⊙I. THE PAST
prólogo—— Ás vezes, há coisas que o homem não pode saber, mas depois de anos caóticos, numa realidade adoecida... Essa é a história que precisa ser contada, a história de como permanecemos
vivos.AS CHAMAS CONSUMIAM o único resquício de bom lar que havia me sobrado, as cabanas do acampamento se reduziam a pó, e a pouca esperança que mantinha no peito era desfeita amargamente pelo caos. Não teríamos a capacidade de olhar para trás novamente, nenhum lugar era seguro. As memórias que nos restavam iam se perdendo na fumaça do incêndio, ao meio das vozes agonizantes clamando por ajuda, enquanto as demais eram silenciadas com a mísera morte.
Adultos, crianças, famílias. A grande parte dela queimada viva pelo rastro misterioso de fogo, e as que escapavam do escaldante inferno, acabavam massacradas pelas criaturas andantes. E elas vinham na nossa direção.
Meu coração palpitava agressivamente contra minha caixa torácica, respirava com dificuldade diante a neblina escura da queimada, meus pulmões buscando por ar fresco, em total desespero. Em passos falhos, mal enxergava as raízes que se formavam ao caminho, consequentemente, me fazendo cair contra o chão de terra.
Ruídos vinham de diferentes sentidos, como se fosse impossível identificar de que direção seria a origem do som. A paisagem não era nada mais que um borrão preto, onde as árvores acima de mim transmitiam uma claustrofobia indescritível.
Um morto-vivo se revelou diante a escuridão, cambaleando até onde estava jogada. Procurei por qualquer objeto que pudesse usar como defesa, mas não encontrei nada a tempo: a carcaça podre e ambulante caiu sobre mim, seus dentes se contorcendo para que alcançassem um pedaço da minha carne.
Com a adrenalina em seu ápice, a briga corporal se estendeu por mais uns minutos, porém, sabia bem qual seria o desfecho: acabaria sendo mordida ou até mesmo arranhada, delirando numa febre intensiva que me mataria, me transformando num deles. Cedo ou tarde, você engoliria as ácidas verdades do novo mundo, e se confirmaria com elas. Morrer ou ver os outros morrendo, não parecia existir alternativas que contornassem as "leis" de sobrevivência.
Um último suspiro saiu dos meus lábios, não me restavam mais forças. A boca do monstro estava perto o suficiente, e antes que pudesse afasta-lo, vi uma barra de ferro atravessar o crânio decomposto daquela coisa, o sangue putrefato respingando em minha face descrente.
— Você está bem? – Ouvir a voz dele, tranquilizava as piores aflições. Papai me ergueu do chão, aninhando-me em seu peito. — Foi mordida, Bee?
Neguei com a cabeça, segurando a imensa vontade que tinha de gritar, o medo me consumia de forma que as lágrimas silenciosas escapassem. Poderia perde-lo, igual ao resto das coisas que tiveram seu fim prematuro.
— Não chore, chorar é para os fracos. – Apalpou meu rosto, afirmando como um verdadeiro sobrevivente. Parecia loucura a falsa normalidade e postura que ele mantinha, apenas para provar-me que estava no controle e que não iria desistir. — Assim como Lucille, sei que é forte. Vamos sair vivos, filha. Faremos isso por ela.
Corríamos. Éramos lentos demais, para tamanho esforço.
— Vá, corra e não olhe para trás. – Ele golpeou uma das criaturas, a arremessando em cima das outras que vinham. Estávamos cercados.
— Não posso te deixar. – Respondi sem fôlego, chutando o joelho acabadiço do caminhante, o fazendo cair e bater a cabeça numa das madeiras pontiagudas das árvores derrubadas. — Vamos sair vivos, e juntos.
— Nos encontramos na cachoeira, siga por essa direção. – Com brutidade e decisão, puxou-me pelo braço, indicando a rota onde deveria ir. — Vou distrai-los, são burros. Agora, vá e não retorne, Rebecca. – O aperto de sua mão na minha se desfez, assim como o delicado beijo na testa. Repentinamente, mais monstros apareciam e não haviam escolhas a não ser obedece-lo. — VAI! AGORA! – Sua jaqueta de couro ia se perdendo com a distância que tomava, assim como seus gritos chamando pela atenção dos mortos, até que estivesse sozinha e perdida por completo.
Prossegui com dificuldade, ouvindo entre o zumbido ensurdecedor e grunhidos, a queda d'água, o nítido barulho da água se chocando contra a ribanceira. Tão perto quanto distante, não conseguia realizar mais um movimento sequer, os olhos reviravam-se por de baixo das pálpebras cansadas, o sentimento do desmaio cada vez mais evidente. Nenhum comando parecia ser correspondido, as extremidades nervosas formigando em suplício por ajuda. Não via sequer uma solução para continuar viva.
Apenas dor.
Depois disto, a escuridão.
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Stay Alive 》Negan [REESCREVENDO]
FanficSentir a dor, ter o ardente apego pulsante no peito, é o crucial que nos diferencia dos monstros que vagam pela terra. Não importa o quão valente seja, não há como esconder a humanidade que erradia diante as trevas. Continue vivo.