Minha mãe está sorrindo para mim. Minhas mãos tocam seu rosto. Minhas mãos são tão pequenas. Ah, deve ser porque sou uma criança. Sou apenas uma criança. Seu rosto está molhado, não sei ao certo se são lágrimas ou suor. Creio que são lágrimas pois o frio está terrível. O vento bagunça os longos cabelos da minha mãe. Ah, como ela linda. Apesar do frio, ela está apenas num vestido, todo florido, e longo. Sua blusa está comigo. Gosto do cheiro da blusa. Cheira aconchego, e coisa velha. Gosto só da parte que cheira aconchego. Minha mãe esta cantando uma música que eu amo, ela canta desde que eu era bem mais pequenininha. A música diz que tudo vai ficar bem. Que eu não preciso me preocupar. Meu pai está do nosso lado, seu cabelo cacheado está caído na frente do seu rosto então não sei se ele está sorrindo também, como mamãe. Estamos andando faz um tempo. Estou no colo, pois não consigo andar tanto quanto eles. Acho que eles gostam de andar. Temos andado bastante. E acampado também, coisa que eu adoro. Algumas pessoas me dão comida, e eu nem conheço elas. Às vezes quando acampamos faz muito frio, mas eu sempre estou quente graças ao papai e a mamãe. Eles são os melhores pais. Chegamos em frente a uma casa enorme cercada por um muro. Será que vamos parar de acampar e morar aqui?
- Cassie, minha querida, nós vamos voltar para te buscar – minha mãe diz e seu rosto fica mais molhado de lágrimas.
- Mas... Mamãe – eu começo.
Ela baixa a cabeça. Eu olho para meu pai, e ele continua com o cabelo tampando seu rosto. Aonde meus pais vão, sem mim?
- É algum lugar que eu não posso acampar? – eu pergunto. – Porque sou criança?
Minha mãe apenas balança a cabeça, e volta a sorrir. Mas suas lágrimas escorrem sem parar.
Não entendo. Porque meu pai não me olha? Ele não gosta mais de mim? Porque mamãe está chorando? Que casa enorme é essa?
Sinto as lágrimas vindo. Mamãe toca a campainha.
- Nós amamos você – ela sussurra em meu ouvido enquanto me abraça. Escuto um soluço, parece vir do meu pai.
Minha mãe se afasta, e começa a cantar a musica novamente. Ela e meu pai começam a correr. E eu os perco de vista. Um pequeno portão da grande casa se abre e uma senhora me olha. Não sei por que, eu não êxito em correr e abraçá-la sem sequer conhecê-la. E choro. Apesar de minha mãe ter dito que voltaria pra me buscar, dentro de mim de alguma forma eu sentia que nunca mais a veria. E sua voz que eu tanto amava ecoa em minha mente, cantando a nossa musica.
"Don't worry about a thing...'Cause every little thing gonna be alright"
E de repente eu não sou mais aquela criança. Ainda consigo escutar a voz da minha mãe cantando. Mas meu corpo está gelado. Sinto dor. Muita dor. Escuto gritos ao meu redor. Gritos de homens. Tudo está tão escuro. Tento abrir os olhos mas não consigo. Quero voltar. Quero voltar a ser criança. Quero o colo da minha mãe, ou sequer o abraço daquela velha senhora do grande portão. A senhora Marie. É, a bondosa senhora Marie do orfanato em que cresci.
Sinto uma mão segurando meu braço e me levantando. Eu estava deitada? Me sinto tonta, enjoada. Abro os olhos, finalmente consigo. Três homens estão jogados no chão. Um bem corpulento, dois magrelos. Ah meu Deus. Tudo começa a voltar a minha mente numa velocidade atordoante. Alguém está me apoiando, me levando para algum lugar.
- O que... o que está acontecendo? – digo, mas sai quase num sussurro.
Estou nua. Totalmente nua. A ânsia vem e não dá para segurar. Vomito. O homem que está me levando mal espera eu vomitar e me pega no colo, me colocando em seguida dentro de um carro. Tento gritar, tento fazer qualquer coisa, mas não consigo. Meu corpo todo dói, minha cabeça parece girar e minha visão oscila. Me encolho no banco, e choro baixinho. O que vai acontecer comigo? O homem entra no carro, e sai acelerando, os pneus cantam e fazem fumaça. Ele corre numa velocidade muito alta, fazendo eu me sentir enjoada de novo. Estou prestes a vomitar quando ele para num semáforo. Consigo focar minha visão. Olho pela janela, está escuro, deserto. Minha atenção volta para o homem. Ele pega uma blusa do banco de trás e joga sobre meu corpo. Ele treme. Eu tremo. Ele liga o rádio. Consigo ouvir sua respiração ofegante.
- O que você vai fazer comigo? – sussurro. As lágrimas já me sufocando.
Ele fica em silencio.
No radio toca uma musica que eu gosto. Meu corpo todo dói demais. Aqueles homens ficam vindo em minha mente a todo instante. Encolho meu corpo. Eles me tocaram. Começo a chorar. E esse homem? Quem é ele? Para onde está me levando? Eu queria estar morta.
O sinal já esta verde. Mas ele não sai com o carro.
A música continua tocando. Diz algo como, quando a luz do sol chegar. Mas eu sinto que não faz sentido, pois penso que nunca mais serei capaz de ver luz em minha vida mesmo se eu não morrer esta noite. O homem então acende a luz de dentro do carro. Não consigo olhar para ele.
- Eu... Acho que devo te levar ao hospital – ele diz. – E... Eu acho que matei aqueles homens.
Sua voz me soa familiar. Não consigo parar de chorar. Ele não vai fazer nada de mal comigo, é isso?
A música continua tocando.
- Você...Me salvou? – sussurro, soluçando. – Você não vai fazer nada de mal comigo?
Então eu finalmente olho para ele. E ele olha para mim.
- Eu nunca faria nada de mal para você. Só queria ter passado ali mais cedo e ter te ajudado.
Ele continua falando mais algumas coisas, mas eu não consigo escutar. Apenas me jogo em seus braços e o abraço com toda força que possuo. É um impulso mais forte do que eu. De primeira ele não me abraça de volta, mas aos poucos seus braços estão ao redor de mim. Eu choro ainda mais e não consigo acreditar. Esse cara, que acaba de me salvar da pior coisa que poderia me acontecer....
A música continua tocando, enquanto eu fico abraçada com ele.
"And when the daylight comes I'll have to GO
E quando a luz do dia chegar, eu vou ter que ir"Ele é...
"But tonight I'm gonna hold you so close
Mas hoje a noite eu vou te segurar bem perto"O cara com quem eu tenho sonhado, todo este tempo. O cara que eu sonhei hoje de manhã.
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Eu, para você (EM CONSTRUÇÃO)
RomanceCassie sempre foi muito forte. Teve uma infância difícil mas isso não fez com que desanimasse. Batalhadora sempre foi atrás de seus sonhos, o que não significa que sua vida esteja melhor. Mas o sorriso em seu rosto sempre se faz presente. Mesmo sem...