Capítulo Um

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- Eu não irei me casar por causa da aparência dela, Adil. Irei me casar devido às inúmeras razões pelas quais ela se tornará uma boa rainha de Al-Omar. Se eu não quisesse nada além de aparência, poderia ter me casado com minha última amante. A última coisa de que preciso é da distração de uma mulher bonita.
Princesa Samia Binte Rashad ai Abbas estava sentada, imóvel, do lado de fora do escritório particular do sultão Al-Omar, em sua casa de Londres. Ele não tinha sido informado de que ela estava lá, embora tivesse mandado chamá-la. A secretária dele deixara a porta entreaberta, inadvertidamente permitindo que Samia ouvisse a voz profunda do sultão e suas palavras terríveis.
A voz reapareceu agora marcada por cinismo:
- Certas pessoas sempre especularam que, quando chegasse a hora de eu me casar, eu escolheria uma noiva de aparência conservadora, e eu detestaria decepcioná-las.
As faces de Samia queimaram. Ela podia imaginar o que a voz do outro lado do telefone respondera... Algo no sentido de que ela era sem graça.
Mesmo se não tivesse escutado aquela conversa, Samia já sabia o que o sultão de Al-Omar queria discutir congela. Queria pedir sua mão em casamento. Ela não conseguira dormir, e tinha ido lá hoje com a esperança de que aquilo tudo fosse um terrível engano. Ouvi-lo confirmar suas suspeitas foi chocante. E não apenas isso, mas ele evidentemente considerava o casamento um negócio fechado!
Samia somente o vira uma vez, oito anos atrás, quando havia ido a uma das lendárias festas de aniversário dele em B'harani, a capital de Al-Omar, com seu irmão. Kaden a levara lá antes que ela fosse para a Inglaterra a fim de terminar seus estudos, numa tentativa de ajudá-la a superar sua timidez crônica. Samia estivera naquela idade em que os membros se tornam desproporcionais ao corpo, os cabelos se eriçam devido aos hormônios da adolescência, e, na época, ela ainda usava os grossos óculos que atrapalhavam sua vida desde que era pequena.
Após um momento embaraçoso no qual ela derrubara uma mesinha com drinques, e todas as pessoas glamorosas tinham se virado para olhá-la, ela fugira em busca de um refugio, encontrando uma biblioteca parcamente iluminada.
Samia reprimiu a lembrança perturbadora ao ouvir a voz do sultão novamente:
- Adil, entendo que, como meu advogado, você quer se assegurar de que eu faça a melhor escolha, mas garanto-lhe que ela atende a todos os requisitos. A estabilidade e reputação de meu país vêm em primeiro lugar, e preciso de uma esposa que reforce isso.
Samia sentiu-se mortificada, Ele se referia ao fato de que ela era de um mundo diferente das suas mulheres usuais. Ela não precisava ouvir aquela conversa para saber disso. Samia não queria se casar com aquele homem, e certamente não iria ficar sentada lá, esperando para ser humilhada.
* * *
Sultão Sadiq Ibn Kamal Hussein desligou o telefone, todos os seus músculos tensos. Uma sensação claustrofóbica o levou para a janela, de onde ele olhou para a praça movimentada no coração de Londres.
Adiando o inevitável por mais um momento, Sadiq voltou para sua mesa, onde havia algumas fotos. Princesa Samia de Burquat. Ela era de um pequeno emirado independente, no Golfo Persa. Tinha três meias-irmãs mais novas, e o irmão mais velho tornara-se o emir reinante após a morte do pai deles, 12 anos atrás.
Sadiq franziu o cenho. Ele também fora coroado jovem, portanto sabia como era o fardo da responsabilidade. Quão pesado podia ser. Mesmo assim, não era tolo para achar que ele e o emir pudessem ser amigos, simplesmente do nada. Mas, se a princesa concordasse com esse casamento, e por que não concordaria? Então eles seriam cunhados.
Ele suspirou. As fotografias mostravam imagens indistintas de uma mulher magra de estatura média. Ela perdera o corpo rechonchudo do qual ele vagamente se recordava de quando a conhecera em uma de suas festas. Nenhuma das fotos a capturara de corpo inteiro. As melhores eram do último verão, quando ela retornara de uma viagem de navio com duas amigas. Mas, mesmo nas fotos impressas, ela estava entre duas garotas muito mais altas e mais bonitas, e um boné de beisebol praticamente lhe escondia o rosto.
A consideração mais importante ali era que nenhuma das fotos vinha de jornais. Princesa Samia não fazia parte do cenário da família real árabe. Ela era discreta, e construíra uma carreira respeitável como arquivista na Biblioteca Nacional de Londres, após se formar. Por essa razão, e muitas outras, ela era perfeita. Sadiq não queria uma esposa com um passado duvidoso, ou com qualquer vestígio de escândalo. Ele recebia atenção suficiente da imprensa sobre com quem saía ou não saía. E, para este fim, tinha mandado investigar a vida de Samia, certificando-se de que não houvesse nenhum segredo obscuro.
Seu casamento não seria como o de seus pais. Não seria movido por loucura e ciúme, parecendo um campo de batalha. Ele não afundaria o país num caos como seu pai fizera, por estar muito distraído com uma esposa que lamentava estar unida a um homem com quem não quisera se casar. Seu pai perseguira sua mãe, e era de conhecimento comum que, em sua obsessão para ter a renomada beleza, ela estava apaixonada por outro, ele pagara à família um dote fenomenal para tê-la. A constante tristeza de sua mãe mantivera Sadiq longe de seu lar pela maior parte de sua vida.
Ele precisava de uma esposa tranqüila e estável, que lhe desse filhos e o deixasse se concentrar no reinado de seu país. E, acima de tudo, uma esposa que não abalasse suas emoções. E, pelo que vira da princesa Samia, ela seria perfeita.
Suspirando, ele empilhou as fotografias e guardou-as num envelope. Não tinha escolha senão seguir em frente. Seus melhores amigos, o sheik reinante e seu irmão de um pequeno país independente, que fazia fronteira com o seu, haviam se casado recentemente. E, se Sadiq permanecesse solteiro por muito tempo, começaria a parecer instável.
Não podia evitar seu destino. Era hora de encontrar sua futura esposa. Ele interfonou para sua secretária.
- Noor, pode mandar a princesa Samia entrar.
Não houve resposta imediata, e uma onda de irritação o percorreu. Estava acostumado a ser obedecido no instante em que fazia um pedido. Reprimindo a irritação, porque sabia que ela se devia a algo muito mais profundo, à perspectiva de perder sua liberdade, andou em direção à porta. A princesa já devia estar lá, e ele não podia mais adiar o inevitável.

A Escolhida do SultãoOnde histórias criam vida. Descubra agora