A mão de Samia estava na maçaneta da porta quando ela ouviu um movimento vindo de trás, e uma voz:
— Está indo embora tão breve?
Era uma voz baixa e profunda, com um leve sotaque sedutor, e ela amaldiçoou-se por não ter escapado um segundo antes. Mas tinha hesitado seus bons modos lhe dizendo que não podia fazer aquela desfeita ao sultão. E agora era tarde demais.
Suas costas estavam rígidas de tensão, e ela virou-se devagar, firmando-se contra o impacto inevitável de ver um dos solteiros mais famosos do mundo de perto. Samia trabalhava entre livros empoeirados e artefatos! Não podia estar mais distante da vida que ele levava. Ele jamais iria querer aquele casamento depois que a conhecesse.
Todavia, quando seus olhos pousaram no homem parado a alguns centímetros dela, todos os pensamentos coerentes desapareceram de sua mente. Com sua altura magnífica e ombros largos, ele preenchia a porta do escritório. A pele era morena como a de qualquer homem do deserto, mas ele possuía os olhos azuis mais incríveis que ela já vira, e pareciam ver através de Samia. Vestido num terno escuro tinha quase dois metros de altura, com um corpo magro e musculoso que tiraria o fôlego de qualquer mulher. Aquele era um homem viril, reinante de um país de inimaginável riqueza. Samia sentiu uma leve tontura.
Ele deu um passo atrás e gesticulou uma mão para dentro de seu escritório.
— Lamento tê-la feito esperar. Entre, por favor.
Com o coração loucamente disparado, Samia passou por ele, e um delicioso cheiro masculino provocou suas narinas. Ela foi diretamente para uma cadeira posicionada diante da enorme mesa, e virou-se para ver o sultão fechar a porta, enquanto a olhava com intensidade.
A energia do homem parecia vibrar na sala e, quando ele se aproximou, um estranho calor se instalou na barriga de Samia.
A fisionomia dele era séria no começo, mas então um sorriso sexy curvou-lhe os lábios.
— Foi alguma coisa que eu disse? Samia o olhou em confusão.
— Você estava indo embora... — explicou ele. Ela enrubesceu.
— Não... É claro que não. — Mentirosa. — Desculpe-me... Eu apenas...
Ela detestava admitir, mas ele a intimidava. Samia podia levar uma vida tranqüila e desgostar de chamar atenção, uma personalidade segura que adotara, mas não era uma sombra completa. Todavia, ali, parecia estar se transformando em uma.
Sadiq dispensou seu pedido de desculpas com um aceno de mão. Sentia pena do desconforto da princesa, mas ainda estava reagindo ao calor que o percorrera ao ouvir a voz dela. Era uma voz baixa e rouca, e não combinava com a aparência desmazelada de Samia. Tão desmazelada quanto às fotos tinham predito, decidiu ele. Com aquela calça social e camisa abotoada até o pescoço, era impossível saber que tipo de corpo ela possuía.
Entretanto... A intuição masculina de Sadiq avisou-o para não julgar apressadamente... Ele sentiu um pequeno arrepio na coluna. Enfiou as mãos nos bolsos.
Samia podia sentir seu rosto esquentando, e teve vontade de olhar para baixo, mas resistiu bravamente. Tentou fazer o exercício que aprendera para lidar com rubores... O qual era: tentar enrubescer de propósito e, ao fazer isso, negar a ação reflexiva. Mas foi inútil. O calor horrível surgiu de qualquer forma, e pior que o usual.
Ela quase morreu quando ele estendeu uma mão.
— Nós já nos encontramos antes, não é?
Era isso que ela temera. E piorou quando ele continuou:
— Eu sabia que a conhecia, mas não me recordava de onde. Então, ocorreu-me...
O coração de Samia parou de bater. Ela rezou silenciosamente para que não fosse aquele momento horroroso que estava gravado em sua mente.
— Você teve um episódio infeliz com uma mesa cheia de drinques em uma de minhas festas.
Samia ficou tão aliviada que ele não parecia se lembrar da biblioteca que apertou a mão estendida, sua própria mão muito menor sendo envolvida por dedos longos. O toque dele era forte e quente, e ela teve de fazer um esforço consciente para não recolher a mão, como se ele a tivesse queimado.
— Sim. Eu era uma adolescente desajeitada. — Por que ela soava ofegante?
Ainda segurando sua mão, ele estudou-lhe os olhos.
— Eu não sabia que você tinha olhos azuis. Usava óculos antes?
— Eu fiz uma cirurgia a laser um ano atrás.
— Seu tom claro de pele deve vir de sua mãe inglesa? A voz do sultão era tão maravilhosa quanto ele.
— Sim. Ela era meio inglesa, meio árabe. Faleceu durante meu parto. Minha madrasta me criou.
O sultão finalmente soltou-lhe a mão.
— Ela morreu há cinco anos?
Samia assentiu e levou a mão para trás das costas. Encontrou uma cadeira atrás de si na qual se apoiar. Desviou o olhar daqueles intensos olhos azuis, como se ele pudesse ver a amargura que ela sentia toda vez que era lembrada de sua madrasta. A mulher tinha sido uma tirana, porque sempre soubera que nunca seria amada como a primeira esposa do emir.
Samia voltou a olhar para o sultão. Ele era muito bonito. Ela se sentia pálida e sem graça ao seu lado. Como ele imaginara que ela podia ser sua rainha? Então, lembrou-se do que ele dissera sobre querer uma esposa conservadora, e foi tomada por novo pânico.
Ele indicou a cadeira na qual ela estava se segurando.
— Sente-se, por favor. O que gostaria chá ou café?
— Café, por favor.
Sadiq moveu-se para a cadeira do outro lado da mesa e, naquele momento, sua secretária apareceu com uma bandeja de bebidas. Depois que ela saiu, ele tentou não notar o jeito como a mão da princesa tremia enquanto ela despejava leite no café. A garota era envergonhada, mas o olhava com um ar de desafio que ele achava curiosamente intrigante.
Quase sentiu pena dela ao vê-la lidar com a xícara, a qual, milagrosamente, sobreviveu à jornada do pires até a boca da princesa. Sadiq aproveitou o momento para estudá-la, e teve de conceder que ela não era tão mal assim. Os cabelos eram loiros, com mechas avermelhadas brilhando no sol do fim de tarde, que se infiltrava pelas enormes janelas. Estavam presos numa trança que descansava sobre um dos ombros. Alguns cachos tinham escapado para emoldurar o rosto em formato de coração.
Ela parecia ter aproximadamente 18 anos, embora ele soubesse que ela tinha 25.
Surpreendia Sadiq à clareza com que a lembrança de Samia derrubando a mesa lhe ocorrera. Sentira compaixão por ela, na época, vendo-a parada ali mortificada, com o rosto vermelho e tremendo. Outra lembrança pairou nos recessos de sua mente, mas ele não conseguiu defini-la.
Cílios absurdamente longos escondiam os olhos da princesa. Ele teve de admitir, com uma estranha sensação, que ela não era o que ele tinha esperado. Querendo que ela o olhasse, Sadiq murmurou:
— Então, princesa Samia, vai me contar por que estava indo embora?
Samia ergueu a cabeça para encontrar os olhos do sultão, que a fitavam como se ela fosse um espécime numa mesa de laboratório. Não podia estar mais óbvio que ela o deixava inteiramente frio. E esse pensamento enviou-lhe uma onda de tristeza.
— Sultão... — começou ela, e parou quando ele ergueu uma mão.
— E Sadiq. Eu insisto.
— Muito bem, Sadiq. — Samia respirou fundo. —A verdade é que eu não quero me casar com você.
Ela viu o maxilar forte enrijecendo.
— Acho que é costumeiro esperar um pedido de casamento antes que você o recuse.
Samia contorceu as mãos no colo.
— E eu acho que é costumeiro pedir a mão de uma pessoa em casamento antes de assumir que ela já está dada.
Os olhos do sultão adquiriram um brilho perigoso enquanto ele se recostava na cadeira.
— Presumo que você ouviu parte de minha conversa ao telefone?
Samia enrubesceu de novo, e desistiu de qualquer esperança de controlar seu rubor.
— Não pude evitar. A porta estava parcialmente aberta.
Sadiq inclinou-se para frente.
— Bem, peço desculpas. Não era para você ter ouvido. Cedendo ao seu pânico interno, Samia levantou-se abruptamente e moveu-se para trás da cadeira.
— Por que não? Afinal de contas, você estava discutindo os méritos deste casamento. Então, por que não discuti-los aqui e agora, comigo? Vamos estabelecer se eu sou conservadora o bastante para você, ou sem graça o bastante.
Uma leve coloração nas faces do sultão foi o único sinal de que ela o atingira com aquelas palavras. Mais uma vez, ele recostou-se e olhou-a sob pálpebras pesadas.
— Você não deve se iludir, tendo ou não ouvido aquela conversa, pensando que qualquer casamento entre nós será baseado em mais do que praticidade, assim como em diversas outras considerações.
Quando ela falou, a amargura em sua própria voz a surpreendeu:
— Oh, não se preocupe. Eu não tenho nenhuma ilusão.
— Esta união beneficiará nossos dois países. — Ele pausou.
— Acho difícil acreditar que alguém de nossa cultura de casamentos arranjados possa estar esperando um casamento por amor?
Ele falou aquilo com zombaria, como se a idéia fosse pura tolice. Samia meneou a cabeça.
— Não, é claro que não. — Uma casamento por amor era a última coisa que ela teria esperado ou desejado. Vira como amor devastara seu pai após perder sua mãe. Tivera de suportar a dor silenciosa na expressão de seu pai cada vez que ele a olhava, porque ela fora a causa da morte da mãe.
Samia testemunhara como as conseqüências daquele amor haviam afetado tudo... Tornando a próxima esposa de seu pai amarga. Amor também quase destruíra seu irmão querido, tornando-o duro e cínico. Ela jurara muito tempo atrás nunca permitir que uma força potencialmente tão destrutiva se aproximasse.
O sultão abriu as mãos, parecendo satisfeito com sua resposta. — Bem, então, o que você poderia ter contra este casamento?
Tudo! Exposição! Ridículo!
— Eu apenas... Nunca imaginei casamento em meu futuro.
E então, como se tivesse tirado as palavras da boca de seu irmão, Sadiq falou:
— Mas, como a irmã mais velha do emir de Burquat, como achou que poderia evitar um casamento estratégico? Nem sei como você sobreviveu até aqui sem ter se casado.
O desgosto pela declaração machista dele foi diminuído quando Samia sentiu uma pontada de culpa. Seu irmão já poderia ter sugerido diversos pretendentes antes, mas não sugerira. Mas ela sempre tivera consciência de que talvez um dia Kaden lhe pedisse para fazer um casamento estratégico, c obviamente agora tinha sido irresistível. Uma união que viria com laços econômicos que ajudariam a lançar Burquat no século XXI, trazendo desenvolvimento e a tão necessária estabilidade econômica.
Por mais que ela detestasse admitir, eles eram de uma parte do mundo que possuía uma visão mais pragmática do casamento do que o Ocidente. Era incomum que um reinante se casasse por algo tão frívolo quanto amor. Casamentos se baseavam em fortes laços de família, alianças estratégicas e lógica política, especialmente entre membros da família real.
Aquela abordagem prática deveria agradá-la, pois Samia não Corria o risco de se apaixonar por alguém como Sadiq, e ele certamente não se apaixonaria por ela. Estaria garantindo um tipo de união diferente daquela que testemunhara enquanto crescia. Seus filhos não seriam ameaçados por ataques de ciúme.
Sultão Sadiq levantou-se, e, nervosa, Samia amaldiçoou a pessoa medrosa que se tornava diante dele. Ela comandava mais de 30 funcionários na biblioteca, e estava acostumada a enfrentar seu irmão, que era um homem tão dominante quanto o sultão, mas poucos minutos na presença desse homem e estava tremendo.
Ele andava pela sala, como se não conseguisse ficar parado, e Samia lembrou-se de que o sultão era um amante insaciável de esportes radicais. Tinha sido a pessoa mais jovem do mundo a participar da prestigiosa corrida de iates Vendée Globe. Gostando muito de navegar também, ela ficara maravilhada com aquela conquista.
De acordo com a tradição para os homens de sua linhagem, ele estudara tanto na Inglaterra quanto nos Estados Unidos, e havia treinado na exclusiva academia militar real em Sandhurst. Possuía uma frota de helicópteros e aviões e os pilotava regularmente. No geral, era um homem formidável. Mas tinha a reputação de ser um playboy cruel, pegando e descartando as mulheres mais lindas do mundo como acessórios.
E todos os anos, não que ela precisasse ser lembrada, ele dava uma festa de aniversário luxuosa, levantando uma quantidade de dinheiro astronômica para caridade. E como ela sabia de tudo isso? Horas passadas na Internet na noite anterior, pesquisando sobre ele, para sua vergonha.
Sadiq parou de andar e arqueou uma sobrancelha escura.
— Você irá insistir em recusar minha oferta de casamento, e me forçar a procurar uma esposa em outro lugar?
Samia ouviu a incredulidade na voz dele. Era óbvio que o sultão não esperara que aquilo fosse difícil. Ver a pequena rachadura da armadura de arrogância dele deu a ela alguma de sua tão necessária confiança.
— O que aconteceria se eu dissesse "não"?
Sadiq pôs as mãos nos quadris, e o olhar de Samia foi para onde a camisa masculina estava estendida, sobre fortes músculos abdominais. Ela podia ver a linha escura de pelos através da seda e sua boca secou. Sua reação física a ele a espantou. Nenhum homem lhe causara esse efeito antes. Era como se ela estivesse dormindo durante toda sua vida, e começasse a acordar gradualmente ali e agora, naquela sala.
— O que aconteceria é que o acordo entre seu irmão e eu Seria colocado em sério risco. Eu teria de verificar se a sua próxima irmã é adequada.
Samia empalideceu.
— Mas Sara só tem 22 anos. — Seu instinto de irmã mais velha protetora foi despertado. — Ela é totalmente inadequada para você.
O olhar de Sadiq era glacial agora.
— O que parece ser uma tendência que corre em sua família, de acordo com você. De qualquer forma, ela seria considerada. Eu também não teria a obrigação de manter minha oferta para ajudar o emir a minar seus vastos campos petrolíferos. Ele seria forçado a procurar especialistas no exterior, e isso traria desafios políticos com os quais Burquat não tem condições de lidar no momento.
Samia tentou ignorar a imagem que ele estava pintando e deu um sorriso cínico.
— E você está dizendo que sua participação nisso é inteiramente altruísta? Por favor, não insulte minha inteligência. Ninguém faz nada sem querer algo em troca.
Ele inclinou a cabeça, um tipo diferente de brilho nos olhos agora.
— É claro que não. Em troca, eu ganho uma esposa muito adequada... Você, ou sua irmã... Uma decisão que está em suas mãos. Uma aliança valiosa com um reino vizinho e uma parte dos lucros do petróleo, a qual eu depositarei num fundo fiduciário para nossas crianças.
Nossas crianças. Samia ignorou o curioso nó que se formou em seu estômago quando ele disse aquelas palavras.
— Burquat necessita de uma aliança com um de seus vizinhos árabes, Samia. Você sabe disso tão bem quanto eu. O fato de que o país está prestes a revelar ao mundo a mina de ouro que abriga coloca-o numa posição vulnerável. Casamento comigo irá garantir o meu apoio. Nós seremos família. Você e seu irmão contarão com a minha proteção. Também estamos prontos para assinar um tratado de paz histórico. Desnecessário dizer que nosso casamento facilitaria ainda mais a paz entre nós.
Cada palavra que ele falava era como um dobre a finados para Samia, e cada palavra tinha sido dita para seu irmão. Ela não podia dizer se o sultão estava blefando sobre sua irmã ou não, e não queria testá-lo. Também não queria investigar a onda de dor ao pensar que seria tão facilmente substituída por sua irmã. Não queria que Sadiq a escolhesse, mas também não queria que ele escolhesse mais ninguém. Patético.
Ela podia sentir a vida que conhecia escorregando pelos seus dedos, mas então, que tipo de vida tinha? Questionou-se. Enterrar-se numa biblioteca e negar seu espírito naturalmente sociável, depois de anos sendo intimidada por sua madrasta, não era mais uma desculpa que podia usar. Sua madrasta se fora.
Todavia, a perspectiva de sair daquele ambiente seguro era assustadora.
— O que o faz acreditar que eu serei a esposa certa para você?
O sultão enfiou as mãos nos bolsos da calça.
— Você é inteligente, e não passou a vida exposta ao público, como a maioria de suas amigas. Eu a considero séria e. I responsável. Li um artigo que você escreveu em Archivist no mês passado, e achei brilhante.
Samia sentiu-se mais humilhada do que lisonjeada pela óbvia pesquisa do sultão. Um artigo em Archivist apenas cimentava o quanto ela era tediosa. Não precisava ser lembrada da disparidade entre ela e o homem à sua frente. Ele era um playboy! O pensamento da exposição que enfrentaria dentro de um casamento com Sadiq a deixou nauseada. Porque, com exposição, vinha humilhação. Sadiq continuou:
— Mas, além disso, você é uma princesa de uma das famílias reais mais antigas da Arábia, e nasceu para ser rainha. Que Deus não permita, mas, se alguma coisa acontecesse com seu irmão amanhã, você seria a próxima na linha para o trono. Se estivermos casados, então você não teria de carregar esse fardo sozinha, e eu me certificaria de que Burquat tivesse novamente seu status de emirado.
Samia sentiu-se empalidecer. Sabia que era a próxima na linha para o trono de Burquat, mas nunca contemplara a realidade do que aquilo significava. Kaden parecia tão invencível. Mas o sultão estava certo; ela encontrava-se numa posição delicada. Podia conhecer a teoria de reinar um país, mas a realidade era muito diferente. E sabia que não muitos outros maridos em potencial garantiriam que Burquat readquirisse sua autonomia. Al-Omar era grande e próspero, e o fato de que o sultão não via necessidade de reforçar seu próprio poder, incorporando um país menor, fazia Samia se sentir vulnerável... Ela não esperara isso.
Temendo que ele percebesse seu tumulto interior, ela virou-se para uma janela com vista para um gramado impecável... Um cenário sereno que normalmente seria tranqüilizador.
Sentia-se confusa. Havia um momento na vida de todos quando uma pessoa deveria fazer uma escolha fundamental, e ela estava encarando o seu agora. Não que realmente tivesse escolha. Isso estava se tornando cada vez mais claro.
Porém, desesperada para se agarrar a uma ponta de ilusão, Samia virou-se novamente e mordeu os lábios, antes de dizer:
— Isso é muita coisa para absorver. Ontem eu estava planejando retornar a Burquat para ajudar a supervisionar a reforma de nossa biblioteca nacional, e agora... Estou recebendo a oferta de ser rainha de Al-Omar. — Ela encontrou-lhe os olhos azuis. — Eu nem mesmo o conheço.
Uma expressão irritada estampou-se no rosto do sultão.
— Nós temos a vida inteira para nos conhecermos. O que não pode esperar, todavia, é o fato de que eu preciso me casar e ter herdeiros. Não tenho a menor dúvida, princesa Samia, que você nasceu para ocupar essa posição.
Samia tentou não demonstrar o quanto aquelas palavras a afetavam. Ele só estava dizendo isso por não querer aceitar uma resposta negativa. Em outra época, talvez ela até tivesse sorriso. Sadiq a lembrava muito seu irmão autocrata.
— Eu... Preciso de algum tempo para pensar sobre isso.
O semblante de Sadiq se fechou, e Samia experimentou uma onda de pânico. Ele escolheria sua irmã, por que ela estava hesitando demais? Dizendo-lhe que ela iria embora e teria uma boa-vida? E por que a idéia lhe causava pânico, quando era exatamente isso que ela queria?
Mas, após um momento interminável, ele disse com suavidade:
— Muito bem. Eu lhe darei 24 horas. Amanhã, neste "mesmo horário, espero que você esteja nesta sala e me fale o que decidiu.
Sadiq estava parado diante da janela de sua sala de estar privada, três pisos acima do escritório, onde acabara de encontrar a princesa Samia. Olhou para a cidade de Londres banhada na luz do crepúsculo. O aroma das flores do fim do verão permeava o ar. Ele subitamente sentiu falta do calor intenso de seu país... Da sensação de paz que experimentava apenas quando sabia que estava se aproximando do deserto de Al-Omar.
Suspirou. A relutância de Samia o estava forçando a passar mais tempo na Europa do que gostaria. Ele podia ver seus seguranças discretos na frente da casa, mas estava distraído para isso. Pela primeira vez, sua mente estava longe de assuntos como política, economia e mulheres.
Bem, exceto por uma mulher. Uma mulher que estava consumindo seus pensamentos e, pela primeira vez na vida, tais pensamentos não vinham acompanhados da expectativa de levá-la para cama. E então teve de conceder que fazia muito tempo desde que expectativa estivera presente em qualquer caso amoroso... Era mais provável que fosse expectativa misturada com muito cinismo.
Sadiq franziu o cenho. Desde quando admitia que dormir com mulheres lhe causava sentimentos como tédio e cinismo? Provavelmente desde quando testemunhara os casamentos de leus melhores amigos em Merkazad.
Ver seus amigos apaixonados causara pânico em Sadiq. Talvez por isso tivesse apressado sua decisão de se casar. Esse impulso para se proteger a qualquer custo... Um desejo de negar o que vira nos casamentos de Nadim e Salman. A necessidade de provar que ele jamais sucumbiria a emoções descontroladas novamente.
Mesmo agora podia se lembrar daquele dia, e a humilhação total de expor seu coração e alma para uma mulher que praticamente tinha rido diante de seu rosto.
Casando-se com alguém como a princesa Samia, ele estaria seguro de tais episódios mortificantes, porque não corria o risco de se apaixonar por ela. Também estava seguro de perder-se em luxúria. Samia era muito pálida, muito sem forma. O estomago de Sadiq se contorceu. Estranhamente, todavia, não conseguia tirar aqueles olhos azuis enigmáticos da cabeça. E tinha de admitir que ela não era feia. Mas certamente não era linda. Ele sempre aceitara que sua esposa escolhida realizaria um papel importante, independentemente de seus atrativos físicos. Sua responsabilidade com seu país eram maiores que tais preocupações frívolas.
No geral, Samia era mais atraente do que ele imaginara. Ademais, ele já tivera sua cota de mulheres maravilhosas. Era hora de se focar em tudo que trouxesse estabilidade e riqueza para seu país, e Samia lhe daria tal foco. Ele não se distrairia pelo charme feminino, e ela não era do tipo conquistador. Certamente não perderia tempo tentando seduzi-lo.
Sadiq sorriu. Apesar da relutância da princesa, ele não tinha dúvida de que ela voltaria no dia seguinte e lhe daria a resposta que ele esperava. O contrário era simplesmente inconcebível.
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A Escolhida do Sultão
RomanceUma rainha inconveniente. Escolhida pelo sultão para ser sua esposa, Samia não teve outra escolha a não ser aceitar o casamento. E, enquanto seu marido a despia peça por peça de seu lingerie de núpcias, ela não conseguiu controlar seu desejo, e su...