XI

116 9 8
                                    


Anne.

A cidade continua cheia e reluzente. Eu havia me esquecido de como era respirar o mesmo ar que milhares de pessoas, ser empurrada para dar espaço à passagem, poder finalmente reclamar do cheiro das pessoas que se esfregam em mim. Enfim, estou vendo pessoas. E isso não é uma coisa muito comum na minha vida agora.
- Aonde estamos indo? - pergunto pela milésima vez. Estamos andando a minutos, esse tempo trancada em cativeiro sem exercícios tomaram a minha já em falta, flexibilidade.
- Calada - continua andando. Olhando por esse lado, Jeff parece um vampiro, sempre escondido nesse capuz com as mãos nos bolsos, quase intocável ao sol, escondido nas sombras. Porém, ele também pode chegar ao nível de cachorrinho assustado. Sim. É melhor pensar desta maneira.
- Meus pés estão doendo! - me curvo. - Você quer o quê? Me matar de tanto andar? - resmungo. Idiota.
- Existem outras formas de te matar, se quer saber - me lança um olhar mortal. Bufo. Que vida injusta. Odeio me sentir um escrava. Tenho até medo de que ele assista Cinquenta Tons de Cinza. Deus me livre e guarde. Não quero dar uma de ninfeta. Só de pensar nisso... Lolita também não foge disso.
- Vai me falar ao menos o que está pensando? - chuto pedrinhas pela calçada. Jeff me ignora. - Argh. Devíamos ao menos nos falar já que ambos parecemos dois ladrões góticos ambulantes - dou pulinhos.
- Não me compare a você - zomba. Não consigo enxergar seu rosto. Sua máscara. Quero vê-lo novamente. Ignore, Anne. Ignore.
- O quê?? - franzo o cenho. - Como pode me tratar assim?! Eu sou a vítima aqui - cruzo os braços.
- Anne, fica caladinha, tá? Senão o seu castigo irá chegar mais cedo - entra em uma loja. Talvez seja notável o fato de que é uma loja de armas. Só não sabia disso porque estava ocupada demais brigando para ler a placa, ou até para reparar na decoração assustadora.
Diversos tipos de pessoas lotam a loja, dos mais assustadores aos mais estranhos pais de família, aquele tipo de pessoa que parece ser santinha demais, sabe? Todos eles nos encaram como se fôssemos dois pedaços suculentos de carne. Jeff, principalmente. Sinceramente, estou me sentindo uma fugitiva, uma fora da lei. Um destino bem diferente do que os meus mais queriam pra mim.
Droga.
- O que temos pra hoje? - o homem assopra fumaça de cigarro no ar do estabelecimento.
- O mesmo de sempre - um de seus dedos toca o balcão. Parece tirar uma poeira. - Tive um problema com a antiga mercadoria - me lança um olhar convidativo. Acordo dos meus devaneios e em um salto estou ao seu lado.
- Entendo - nos oferece um. Com apenas um aceno, Jeff dispensa por nós dois. Sempre me perguntei se Jeff fumava, ele não parece ser do tipo que não o faria.
- O que estamos fazendo aqui? - sussurro. O ar está ficando incrivelmente desconfortável.
- O que parece? - bufa. Balanço a cabeça sem entender. Quero demonstrar minhas emoções a partir de agora. - Eu sou assassino. Preciso de ferramentas - outro cara aparece e joga um saco em cima do balcão. O barulho é... Chamativo.
- Está tudo aqui? - averigua o saco. Seus olhos demonstram satisfação. Só espero que tudo isso não seja para a minha morte.
- Claro. Nossos serviços não são incompletos - cruza os braços. Os dois trocam um olhar de alguns segundos e logo o pacote é depositado na mão do mesmo. - Te vejo na próxima vez - mexe os lábios em meio ao cigarro.
- Se tiver próxima - Jeff carrega o saco e caminha até a saída. Não demoro a fazer o mesmo. Praticamente todo mundo está observando a nossa saída. Eu não quero ser engolida.
A luz é a primeira coisa que sinto ao sair daquele lugar. Sinto como se pudesse ser queimada a qualquer toque daquele calor. Pensando bem, eu preciso de um bronze. Em breve voltarei pra lá e não quero fingir que isso não aconteceu em minhas memórias.
Ele não está olhando. O mesmo caminha normalmente em minha frente. Me ignora. Eu não estou aqui. Não existo. Jeff não está prestando atenção em mim. É a minha chance. Eu preciso. Por mim. Por nós. Pai. Mãe.
Estou ficando livre.
Irei correr e tudo isso ficará para trás. Quem sabe um dia eu conte a alguém ou o encontre nas sombras. Quem sabe um dia. Mas agora, eu preciso fugir.
- Sinto muito, Jeff - digo. Porém, não há voz. Mas é melhor assim. Giro minhas pernas e me convenço de que isso é o certo. De que não vou me arrepender e ser torturada depois. E então corro. Corro como nunca fiz antes. Porque é disso que se trata a vida juvenil. De escolhas. E estou fazendo a minha.
Talvez eu tenha feito algo errado. Será que fiz barulho demais? Ele ouviu a minha voz...? Só entendo que estou correndo no meio da rua agora porque não aproveitei bem as oportunidades. Estou exausta. Jeff vai me matar. Há ódio em seus olhos. Será que ele consegue ouvir o meu coração, as batidas em meu peito?
Desde pequena, eu nunca fui muito chegada a correr. Sempre o tipo de garota que se esconde atrás da barra da saia da mãe, e que é muito tímida com outras pessoas. Contudo, esse não é o caso agora. As ruas estão se tornando mais curtas, os becos mais estreitos, já estou cansada de pessoas esbarrando em mim e me xingando, ninguém entende que só quero sobreviver?
Que droga.
- ANNE! - grita. Não faço menção de me virar. Ver seu rosto só irá me assustar. - PARE JÁ!
- Não, não... - entro em um beco. O mesmo está cheio de latas de lixo. Não consigo enxergar nada. Seus passos ecoam em minha cabeça. Jeff está bem atrás de mim.
- Te achei - para há alguns metros de mim. Punhos cerrados. - Vamos para casa.
- NÃO! - com a força que me resta, seguro um saco de lixo e lanço nele. Com rapidez, procuro uma saída e encontro uma abertura na cerca no fim do beco. Mesmo com dificuldade, me espremo ao máximo, sinto dor, o metal afiado está me cortando. Jeff está correndo em minha direção. Passo. Eu estou segura agora.
A abertura me levou à outro beco e mais latas de lixo. Consigo ver a luz e mais carros. O mesmo está vazio. Ele não consegue passar. Deve ter dado a volta. Não consigo achá-lo. Jeff não está lá.
- Tenho que fugir - olho ao redor. Nada. Ouço o som dos carros. Da liberdade. Caminho até ela. Vou para casa. E quando chegar, contarei a polícia tudo o que aconteceu. Ou...? Eu devo contar? Meu peito dói só em pensar em vê-lo preso. Sofrendo. Mas não posso me render. Depois de tudo o que me fez...
Caminho em passos largos e decididos. O clima está tão quente. Meu rosto deve estar brilhando de suor, pois meus cabelos grudam nele. Não sinto mais as roupas. Perdi a conta de quantas vezes o tênis saiu do meu pé.
É a minha liberdade!
Tudo acabou. Estes meses... Tão terríveis. Será que procuraram por mim? As pessoas estão preocupadas comigo? Voltarei à escola!
- Vamos pra casa - sinto uma dor aguda em minha cabeça. Meus pés estão girando. Os sons estão confusos. Não enxergo nada. Os carros... Por que estão vindo para cima de mim? Ai. Meus ouvidos. Vou... Vomitar. Caio em seus braços. Observo sua máscara. Ele parece sorrir. Seus olhos... Impassíveis.
- Ratinha.

{...}

Torradas.

Sinto o cheiro de torradas. Como as que minha mãe fazia. Fresquinhas. Quentinhas. Mataria por uma mordida nelas agora.
Vejo uma luz. Algo que aquece meu rosto. Ela está me cegando. Que dor de cabeça... Onde estou? Minha visão não está totalmente estabilizada.
- A-ah - me remexo. Braços imobilizados. Pernas também. Presa em uma cadeira. Posso sentir meus pulsos sangrarem. Essas cordas vão me matar antes dele. Mas... Onde ele está? Olho em volta.
Metal. Ouço o som de metal, tesouras batendo, alguém amolando facas. Vejo sua sombra. Jeff com seu rosto colado ao meu. Com seus olhos curiosos. Malditos olhos...
- Finalmente - puxa uma cadeira. Senta em minha frente. Sou obrigada a olhar para ele. - Queria começar a diversão sem você - resmunga.
- D-desculpe - desvio o olhar. A sala está escura.
- Oh, por que você está assim? - toca meu rosto. Estamos cara a cara. - Não precisa se desculpar. Preciso se divertir - levanta. Anda em torno de mim.
- Q-que tipo de diversão é esta? - engulo seco. - Em que apenas um está amarrado...?
- A minha - puxa meu cabelo. Gemo de dor. - Relaxe. Vai ficar ainda melhor - Clic. Clic.
Tesoura.
- Jeff...- tento olhar para ele. O mesmo não sai das sombras.
- Você precisa de um novo visual - segura uma mexa do meu cabelo. - Tenho nojo de olhar para você - Clic. A pequena mexa cai ao chão.
A minha mãe adorava o meu cabelo!
- Por favor! É a única coisa que tenho dela!- imploro. Não demoro a chorar. Porque estou muito machucada. Não estou forte o suficiente para não chorar. Soluço. Desejo que ele não posso me escutar. Jeff se alimenta da minha dor.
- Ela vai adorar te ver assim lá do céu - sussurra.
- No inferno.

Olá! Tudo bem?
Hoje eu resolvi terminar mais um capítulo e mostrar para vocês 😍
Espero que estejam gostando, porque estou me esforçando muito para fazer dar certo!
Então votem, compartilhem, e principalmente, leiam!
Continuem acompanhando o nosso assassino queridinho e a nossa vítima 😈
Tchau!

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Jul 13, 2017 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Transformando A Assassina - [ Jeff The Killer]Onde histórias criam vida. Descubra agora