Capítulo 1

39 2 0
                                    



Mais um dia louco no hospital. Cheguei atrasada hoje graças ao bendito sonho sexual que tive que fez com que eu não ouvisse o despertador. Apesar de eu entrar as 6 da manhã no trabalho, pra chegar até aqui preciso acordar bem mais cedo. Não que eu esteja reclamando, longe de mim reclamar do meu trabalho. Tudo bem que eu estou passando a maior parte da minha vida neste hospital, pois como não terminei minha faculdade não posso reclamar das escalas infindáveis nas quais eles me metem. Mas eu tive foi muita sorte. Sem graduação concluída conseguir emprego no maior hospital da cidade, quer dizer acho que este é o maior hospital do país. E o melhor, estou exatamente no setor que eu gostaria. A pediatria. Não me importo de ser uma simples auxiliar e que muitas vezes não me sobra dinheiro nem para comida. O que eu posso fazer por estas crianças faz tudo valer a pena. A ala que eu fico geralmente é onde fica as crianças em estado mais crítico. No começo eu sofri demais e achei que não fosse capaz de suportar ver tantos anjinhos sofrendo daquele modo e por fim partindo. Porém teve uma noite em que um dos meus pacientes prediletos (é eu sei que não se deve ter isso, mas apesar de ter os queridinhos trato todos igual) então, um dos meus prediletos, Lewis, um garotinho de 6 anos com leucemia, teve uma experiência de quase morte. O coração dele parou por 2 minutos, o que parece pouco mas foi tempo demais. Eu entrei no piloto automático tentando ignorar que ele estava partindo e fiz de tudo para ser o mais útil possível aos médicos. E conseguimos trazê-lo de volta. E alguns dias depois quando pudemos desintuba-lo, ele disse que precisava me contar uma coisa, mas que no fundo ele já sabia. E por mais que eu tentasse imaginar o que era, jamais imaginaria o que aquele garotinho queria me falar. Eu chorei como criança quando ele me contou, pode parecer bobo mas aquilo me deu um novo propósito.

- Cass – Lewis com sua voz fina e fraca, falou com a maior empolgação que uma criança totalmente debilitada pode apresentar.

- Pode falar – eu respondi, sentando na cama ao lado dele, tentando caber num espacinho em meio a tantos fios e tubos.

- Eu vi Deus – ele disse solenemente. – Mamãe falou que eu quase fui embora pra sempre, mas acho que papai do céu só queria conversar comigo.

Tentei não demonstrar tanta surpresa. É normal alucinações deste tipo quando uma pessoa praticamente morre, mas foi comovente Lewis achar que viu, logo Deus.

- E o que o papai do céu tinha de tão importante pra falar com você, que teve que te levar pra dar uma voltinha, hein? – eu disse fingindo estar brava.

Lewis riu, mostrando seus dentinhos amarelos, devido a tanta medicação forte.

- Ele queria falar de você.

Nesse momento meu coração gelou um pouco, e eu senti um arrepio, sem saber ao certo o porquê destas sensações. Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa Lewis continuou a falar.

- Ele disse que você é o meu anjo da guarda.

- Ãhn, é... O que? – eu perguntei sem conseguir processar direito.

- Eu sabia – ele gritou o mais alto que pôde. – Eu sabia que você era meu anjinho, porque você sempre cuida de mim.

Meus olhos nesse instante encheram de lágrimas, e eu não consegui fazer mais nada a não ser abraçar bem forte e por longos segundos aquele garotinho pele e osso, e logo em seguida sair correndo e ter longas crises de choro no banheiro.

Lewis morreu cerca de 15 dias depois de me dizer isso.

E desde então, eu tenho tentado dar o meu melhor por estas crianças. Ser o anjo da guarda delas.

Por este motivo, eu não me permito reclamar de nada. O dia é sempre muito puxado, ás vezes não tenho tempo sequer pra almoçar ou ir ao banheiro, mas não trocaria isto por nada. E depois de um longo plantão de quase 16 horas, devido às horas extras e pra compensar meu atraso da manhã, eu estava finalmente indo embora.

Eu, para você (EM CONSTRUÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora