Capítulo Treze

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Era sexta-feira, o último dia de trabalho de Mai no centro. O dia estava muito abafado e nuvens de tempestade se aglomeravam no horizonte. Vento forte e areia atingiam seu rosto enquanto entrava no carro de Marge para ir almoçar em casa.

O vento empurrava o carro na estrada e uma tempestade parecia se aproximar.

Ela ligou o rádio. O boletim meteorológico informava que havia um alerta de furacão em Jacobsville e cercanias. Mai tinha medo de furacões. Esperava não ter que enfrentar nenhum.

Almoçou com Marge, Nell e as meninas, mas quando se preparava para voltar ao trabalho, o céu já havia escurecido e o vento era forte.

- Não se atreva a entrar naquele carro - falou Marge, preocupada.

- Veja a cor das nuvens - disse Nell, olhando para o céu na varanda.

Estavam esverdeadas, avolumando-se de forma estranha, e o vento ficava cada vez mais forte. O som de uma sirene irrompeu como se fosse um trovão.

- É o alerta de furacão. Temos que ir para o porão, agora! - exclamou Nell, correndo para as escadas. - Venham!

Todas a seguiram até o porão, especialmente construído para o caso de haver furacões. Era reforçado com aço e tinha rádio, luz, água, mantimentos e baterias extras para os equipamentos. Ainda ouviam o som do vento lá fora.

Elas se trancaram no abrigo e sentaram no chão acarpetado. Nell ligou o rádio na freqüência da polícia. As notícias chegavam o tempo todo: casas destelhadas, celeiros destruídos, árvores caídas.

Mai pensava em Will, sozinho em casa, lembrando da avó que morrera numa tempestade assim. Não queria se preocupar, mas ele fazia parte de sua vida há muito tempo.

- Espero que Will esteja bem - murmurou Mai, quando a luz se apagou logo após um violento trovão.

- Eu também - respondeu Marge. - Mas ele também tem um abrigo em casa. Tenho certeza de que está lá.

A força da tempestade aumentava. Mai escondeu a cabeça entre os braços cruzados e rezou para que ninguém morresse.

Muito tempo depois, Nell abriu a porta e escutou por um instante antes de subir as escadas. Voltou logo em seguida.

- Acabou - avisou ela, chamando todos. - Ainda ouço trovões, mas estão bem longe. Já é possível ver um pouco do céu. No entanto, dois carvalhos caíram no quintal da frente.

- Espero que ninguém tenha se machucado - murmurou Marge, enquanto subia as escadas.

- Telefone para Will.  - pediu Mai a Nell. - Tomara que ele esteja bem.

Nell fez uma careta, mas telefonou. Embora discutissem, gostava de seu antigo patrão. Todos olhavam para Nell enquanto ela fazia a ligação. Ela desligou o telefone com uma expressão triste.

- Não está funcionando - disse ela preocupada.

- Poderíamos ir até lá - sugeriu Dawn.

Mai lembrou-se do que aconteceu na última vez que foi à casa de Will. Não conseguiria fazer isso novamente.

- Não podemos - disse Marge ansiosa. - Várias árvores caíram na estrada.

- Empreste-me seu celular - disse Nell a Marge. - Vou ligar para meu primo do departamento de polícia e pedir que descubra alguma coisa.

Essa era uma das coisas boas de se viver numa cidade pequena. A polícia logo descobriria se Will estava bem. Mai rezava em silêncio enquanto Nell esperava o primo atender. Eles conversaram. Ela agradeceu ao primo e desligou o telefone. Encarou todos com uma expressão nada animadora.

- O furacão atingiu a casa de Will e danificou a área do escritório. Ele foi levado para o hospital, mas meu primo não sabe qual é o estado dele - informou Nell, estremecendo ao ver a palidez de todos. Apesar das desavenças, todas o amavam.

Mai falou:

- Vou até o hospital, nem que seja a pé.

Elas conseguiram passar pelas árvores e alcançaram a rua. Ainda chovia, mas com menos intensidade. Marge telefonou para Barbara, que conseguiu que um bombeiro que não estava de serviço as levasse até o hospital.

Quando chegaram, Will estava sendo examinado na emergência. Tinha um corte na testa, uma faixa na cabeça e um machucado no ombro, mas parecia bem.

 Tinha um corte na testa, uma faixa na cabeça e um machucado no ombro, mas parecia bem

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Mai quase correu até ele. Quase. Mas viu uma mulher loura abraçando-o. Bella, em meio a lágrimas, soluçava, murmurando o quanto estava feliz por ele não ter sofrido nada grave.

Ela se afastou. Marge, Nell e as meninas se aproximaram dela, longe do campo de visão de Will e de Bella.

- Podem ir - falou ela. - Mas... não digam que estive aqui.

Marge assentiu, e todos concordaram. Mais explicações eram desnecessárias.

Enquanto Marge e as meninas iam até a pequena sala, Mai aguardou na sala de espera. Não devia ter ido hospital. Will não parecia estar aborrecido com Bella, apesar de Marge ter contado que estava zangado por ela molestá-la. Parecia contente, envolvendo o ombro de Bella com firmeza.

Por que continuava insistindo naquilo? O amor era um sentimento ruim. Um dia, ela prometeu, aprenderia a ignorar o que sentia por Will!

Não viu Bella passar pela sala de espera. Só olhou para cima quando Marge e as meninas voltaram.

- Ele ficará bem - falou Marge, abraçando-a gentilmente. - Tem alguns cortes e machucados, nada mais sério. Vamos para casa.

Will abotoava a camisa enquanto Bella segurava sua gravata. Mai nem mesmo se preocupara em vê-lo. Finalmente desistira dele. Jamais sentiu-se tão magoado.

- O cozinheiro vai preparar um delicioso café da manhã para você - disse Bella alegre.

- Não estou com fome. - Ele colocou a gravata. - Marge e as meninas se importaram em vir me ver, apesar da tempestade. Acho que Mai não se preocupou muito - disse amargamente.

- Ela estava na sala de espera - informou Bella. Ele franziu a testa.

- Fazendo o quê? - Bella encolheu os ombros.

- Chorando.

Chorando? Por que não entrou no quarto? Então lembrou-se que estava abraçado a Bella quando Marge e as meninas chegaram. Ele estremeceu. Ela devia ter pensado que...

Ele olhou para Bella com perspicácia.

- Terei que demitir o cozinheiro - comentou, com calculado desalento. - Com todos os estragos na casa e no celeiro, terei muitas despesas. Foi um péssimo ano para os pecuaristas. Bella estava imóvel.

- Quer dizer que pode perder tudo? - Ele assentiu.

- Não me importo de trabalhar duro. Será um desafio recomeçar novamente. Pode vir morar comigo, e cuidar da casa...

- Minha tia convidou-me para passar o verão com ela, nas Bahamas - respondeu Bella, imediatamente. - Sinto muito, Will, mas não sirvo para este tipo de vida. - Ela sorriu. - Foi bom enquanto durou.

- Tem razão - disse ele, escondendo um sorriso.

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Avassalador -AdaptaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora