Moestos, 13 anos depois.
Os preparativos para o jantar que receberia dois líderes de duas grandes casas do reino de Moestos, depois dos Wolkers, que eram a família real, estavam a todo vapor. Comidas deliciosas sendo preparadas, mulheres fazendo seus cabelos e preparando seus vestidos, os homens supervisionando a cozinha e ajudando a organizar os guardas. Dois guardas do reino foram postos na porta do salão de banquete, e o comandante da guarda real ficaria dentro do salão.
Hertros havia acabado de se vestir para o jantar. Trajava botas de couro preto, calça preta e uma túnica azul, estava coberto por um manto vermelho sangue, e em seu peito, estampado uma fênix dourada com as asas abertas, que era o símbolo de sua casa. Usava as três cores de sua família; azul, vermelho e dourado.
Já estava atrasado para o jantar. Segundo um de seus criados que veio lhe avisar, todos já estavam à mesa, aguardando. Hertros então saiu de seus aposentos, entrou no corredor e seguiu em direção ao salão de jantar. As paredes em volta, eram todas esculpidas em mármore branco, com pequenos símbolos e alguns desenhos de momentos da história do reino de Moestos.
Chegou então à porta do salão, onde estavam os dois guardas. Os guardas, imediatamente reconheceram o príncipe e abriram a porta para que este pudesse entrar.
─ Finalmente ! Achei que não viria mais. Haha. ─ exclamou o rei Thogarni, abrindo os braços e mostrando um grande sorriso. - Venha, meu filho, sente-se conosco. Pode sentar ao lado da senhora Monkev.
No salão, nas paredes haviam pinturas emolduradas de alguns reis de Moestos, e a parede era marrom de um tom claro. Em balcões, foram postos candelabros esculpidos em ouro, tendo sete velas cada um. No teto, havia um lustre de pedras de cristal, em formato triangular. Sob o lustre, na mesa, estavam sentados; na ponta, o rei Thogarni, pai de Hertros, à sua esquerda estava o lorde Tharond Viswen, que trajava um manto com as duas cores de sua casa; preto e cinza, e em seu peito, perto do coração, o símbolo de uma serpente. E sua esposa, Cytan, usava um longo vestido cinza com algumas linhas pretas, representando as cores da casa. Ao lado de Cytan, estava o lorde Seagnor Monkev, com um manto azul claro sobre uma túnica branca, ostentando o grande urso polar, símbolo de sua casa, no peito. E ao seu lado estava sua esposa, Amarts, que usava um vestido todo azul claro.
Hertros então puxou a cadeira ao lado de Amarts, e se sentou. À sua frente, no lado oposto da mesa estavam seus seis irmãos; o mais velho, Thogand, que era um homem carrancudo, de nariz quebrado, herdeiro de Moestos, e ao seu lado estava sua esposa, Tinerah, com um vestido de seda das cores vermelha e dourada; ao lado dela, Khralis com seus cabelo curtos penteados para trás; depois vinha Litho, com seus longos cabelos e seu sorriso perfeito, sorrindo o tempo todo e conversando com os convidados; ao lado de Litho estavam os gêmeos Daemon e Daeron, cochichando entre eles; e por último, Brytron, conversando pouco, sem se preocupar muito com o que estava acontecendo ao redor. Todos os irmãos trajavam vestes parecidas, mas esbanjando as mesmas cores, exceto Khralis, que estava todo de preto, mais parecendo um espectro sentado à mesa, com suas vestes negras e estampado em seu peito, uma fênix negra. Estava de luto devido à brutal morte de sua esposa Sani, que havia sido estuprada e em seguida, assassinada. Depois disso, começou a usar negro com mais frequência.
─ Acho que estão todos com fome, não é mesmo ? ─ disse o rei, que trazia à sua cabeça a linda coroa do rei de Moestos, ornamentada com rubís, feita de ouro e com pequenas imagens em relevo, representando os quatro deuses, Lonu, Sokla, Tajhin e Malakai, em torno da coroa. ─ Eu estou quase escutando suas barrigas roncando. Haha ! ─ e se dirigindo aos criados, disse ─ Podem trazer a comida.
Começaram a entrar no salão os criados, carregando variadas bandeijas de comida. Tinha de tudo; carneiros assados, pão, carne de porco, toucinho, peru assado, diversos legumes, uma cesta com frutas, etc. As bandejas foram postas na mesa e todos começaram a se servir.
─ Esse toucinho ta delicioso, Thogarni. ─ disse o lorde Viswen.
─ Agradeça ao chefe da cozinha, não à mim, Tharond. ─ respondeu o rei, pegando um pão na cesta.
Khyrius, líder dos criados, estava parado em pé à direita do rei, caso alguma ordem fosse dada. Vestia trapos sujos, não diferentes dos demais criados.
─ Sirva-nos vinho, Khyrius. ─ ordenou o príncipe Thogand, estendendo sua taça.
Todos fizeram o mesmo enquanto Khyrius passava servindo o vinho. Hertros reparou que em um canto do salão estava Gabard, comandante da guarda real de Moestos, usando sua armadura azul, igual às outras quatro da guarda real.
─ E como está sua filha, Thogand ? ─ perguntou Tharond. ─ Como se chama mesmo ? Faz muito tempo que não vejo ela.
─ Joelí. Está bem. Fez dez anos a poucos meses. ─ respondeu Thogand, coçando o nariz. ─ Ela está se tornando uma linda moça, crescendo rápido. Parecia que era ontem que ela me pedia para subir no meu colo, ou para eu ficar de quatro para ela brincar de cavalinho.
Dito isso, Thogand parecia que estava em uma espécie de devaneio. Devia estar se lembrando de quando Joelí era pequena. Mas voltou a sí quando Khyrius chegou para servir seu vinho.
─ Logo mais você terá que procurar por casamentos para ela. ─ disse novamente o lorde Viswen. ─ Meu filho, Nathaniel, tem doze anos, quem sabe futuramente os dois não se casam ? ─ e deu uma risada final.
─ Iremos avaliar a sua proposta, lorde Viswen. ─ interveio Tinerah. ─ Mas acho que ainda é um pouco cedo para falarmos disso.
─ A senhora que sabe, minha princesa. ─ respondeu Ardris, como que se desculpando. ─ Só não queria que deixasse a decisão muito em cima da hora.
Ele está querendo colocar a família dele no trono, na cara dura. Ele quer que o filho dele receba a bênção dos deuses. Pensou Hertros, que estava apensar observando tudo, quieto.
─ E vocês, Daemon e Daeron, eu nunca sei qual é qual, estão prometidos à alguma donzela ? ─ perguntou Seagnor aos gêmeos.
─ Ainda não. Por mais que Daemon esteja apaixonadinho por uma moça... ─ e de repente Daeron parou de falar, pois parecia que Daemon tinha o beliscado na perna por debaixo da mesa.
─ Oh ! Haha. Eu entendo. O amor escondido. ─ disse o lorde Monkev, dando umas risadinhas.
Nesse momento, Hertros percebeu que Khralis não estava nada feliz com aquele assunto. Não era de culpa-lo, devido à terrível morte que sua esposa tivera.
─ E como foi a viagem de vocês, lorde e senhora Viswen ? ─ perguntou Brytron ao mesmo tempo em que colocava mais um pouco de toucinho em seu prato.
─ Foi tranquila, porém cansativa. ─ respondeu Cytan. ─ Dezessete dias de viagem, por mais que seja em uma carroagem confortável, ainda assim cansa. E também toda hora tínhamos que parar para nosso cocheiro urinar.
─ Pelos Deuses! Aquele homem devia ter problema na bexiga. ─ completou Tharond, com uma gargalhada.
─ Majestade, eu trouxe um uma surpresa para você. ─ disse Seagnor quando todos fizeram silêncio. ─ Eu deixei ele com Khyrius quando cheguei e pedi que guardasse em segredo, pois era um presente para sua majestade. Khyrius, traga o presente !
─ Sim, meu lorde. ─ obedeceu Khyrius. E saiu pela porta. Poucos minutos depois voltou com um embrulho de um manto metade azul, metade vermelho, estampando no meio a grande fênix dourada da casa dos Wolkers.
Khyrius deixou o embrulho em cima da mesa. Seus olhos brilhavam. O rei então desembrulhou o presente, e tirou de lá um cálice.
─ Por Tajhin! É um ótimo cálice, Seagnor. ─ exclamou o rei Thogarni, maravilhado com a beleza de seu presente e dando graças ao Deus da terra, Tajhin, que fora quem o havia abençoado quando este virou rei. ─ Por favor, quero que todos olhem este cálice. Muito obrigado pelo presente, meu amigo.
O rei então passou o cálice para Tharond que rapidamente deu uma analisada no cálice e passou à sua mulher. Cytan, interessada no cálice, demorou olhando o presente, verificando os detalhes e do que este era feito. Quando ela passou o cálice para Hertros, ele reparou que de fato o cálice era lindo. Era um cálice feito de ouro com pequenas pedras de diamantes e de rubís inseridas em volta do objeto. Duas "asas" de ouro projetavam-se para os lados e na frente, em pequeno relevo, estava desenhado o rosto de uma fênix, com seus olhos, o bico e também um detalhe mostrando as penas.
─ De fato, é um presente muito lindo, lorde Monkev. ─ disse Hertros que estava maravilhado com o cálice.
O que será que ele espera ganhar dando este presente ? Se pergunta Hertros, intrigado.
Hertros então passa o cálice para seu irmão Brytron, do outro lado da mesa, para que este possa ver o presente. Cada um deles demorou pelo menos um minutos analisando os incríveis detalhes que havia naquele cálice, e por fim, o objeto voltou às mãos do rei.
─ Ta na hora de estrear esse cálice. ─ disse ele. ─ E que momento melhor, se não agora ? ─ Se virou para Khyrius e disse. ─ Khyrius, sirva-nos mais vinho.
O líder dos criados, mais uma vez, pegou a jarra de vinho e começou a encher os cálices. Quando todos ja estavam servidos, o rei se levantou, afastou os longos cabelos que desciam até o ombro, de seus olhos, levantou o cálice, e começou a falar:
─ Hoje é um dia muito especial para mim. Dois de meus amigos estão em minha casa, junto com suas lindas esposas. Meus filhos e minha adorável nora ─ e fez um aceno para Tinerah. ─ e o reino está em paz. Nada de guerras. Sem aqueles opositores monoteístas. Estamos vivendo tempos de paz, meus amigos. E isso é motivo para celebrar. Saúde!
─ Saúde! ─ gritaram todos levantando seus cálices e bebendo o vinho.
Todos sentaram novamente e voltaram a comer.
A senhora Amarts Monkev então perguntou à Tinerah.
─ E você, minha jovem, espera um dia ter mais filhos além de Joelí ?
─ Sim, pelo menos mais dois. ─ respondeu a princesa, simpaticamente. ─ Inclusive, Thogand e eu estamos tentando ter mais um.
─ Ah que ótimo! ─ responde Amarts. Uma gota de suor escorre pelo rosto do rei. ─ Eles dão muito trabalho enquanto são pequenos. Mas depois que crescem, só nos dão orgulho! Você vai... ─ ela deu uma pausa. ─ Majestade, o senhor está bem ?
O rei estava suando muito. Seu rosto estava encharcado, parecia que arrecém havia lavado o rosto ou saído do banho. Sua barba estava molhada e seus cabelos longos cor de areia grudavam em seu rosto. Ele respirava pesadamente, como se o ar fugisse dele toda vez que tentava tragá-lo.
─ Pai ? ─ levantou-se Hertros desesperado e foi até o rei. ─ O senhor não está bem. O que está acontecendo ?
Thogarni, ainda sentado em sua cadeira, se agarrou na túnica de Hertros que agora já estava do seu lado e o resto estavam todos de pé em sua volta, olhou para cima e Hertros pôde ver que seu pai tentava falar algo, mas o ar que faltava em seus pulmões o impossibilitava de falar. Hertros viu seus olhos vidrados gritando socorro. Gabard, o comandante da guarda real que até então estivera parado feito uma estátua, quando viu que havia algo de errado com o rei, correu para tentar socorre-lo.
─ BUSQUEM AJUDA. ─ berrou Khralis, para os criados ou soldados que conseguissem ouvi-los. ─ TEM ALGO DE ERRADO COM O REI. ELE ESTÁ SUFOCANDO !!
Hertros sentiu o aperto do rei em tua túnica ficando cada vez mais fraco e viu seus olhos ficando vermelhos, como se estivessem sangrando. E estavam. O rei numa tentativa de se levantar, acabou caindo da cadeira e sua coroa saiu rolando pelo salão. Gabard foi correndo até o rei e o virou para cima. Então todos ficaram horrorizados com a imagem que viram. O rosto do rei tinha ficado pálido como a neve e de seus olhos escorriam lágrimas. Não, não eram lágrimas, era sangue! Sangue estava escorrendo de seus olhos como se fossem cascatas vermelhas. Longas listras de sangue marcando seu rosto e o rei em atitude de desespero para tentar respirar, levantou suas vestes deixando seu peito nu. Thogarni começou a bater em seu peito, tentando respirar, martelando seus pulmões com toda a força que podia, mas já estava ficando fraco e não conseguiu mais bater. O rei de Moestos foi se mexendo cada vez menos enquanto seus filhos tentavam ajuda-lo, as senhoras Monkev e Viswen choravam e Tinerah tentava ajuda-lo, junto com seu marido. Khyrius observava tudo parado no salão, como uma estátua, com uma cara de espanto, sem acreditar no que estava acontecendo.
O rei parou de se mexer. Todos choravam. Os curandeiros chegaram e começaram a analisar o corpo do rei. Mas seus filhos já estavam sem esperanças.
Depois de alguns minutos examinando Thogarni, os curandeiros deram a notícia que todos já esperavam.
─ O rei está morto.
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Os Sete Filhos
FantasyOcorre um assassinato na familia real e ninguem sabe quem é o assassino e começa uma caça ao verdadeiro assassino. Mas quem será ele ? Essa é uma história com muitas intrigas, traições e mistérios.