Capítulo 01 » Sua mais nova razão para ter dor de cabeça, prazer

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Seo (S/N)

Estrangeira
Dezesseis anos de idade

Acho que todo adolescente tem uma crise existencial ao pisar em solo estranho. Ao ver pessoas totalmente diferentes de si, o encararem como se fosse um bicho de sete cabeças. Comigo não era diferente. Eu devolvia os olhares cheios de curiosidade, repugnância e até mesmo de malícia. Fala sério! Qual é o problema? As pessoas bancam uma pose de "devemos abraçar o próximo apesar das diferenças", mas ao se deparar com uma diversidade cultural ficam o olhando torto?

Admito que, para eles, ver uma garota com um corpo um pouco... "fora dos padrões" coreanos, de pele bronzeada e de cabelos cacheados adentrando sua escola, não era algo que possamos chamar de comum. Mas poderiam ao menos disfarçar não é mesmo?

Não tenho muitas coisas interessantes para dizer sobre mim, ou minha maravilhosa - sinta a ironia - família. Minha mãe faleceu a uns dois anos, vítima de um acidente grave de carro. Tenho uma relação a distância com o meu pai. Não nos falamos muito, e não me lembro ao certo o porquê de termos nos distanciado, principalmente depois do falecimento da minha progenitora. Deveríamos ter ficado mais unidos, certo? Acho que nossa relação só era "possível" por conta da minha mãe, que sempre colocou as questões da adoção de lado. Sim, fui adotada pela família Seo, quando eu tinha em torno de uns dois ou três meses de vida. De qualquer forma, moro sozinha em um pequeno apartamento perto da escola, e simplesmente amo o meu cantinho particular. É ali, na minha pequena sala, de frente a televisão, enterrada nos cobertores e com um pote de pipoca na mão, que meus problemas vão embora.

Se eu tenho algum amigo? Acredito que não. Não sou de falar muito, e apesar de saber que as pessoas não fazem por mal, ninguém se aproxima. Os que se aproximam não ficam muito tempo, pois sinceramente, eu não faço muita questão. Nunca liguei de ficar sozinha, e agora em meu último ano escolar, não pretendo mudar. É bom ficar sozinho as vezes.

Arrumo novamente minha mochila em minhas omoplatas - uma pequena mania - e chuto algumas pedras no chão. Não estava muito animada para ir a escola hoje, como nos outros dias. Como disse antes, este era um novo solo para mim. Não que fosse meu primeiro dia em Seul. Eu só tive que mudar de escola. E eu detestava ser a novata do pedaço.

Suspiro ao avistar os portões do colégio. Muitas preocupações rondavam a minha cabeça, e esta já estava doendo. Eu teria que aguentar até o final do dia, para poder deitar em meu amado sofá. Murmuro um "aish" quando me lembro de que precisava arrumar algum trabalho. Meu pai havia me mandado uma mensagem de manhã, dizendo que ele não poderia mais pagar o meu apartamento. Não que eu precisasse, já estava combinado ele pagar o meu apartamento até que eu entrasse na faculdade. Mas claro, eu não iria obrigá-lo a pagar algo que não era dele. E por mim, pagar algo que é meu, estava ótimo. Assim ninguém jogaria na minha cara que o que eu tenho, foi comprado por outra pessoa. Eu precisava de um tempo para preparar o meu psicológico.

- Com licença. - murmuro quase em um sussurro, para algumas pessoas que insistiam em andar devagar na frente do hall de entrada da escola.

Admito, eu tinha preguiça até de falar com as pessoas. Então ao invés de pedir novamente e mais alto, apenas empurro "amigavelmente" aqueles que atrapalhavam a minha passagem. Ouço alguns xingamentos direcionados a mim, mas apenas dou de ombros. Troco meus sapatos pelas pantufas limpas e vou até a diretoria, para me certificar de que minha transferência havia sido realizada com sucesso.

Após verificar tudo, sigo em direção a minha nova sala. Suspiro a cada dez segundos. Subir cinco lances de escadas, cada uma com quinze degraus, sabendo que há um elevador na escola porém é apenas para funcionários e/ou emergências, não é algo muito legal a se fazer em plenas sete e quarenta e nove da manhã. Minha cabeça doía e eu não tinha animação nenhuma para iniciar os estudos desse ano. Alguns podem julgar preguiça, mas outros vão me entender. Tenho uma carga negativa emocional e psicológica muito grande guardada dentro de mim, então não tenho muito ânimo para fazer as coisas. Não que eu seja um problema na escola ou que minhas notas sejam péssimas. Nada disso. Eu só... não estava nem aí.

O Filho do Diretor ✾ Lee Dong MinOnde histórias criam vida. Descubra agora