Pesadelos duradouros

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Um, dois, três, quatro, cinco são os gatinhos azuis! Seis, sete, oito, nove são os que fazem miau, miau!

Havia três crianças cantando. Elas corriam por o que parecia ser um quintal gramado. "O quê será que faz o décimo gatinho?"
"Ele deve miar também. Duh!", um garotinho de no máximo 8 anos respondeu.
"Acho que ele fala!", disse a outra, talvez de 6 anos.
"Sem essa! Gatos não falam.", o garoto cruzou os braços. "Ele mia, só que longe dos outros. Tá?"
"Aposto que ele é sortudo!", a garota que fez a pergunta disse derrepente. "Dez é um número de sorte!"
"O quê? Por quê?", a outra garotinha perguntou.
"Ele não está miando como os outros!", ela disse, sentando na grama. "E também-"
"Acho que sua mãe tá te chamando.", o garoto olhou para a direção de uma casa de madeira.
"A mamãe? Ah não...", a garota murmorou.
"Vai lá! Depois você volta.", a garotinha disse.
"Tá bom.", ela se levantou e foi em direção a casa. "Depois eu vejo vocês!"

Um, dois, três, quatro, cinco são os magos amarelos! Seis, sete, oito, nove são os que fazem... xiu!

"Cadê o papai?", a garota perguntou. Ela mal conseguia ver no quarto escuro. As únicas iluminações vinham das janelas, em que a luz do sol era quase totalmente bloqueada pelas cortinas cinzas velhas.
"Ele precisou sair, querida.", uma mulher disse de costas. "Mas venha aqui. Eu preparei outro feitiço, esse vai ser bem mais forte do que o último."
"Eu não sei se quero testar esses feitiços de novo...", a garota falou relutante.
"Como não?!", a mulher parecia chocada. "Você lembra o que conseguiu fazer na última semana?", a mulher perguntou, se curvando para se aproximar mais da criança.
"Lembro...", a garota olhou para o chão sujo e com manchas.
A mulhar voltou a posição normal e fez um movimento com os braços. "Então vamos, querida...", a mulher disse. Ela moveu os braços como se puxasse algo aberto e alguns segundos depois uma luz amarela surgiu, tomando a forma de vários pequenos raios. Logo depois, a magia e sua luz eram tão fortes que os vários objetos do quarto eram empurrados para as paredes.
"Mãe, o que tá acontecendo?!", a garota perguntava enquanto protegia os olhos, da luz forte, com o braço.
"Shhh. Não se preocupe meu anjo. Não vai doer nada."

Um, dois, três, quatro, cinco são os moços brancos! Seis, sete, oito, nove são os que fazem um pedido!

"PAI!", a garota gritou enquanto corria até um homem jogado no chão de madeira. "Eu fui chamar ajuda! Eles... acho que... eles estão vindo...", ela falou ofegante. Lágrimas começavam a rolar pelo seu rosto. "Vai ficar tudo bem...", ela se abaixou, querendo tocar no homem.
"Eles não vem...", o homem falou, tão baixo que ela não tinha certeza se ouviu. "Eles não vem.", ele se esforçou novamente. "Eu não vou morrer disso..."
A garota olhou para as ataduras dele, que começavam no pescoço e continuavam até o torso. O cheiro de sangue no ar. Uma mancha vermelha ficando cada vez maior.
"Eu preciso que você faça algo por mim. Você precisa fazer isso parar...", o homem se mexeu no chão, tentando se levantar. Sem sucesso.
"Eu não posso fazer isso.", ela cobriu os olhos com a mão, tentando impedir todas as lágrimas que caiam. "Eu não posso... não posso.", ela soluçou.
"Você é a única que pode.", ele sorriu. Ele levantou levemente. O sangue já sujava o pescoço e uma parte do cabelo prateado dele. "Vai dar tudo certo."
Aqueles segundos de silêncio pareciam horas infinitas. Ela levantou o braço e uma luz branca envolveu sua mão, logo se tornando vívida e com forma triangular.
O homem olhou e sorriu. "Vai ficar tudo bem. Não se preocupe, Reylee. Eles vão levar você pra um lugar melhor..."
"Pai..", a garota disse com a voz trêmula. "Me desculpe...", ela disse enquanto rapidamente atacou o homem. A luz branca da magia se misturou com o sangue que espirrou pelo chão de madeira.
"Isso...", foram as últimas dele, juntamente com um sorriso.

Dez é o número da sorte! Quem ficar com ele vai-

Reylee acordou, quase saltando da cama. Suor leve na testa. Ela olhou na escuridão que estava o quarto. "Que inferno!", ela reclamou baixinho. Como ela odiava ter esses pesadelos que duravam quase uma noite inteira.
Ela se levantou da cama, chutando algumas roupas que estavam jogadas no chão, e foi até a pequena janela do quarto. "Porra... ainda nem amanheceu.", ela disse. Ainda daria tempo de voltar a dormir.
De volta a cama, ela se jogou, rosto no travesseiro. Ela só tinha que manter as lembranças do passado distantes. Bem distantes.

Towers - Conflitos AncestraisOnde histórias criam vida. Descubra agora