Há uma aglomeração de repórteres e fotógrafos em frente à delegacia. Com a ajuda de Penny consigo correr de todos eles e entrar na delegacia, onde para meu espanto há muitas pessoas vestidas elegantemente discutindo com um homem que eu julgo ser o delegado. Quando percebem minha presença todos me encaram.
- Eu quero ver o Sr. John... – Começo, mas sou interrompida por um dos senhores elegantes que anda até mim.
- Você é a vadia que pôs meu filho nessa situação?
- Do que você está falando, cara? – Penny argumenta em minha defesa, se pondo entre mim e o homem.
- Em respeito ao nome da sua família você não deveria andar com gente deste tipo. Seu pai tem a mesma opinião – o homem diz, e isso parece de certa forma atingir Penny.
O delegado se aproxima.
- Precisamos do seu depoimento Srta, depois você pode visitar o senhor Ratfield.
- Eu não a quero perto do meu filho - O pai de John grita.
- Ora, que triste não ser o senhor que decide as coisas aqui. Agora se me da licença tenho trabalho a fazer – o delegado responde enquanto segura meu braço e me conduz por entre todos até uma sala nos fundos.
Assim que entramos ele faz sinal para eu me sentar e senta de frente a mim. Um outro policial entra em seguida e senta num canto mais afastado da sala. O delegado, leio na sua farda o nome "Stefan", me analisa demoradamente. Me envergonho do estado das minhas roupas e me encolho levemente.
- A Srta demorou para vir dar seu depoimento. Estávamos quase indo buscá-la com uma ordem judicial.
- Estou aqui agora – murmuro.
- Pois bem. Sei que é doloroso relembrar mas eu preciso que você conte detalhadamente o que aconteceu aquela noite.
Eu respiro fundo. Lágrimas já surgindo em meus olhos, e então começo a falar, desde a hora em que fui enxotada do ônibus, até a hora que me lembro, de estar no carro de John, o olhando fixamente antes de perder os sentidos.
O delegado olha para o policial no canto da sala. Em seguida abre uma gaveta no armário ao seu lado e pega uma pasta.
As imagens que eu vou te mostrar são fortes. Mas eu preciso que a srta reconheça que os três homens achados mortos em seu bairro são os mesmos que te violentaram.
Eu estremeço. Ainda estou muito abalada por ter tido que contar tudo o que houve. Falar em voz alta parece trazer tudo à tona novamente. Mas assinto.
Quando o delegado começa a me mostrar as fotos, certa alegria me acomete. São os três caras que acabaram com minha vida. Ensangüentados. O maior deles está desfigurado. Há realmente muito sangue em todos eles. Eu estremeço por estar me sentindo bem ao ver tamanha atrocidade. Levanto o olhar das fotos e o delegado está me analisando minuciosamente.
- São eles – murmuro.
- Foi o que imaginei. Uma ultima pergunta Srta. Você realmente conheceu John apenas naquela noite?
- Sim – me limito a dizer.
Ele suspira.
- Só diga a verdade. Mentir agora não lhe trará benefício algum. Muito menos se futuramente descobrirmos a verdade. Confie em mim. Sei que é complicado devido ao status dele e de seu noivado, mas pode falar a verdade. Mesmo que haja drogas envolvidas nisso.
Por algum motivo a palavra noivado me deixa mais aflita do que ele supor que eu seja usuária ou vendedora de drogas.
- Eu... eu realmente não o conheço – gaguejo, e de repente a cosa que eu mais quero é ir embora dali.
- Está certo. Venha, vou te levar até ele. Para vocês se conhecerem - o delegado diz, e arqueia as sobrancelhas enquanto diz a ultima palavra.
Noivado.
Enquanto acompanho o delegado a palavra noivado paira na minha mente. Mas o que eu achei que fosse acontecer? Uma historia de conto de fadas? Imagine só. Garota pobre casa com homem milionário que salvou sua vida e que sempre esteve em seus sonhos. Isso sim seria uma bela manchete para os abutres que me esperam lá fora. Mesmo por dentro não querendo ver John, eu continuo seguindo o delegado. Ao chegar numa porta com um policial ao lado, eles cochicham algo entre si, e em seguida o policial abre a porta.
- Você tem 15 minutos – ele diz.
Trêmula, eu entro. O policial entra junto comigo e fecha a porta. É uma espécie de sala de estar. Bem simples. Sentado no sofá, com algemas nas mãos está John. Me arrepio toda ao vê-lo tão de perto. Ele gruda seus olhos nos meus, e eu tenho vontade de me encolher. Ele é um desconhecido. Me viu nua, na pior situação que eu poderia passar. É um assassino, mesmo que para me salvar não apaga o fato dele ter brutalmente matado aqueles homens. Mas por que eu sinto como se já o conhecesse a vida toda?
Pigarreio.
- É... eu vim agradecer por você ter salvo a minha vida.
Ele permanece em silencio.
- Eu não sei por que você fez aquilo – eu continuo – mas obrigada de verdade. O que eu puder fazer pra te ajudar a sair dessa...
Ele continua em silencio. Apenas me observa. Ele ainda está com suas próprias roupas, eu penso. Simples, porém dá pra ver que são caras. Ele exibe olheiras. Seu cabelo está maior, e cai na sua testa um punhado. Tenho vontade de me aproximar dele. O silencio se torna incomodo. Ficamos apenas nos encarando. Mas eu não consigo suportar seu olhar por muito tempo, então desvio meus olhos dos seus.
Começo a me sentir uma idiota de ter vindo até aqui. Dá para ouvir minha própria respiração no silencio que corta entre nós. Me viro para ir embora, e enquanto o policial abre a porta, olho para John uma ultima vez. Ele me olha da mesma maneira. Fico na esperança de que ele irá falar algo, mas tudo que permanece é silêncio. Quase corro pelo corredor, afim de sair logo dali, com as lagrimas presas num nó na garganta fica difícil até respirar. As pessoas que estavam na primeira sala anteriormente continuam, mas não consigo deixar de notar uma mulher estonteante entre elas que antes não estava.
Ela caminha com seus saltos até mim. Impedindo que eu prossiga para fora. Penny que está sentada numa das poltronas se levanta, alerta.
- Não pense que alguém como você irá ficar com John – a mulher diz, e chega com seu rosto bem perto de mim. – Gente como você é descartável. É diversão. E você está fedendo.
Engulo em seco, e me sentindo muito pequena, empurro a mulher e saio da delegacia com Penny ao meu lado. Novamente ela me protege dos repórteres e já em seu carro eu me deixo chorar. O caminho de volta é silencioso. Ao chegar em casa ela faz um macarrão improvisado e só após se certificar que eu comi tudo e que eu não iria vomitar, consegue ir embora. Sei que ela ficaria comigo o tempo todo, mas ela ainda tem que trabalhar e estudar. Não mencionamos nada do que aconteceu hoje. Nenhuma das ofensas que sofri. Não quero nunca mais encontrar aquela gente. Quero apenas paz. Retornar ao trabalho, a faculdade e seguir minha vida. Com esse pensamento tomo um longo banho e ligo a TV. Deitada, enrolada em minhas cobertas tudo quase ganha um ar de normalidade. A não ser pela minha mente que não consegue parar de pensar nos olhos fixos de John sobre mim. O interfone tocando me tira de meus devaneios. Eu fico parada ouvindo seu toque irritante imaginando quem poderia ser. Mais alguém a fim de me humilhar? De conseguir uma entrevista? Relutante eu me levanto e ao atender, já digo ao Bran, o porteiro, que não quero ver ninguém. Estou prestes a desligar quando ele grita meu nome.
- Cassie, espere! É que... O home que está aqui... Está dizendo que é o seu pai.
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Eu, para você (EM CONSTRUÇÃO)
RomanceCassie sempre foi muito forte. Teve uma infância difícil mas isso não fez com que desanimasse. Batalhadora sempre foi atrás de seus sonhos, o que não significa que sua vida esteja melhor. Mas o sorriso em seu rosto sempre se faz presente. Mesmo sem...