Gritando, as pessoas saiam da sala e corriam sem rumo. Os primeiros a saírem foram dois idosos, que discutiam no círculo, algumas horas atrás. Cada um foi para uma direção diferente.
Rebeca entrou na sala, procurando seu pai. Encontrou Marta encolhida no canto da parede, apavorada com o que via à sua frente.
Benjamin estava debaixo de Marcos, que brigava para encravar seus dentes no pescoço do velho. Os braços de Ben tremiam de cansaço, e o lado direito de seu rosto estava molhado com a saliva do errante. O rapaz não existia mais naquele corpo. Veias negras invadiam seu rosto e seu olhos, tornando nítida sua contaminação. Ele rosnava ferozmente, mordendo o vento, desejando os pedaços do pescoço de Ben.
Cortando o ar, um pé de cadeira acertou a parte frontal do rosto do errante, tirando-o de cima de Ben direto para o chão.
Rebeca quem segurava o pé da cadeira. Estendeu a mão para o pai, ajudando-o a se levantar.
Marcos ficou caído de costas por alguns segundos. Seu nariz foi aberto pela pancada, liberando sangue escuro. Ele não expressava dor alguma, seu ferimento no pescoço coberto pelas ataduras encontrava-se banhado de escarlate.
Temente para que ele se levantasse, Ben pegou o braço da filha e a puxou.- Vamos sair daqui!
Indo para a porta, Rebeca se lembrou de Marta.
- Espera!
A mulher permanecia no mesmo lugar, imobilizada pelo medo. Seus olhos não descolavam do contaminado no chão. Naquele momento, uma nascente de sangue.
Rebeca entrou na frente de Marta, com alguns fios de cabelo castanhos soltos do rabo de cavalo. Seu suor escorria pelo rosto, descendo pelo pescoço, fazendo ela se limpar com a jaqueta jeans.- Marta, precisamos sair. - Rebeca disse olhando nos olhos dela.
- Eu não sei se vou conseguir. - A voz trêmula de Marta disse.
Rebeca pousou a mão em seus ombros.
- Apenas não olhe para os lados. Somente para frente.
Rebeca pegou na mão da mulher e à ajudou a correr até a porta.
Marta sentia-se vulnerável. Por toda vida foi forte, e não deixou que ninguém passasse por cima de si. Sempre confiante e orgulhosa, naquele momento sentia-se fraca e apenas outra vítima.
Quase chegando na saída da sala, Rebeca não percebeu o vulto negro que às perseguia rapidamente. Quando virou-se era tarde demais. O errante Marcos, montou nas costas de Marta e afundou seus dentes em seu ombro. A mulher não aguentou o peso de outro corpo, caindo no chão de bruço. Rebeca avançou para ajudá-la, mas seu pai à segurou pelo braço.- Não podemos salvá-la!
- Pai, não! - Rebeca gritou.
O sangue de Marta era derramado no chão. Seu coração estava parando, e já faltava vários pedaços do seu pescoço.
Ben puxou Rebeca para fora, forçadamente. Correu a porta pelos trilhos e trancou o predador e a vítima.
No corredor as coisas não estavam boas. Marcas de sangue estavam espalhadas pela parede. De costas, um infectado devorava as entranhas do primeiro velho que saiu da sala. Ocupado com sua refeição, ele não notou Ben e Rebeca correndo para a outra direção.
Rebeca conseguia ver a porta para a recepção, apenas precisava atravessar o encontro de dois corredores pela esquerda e direita, que era oculto o que vinha por eles.
Ela e seu pai pararam próximos a curva da parede. Cautelosa Rebeca inclinou a cabeça para ver o que estava no corredor da direita. Seus olhos encontraram Jaime, prensado contra a parede, lutando com um enfermeiro contaminado. Ele segurava uma barra de ferro para distancia-lo do morto-vivo, que fazia de tudo para mordê-lo.- Uma ajudinha? - Jaime disse quase desesperado.
Rebeca colocou a mão no bolso, tirando uma tesoura de metal que pegou no armário da sala. Ela olhou para o objeto, e para o enfermeiro. Era ele ou Jaime.
A garota foi até o errante e enfiou a tesoura entre suas costelas, mas não surtiu qualquer efeito, apenas chamou atenção. Ele avançou nela. Rebeca embaralhou os pés e caiu de costas. O morto caiu por cima dela. Rebeca tirou a tesoura das costelas dele e perfurou o olho esquerdo. O ponta do objeto atravessou o globo ocular, atingindo a região frontal do cérebro, causando a morte imediata e permanente.
Jaime tirou o corpo de cima da garota, ajudando ela a se levantar.
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Corpos Vagantes
قصص عامةPara tudo existe um início e um fim, e o fim da sociedade havia chegado. Uma substância química com efeitos cancerígenos, chamada benzeno, foi liberada na água por uma indústria desconhecida. Depois disso tudo mudou para o mundo moderno onde vive Re...