chore aqui na frente de toda a corte, de toda a família real, na frente de...na frente de seu pai, o rei coloca a honra e a masculinidade de um homem acima de tudo, se o príncipe chorar aqui na frente de todos será um sinal de fraqueza e desonra para com a sua casa.
       Decido então me aproximar de Henry para tirá lo de lá, ao tocar em seu ombro vejo seu olhar em minha direção, seu olhar perdido e desolado, ele tenta falar algo mas não estou mais ali para ouvi-las. Informei ao rei que Henry não estava sentindo-se bem e devo leva-lo até seus aposentos, o rei concorda e volta a falar com o rei George, volto ao lado de Henry o seguro pelo braço e o levo até seus aposentos.

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