Trouxe a família para conhecer o local da sua infância. Parou em frente à velha cruz a beira da estrada. Era ali que faziam as novenas para que chovesse em tempos de seca. Ele desceu. Mirou a câmera fotográfica e por ela viu um dos braços da cruz se mover chamando-o. Olhou para os lados. Atendeu o chamado. Quando bem próximo, os dois braços da cruz lhe deram um forte abraço e do cruzamento dos dois paus começou a escorrer lágrimas de sangue. Sua esposa e a filha não viam nada. Fones no ouvido. Em misto de assombro e compaixão começou a chorar também. Ouviu uma voz baixinha vindo do interior da madeira: — Vá embora, vá embora. Esse local tem rancor dos filhos que o abandonaram. — Ele olhou de lado e viu dezenas de vultos saindo do bambuzal pairando sobre o capim ralo em sua direção. Livrou-se dos braços da cruz, ligou o carro, arrancou em disparada. De tão acelerado encontrou a morte quando a porteira se estreitou em sua frente e o carro colidiu com o toco grosso do lado esquerdo.
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A INSANIDADE EM TREZE ALFINETADAS
TerrorOfereço ao leitor três estocadas com treze contos minimalistas (nanos, micros e minis) onde cada um se torna uma alfinetada na noção de sanidade. Histórias fora da curva da normalidade pinçadas dos microcontos inspirados durante o Prêmio Escambau de...