OS MEUS QUINZE ANOS

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Toda menina sonha em ter uma festa de quinze anos. Acho que fui anormal, pois eu não queria. Além de achar que o meu pai gastaria muito, ele ainda estava endividado mobiliando o nosso novo apartamento, eu não me achava bonita o suficiente para uma festa. Hoje eu entendo que não precisa estar bonita por fora, pois a beleza é interior. È o famoso amor-próprio, mas eu não tinha amor por ninguém. A não ser pela santa pizza de todo sábado e a boy band Backstreet Boys.

Ao contrário das festas tradicionais, resolvi fazer um lanche em casa e me vesti de preto. Além de ser uma cor rock in roll, era para esconder as gorduras. No mesmo dia, ganhei um computador e um som para o meu quarto. Naquela época, poucas pessoas podiam comprar um computador, e eu sempre gostei de tecnologia. Meu pai trabalhou durante muito tempo aos fins de semana fazendo hora extra, e eu ia com ele. Ficava sentada em frente ao computador sem saber utilizá-lo. A minha curiosidade fez com que eu o usasse, sem precisar de curso. Até hoje nunca fiz um.

Algumas amigas de infância vieram, e também, Carla e Carolina, as duas únicas amigas que eu havia feito no meu novo prédio. Chamei Verônica também, que veio com a sua mãe e o seu irmão. O restante não apareceu. E por um lado, eu gostei, pois percebi que somente as pessoas que gostavam de mim estavam ali.

Fomos dar uma volta pelo condomínio e percebi que o menino que eu via todos os dias indo para o colégio, estava jogando bola na quadra de futebol. Sentei com as minhas amigas em dos bancos, que eram próximos a quadra, e não conseguia tirar os olhos dele. Parecia como amor à primeira vista.

- Vamos Priscila? – Disse Carla colocando uma de suas mãos nos meus olhos.

- Amiga, você sabe o nome daquele menino de bermuda verde? – Perguntei sem medo.

- Leandro. Ele mora no bloco C, no quarto andar.

- Bonito ele, né?

- Que péssimo gosto! Ele é um lerdo! Já namorou a Carolina e já te digo, que não vale nada!

Fiquei triste com o comentário de Carla, afinal, ele não me parecia ser isso tudo. Ele me parecia ser especial. Um menino diferente dos outros.

- Priscila, até que horas vai ficar aí? As suas amigas estão na sua casa, querem ir embora, vamos cantar os parabéns? – Ouvi Carla me chamar novamente.

Fomos para a minha casa e cantamos os parabéns. Minhas amigas ainda ficaram um pouco, mas depois tiveram que ir embora. Moravam longe e essa distância me matava. Tomei um banho e troquei de roupa, para ficar um pouco com as minhas novas amigas pelo condomínio. Ficamos sentadas no banco próximo à quadra novamente.

- Carolina, você não sabe o que aconteceu! Priscila achou o Leandro bonito! – Carla disse com um tom de deboche.

- Ele é meu ex-namorado! Amigas não olham para o ex namorado da outra! Além do mais, ele nunca ficaria com você... Você é gordinha! – Disse Carolina mexendo os seus cabelos loiros e longos.

Abaixei a cabeça e senti uma dor no estomago, como se tivesse levado um soco. Elas não repararam a minha tristeza, elas pouco se importaram comigo. Continuaram a conversar, falando de maquiagem e garotos. Como eu poderia ser amiga delas, se elas não conseguiam ser minhas amigas? Além da diferença de idade, eram uns quatro anos mais velhas do que eu.

Mais uma vez eu estava perdida. E sozinha. 

O quarto andarOnde histórias criam vida. Descubra agora