Mais Perto Do Que Pensa

6 0 0
                                    

Eles não demoraram muito para se aprontar. O céu já estava escuro, e a cidade mostrava todo seu brilho na noite sombria. Rebeca pegou sua jaqueta jeans, e colocou por cima da blusa vermelha que usava. Ben não trocou nada.

- Está frio lá fora. É melhor o senhor pegar um casaco. - Disse Rebeca.

Ele pensou um pouco e decidiu pegar uma blusa de frio, evitando o risco de congelar lá fora, na cidade extremamente gelada. Com toda certeza, cada morador de São Joaquim tinha diversas vestimentas de inverno no guarda-roupas. Era frio na maior parte do tempo, então, blusas de frio era o que não faltavam nas vitrines das lojas. Rebeca conferiu os documentos do pai e pegou sua carteira. Depois de prontos eles partiram para o hospital.
Ben estacionou a caminhonete em uma vaga próxima às portas de entrada. Hospitais particulares eram mais vazios e mais rápidos no atendimento. Rebeca pagava o plano de saúde do pai todo mês, mesmo que ele não soubesse, ela fazia um esforço para pagar o valor que era um tanto alto. Ela pegou uma senha na recepção principal, e depois de alguns minutos, foi atendida.

- Boa noite. Posso ajudar? - A recepcionista perguntou.

- Meu pai veio fazer um exame de tuberculose. - Rebeca disse com o pai ao lado.

- Claro. - A mulher digitou a informação no computador. - Ele tem o plano do hospital?

- Sim. - Rebeca tirou da bolsa a carteirinha, com a foto do pai.

A recepção era grande. As cadeiras ficavam em fileiras horizontais à frente do balcão de atendimento, que separava os pacientes das recepcionistas através de um vidro que se estendia até o teto. Parecia ser a prova de balas. A mulher passou a carteirinha de Ben por um leitor, transferindo todas as informações dele para o computador. Depois daquilo, foi impresso outro papel contendo uma senha, que ela deu a Rebeca.

- É só esperar a senha ser chamada e ele será atendido.

- Obrigada.

Ela voltou e se sentou, Ben ocupou a cadeira ao lado. Ele estava agitado, balançando a perna, nervoso. Rebeca logo percebeu.

- Não precisa se preocupar. - Ela colocou a mão na perna do pai.

Ele apenas olhou em seus olhos, e suspirou. Na recepção, para diminuir a tensão e fazer o tempo passar mais rápido, havia duas televisões. Suspensas no ar por bases de ferro. A programação não era tão atrativa, uma novela mexicana. Bem mal dublada. Pensou Rebeca. Para a surpresa dela e os outros pacientes na espera, a novela foi interrompida.

- Interrompemos a programação para um informe urgente. - Disse a jornalista. - Pedimos a população que permaneça em suas residências por motivos de segurança. Após a epidemia da contaminação por Benzeno, pessoas já contaminadas passaram a ter sustos de agressão e mutilação. O ato está sendo considerado um distúrbio provocado pela doença, que faz os contaminados agirem de forma agressiva. Muitas pessoas já foram atacadas por mordidas e arranhões. E vinte mortes já foram confirmadas.

Ben sentiu a mão da filha descer sobre a sua. Tensa.

- A doença pode se espalhar através das mordidas e arranhões causados pelos contaminados. Um grupo de manifestantes está alegando que esse seja o surgimentos de "zumbis". Porém as autoridades já estão contendo os doentes, e os jovens manifestantes. Agradecemos a compreensão. Logo voltaremos com mais informações.

A televisão chia e a novela volta a passar normalmente. Como se nada houvesse acontecido. Rebeca começou a ficar preocupada em estar fora de casa, ela zelava pela vida do pai, e não gostaria de colocá-lo em risco. Olhou para o lado e viu um homem, beirando a casa dos quarenta. Ele soava muito e seus olhos estavam fundos, com olheiras rochas intensas. Rebeca não tinha visto ele quando chegou, provavelmente se sentou ali enquanto o noticiário passava na TV. Sem que ela percebesse.

Corpos VagantesOnde histórias criam vida. Descubra agora