Antoniella, mais uma vez, me acordou às 6h. Ah, como eu odeio acordar cedo!
Me levantei. Na verdade, rastejei como uma lesma para fora da cama. Lavei o rosto com água gelada, tentando despertar. Não deu muito certo.
A primeira aula seria ballet, então vesti a meia-calça, o collant e as sapatilhas de ponta. Prendi o cabelo em um coque sem franja e me alonguei rapidamente, usando a cabeceira da cama como apoio. Desci para a sala de jantar para tomar o café da manhã.
A mesa de café já estava posta e papai me esperava sentando à ponta da direita da mesa de 14 lugares, como era de seu costume.
Sentei-me ao seu lado e ele me contou o motivo de ter chegado tão tarde na noite anterior. Me explicou que havia conversado com o psicólogo e que, por eu estar sendo uma boa menina, merecia um presente.
De debaixo da mesa ele tirou uma pequena caixa embrulhada em um gracioso papel de presente cor de rosa. Uma fita de seda dourada finalizava o embrulho com um lindo laço. Rasguei o delicado papel e abri a caixa que tinha dentro. Encontrei um lindo celular, grande, preto e reluzente. Era tão fino que parecia que iria quebrar se o apertasse.
- Para mim? - Perguntei, quase emocionada.
- Sim, filha. Você vem se comportando como uma menina muito responsável e acho que você merece esta confiança.
- Ah, papai! Muito obrigada! - Dei um abraço e um beijo estalado nele.
Meu pai sorriu por alguns segundos, mas seu rosto voltou a ser severo, como de costume.
- Obviamente, há regras para usar o aparelho. - Ele pegou um envelope branco, que aparentemente estava cheio de folhas impressas e me entregou - Só poderá usar o celular depois que ler todas as minhas exigências de uso. Entendido?
- Sim, papai.
Ele chamou Antoniella e lhe entregou meu celular e uma cópia das "regras de uso". Explicou para ela que eu só poderia começar a usá-lo quando terminasse de ler as regras. Antoniella prontamente concordou com cada palavra de meu pai e nos deixou a sós novamente.
Logo, papai anunciou que queria treinar meus idiomas. Iniciou uma conversa qualquer em alemão que se estendeu até o final de nosso café.
***
Após uma tarde tediosa de estudos, fui para meu quarto e devorei as regras de papai. Nada exposição na Internet. Nada de usar o celular nos momentos de estudo. Nada de comunicação com desconhecidos e blá, blá e blá...
Assim que terminei de ler as 35 páginas muito bem detalhadas sobre restrições e permissões, corri para encontrar Antoniella e pegar o meu monstrinho. Tinha uma hora livre antes do jantar e já tinha meus planos de coisas a explorar.
Com meu celular em mãos, comecei a personalizá-lo. Troquei o papel de parede, tirei algumas fotos, baixei alguns jogos... Coloquei WhatsApp...
Abri minha lista de contatos e... Só tinha papai e Antoniella! Ora, eu iria precisar de alguns amigos para mandar mensagens! Pensei em abrir uma conta no Facebook, mas essa rede social era proibida pelas regras.
Procurei no Google e encontrei alguns links de grupos. Acabei entrando em um que o tema principal de conversas era livros variados. Chamava- se "LOUCOS POR LIVROS" e tinha uns duzentos membros. Conversei um pouco com o pessoal que estava online naquele momento e depois mandei um "Oi" no privado de quem mais gostei.
Antoniella me avisou que o jantar estava servido. Deixei meu celular em cima do criado-mudo e desci para o primeiro andar. Era contra as regras usar celular durante as refeições.
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A pequena do papai
RomanceÍris é uma menina de doze anos que cresceu dentro da bolha de proteção de seu pai, Fernando.Ele sempre considerou que sua filha é frágil e inocente demais para enfrentar o mundo sem sua supervisão. Porém, encorajado pelo psicólogo de Íris, ele decid...