Capítulo I

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Quando a única coisa que te agarra à própria vida são os teus vícios percebes que estás quase a bater no fundo, se é que isso ainda não aconteceu. Quando deambulas pela rua fugindo de quem deves dinheiro e procuras quem te pode dar o que queres, quando isto é a única coisa que importa percebes que não tens nenhum propósito. Nada. Nada que te prenda aqui.

- Por favor dê-me algum dinheiro minha senhora. Estou cheio de fome. - ponho a minha melhor cara de sofrimento que parecia já estar permanentemente marcada em mim, não pela fome.

- Toma rapaz. - a senhora estende-me algumas moedas para a minha mão suja tentando ao máximo não me tocar.

- Obrigada. - ofereço-lhe um sorriso verdadeiro.

Os minutos e as horas passam sem que dê por eles e começo a sentir cada vez mais a necessidade de consumir heroína.

Heroína. Que irónico. Mas talvez seja a minha heroína.

Enquanto caminho pelas ruas bastante escuras e perigosas sinto a dependência a apoderar-se de mim. As mãos tremem, os meus olhos ficam secos bem como a minha boca, a vontade apodera-se de mim, algo me falta no organismo e no sangue, sinto o suor escorrer-me pela cara mesmo estando uma noite fria e eu não tendo casaco.

Sento-me no chão e conto o meu dinheiro desesperadamente. Os efeitos da minha dependência não me deixavam raciocinar e as picadas no estômago provocadas pela minha alimentação pobre e escassa. Não me lembro da última vez que comi.

- Que merda isto tem de dar. - reclamo comigo mesmo surpreendido por ainda ser capaz de formar uma frase coerente, mesmo que esteja a falar sozinho.

Levanto-me rapidamente sentindo o meu corpo a ceder com tonturas, mas forço-me a permanecer direito e começar a andar para ir ter com o John. Ele foi a primeira pessoa que me ajudou quando cheguei às ruas sem ter para onde ir nem saber o que fazer. Também foi o primeiro a mostrar-me o que era dependência.

Vejo-o no habitual parque de estacionamento encostado a um carro e fumando o seu habitual cigarro enquanto vendia droga a alguém. 

- Olá Harry, um minuto. - ele fala comigo logo que nota a minha presença, não tirando o seu cigarro da boca. Assinto. 

Encosto-me ao seu lado deixando-o acabar o seu negócio e sinto a dor no meu estômago se apoderar de mim de uma forma demasiado forte para que eu não faça uma careta de dor. 

- Então Harry diz-me o que é que precisas. Estás com um aspeto péssimo já agora. - ele olha para mim com uma sobrancelha arqueada e fala com a sua sinceridade habitual e desnecessária.

- Não preciso dos teus elogio agora de certeza. Preciso daquilo. - falo sussurrando.

- Oh vá lá não me digas que ainda tens medo de dizer o nome "daquilo". - estreito-lhe os olhos. - De qualquer das formas de quanto é que precisas? 

- Isto é tudo o que tenho, esse é o problema. - mostro-lhe algumas moedas que tinha arranjado ao longo do dia e uma nota de baixo valor. Ele olha para mim desconfiado.

- Toma lá e vai-te embora antes que alguém me veja a dar-te isto por essa miséria. - sussurra e dá-me a heroína em pó num saco enquanto lhe dou dinheiro.

- Obrigado John. - agradeço-lhe com os olhos vidrados no saco.

- Ficas-me a dever uma. - assinto e começo a caminhar. - E Harry? - olho novamente para ele parando de andar. - Tem cuidado com quem andas a dever dinheiro. - assinto nervosamente e volto ao meu percurso. 

Coloco o saco no meu bolso de forma a não chamar a atenção de pessoas indesejadas e caminho o mais rápido que posso para o meu esconderijo onde costumo dormir nas noites mais frias como as de hoje e claro, para consumir fora dos olhos de toda a gente. 

Quando vejo ao longe porta da casa abandonada sinto a euforia apoderar-se de mim e não me consigo conter e tiro o saco do bolso e apresso o meu passo para que possa chegar lá o mais rápido possível. Os meus planos são interrompidos quando alguém me agarra no pulso com brutidade sem que eu me consiga desenvencilhar por conta da fraqueza que corre no meu corpo. 

- Com que então não tens dinheiro para nos pagares o que deves? - os olhos acusadores do homem do qual eu não me recordo o nome olham para mim com uma fúria palpável. 

- E não tenho. - mordo o meu lábio com tanta força que sou capaz de sentir o sabor metálico do sangue. 

- Então que merda é esta? - agarra na minha blusa com uma força descomunal para mim naquele momento e só aí me apercebo que os seus "capangas" se encontram mesmo atrás dele. 

Ele examina-me e faz sinal com a mão para que dois dos seus homens me agarrem. Tudo acontece numa questão de segundos. Eles agarram-me enquanto eu me tento libertar mas a minha força não pode ser comparada à deles, eu pareço um esqueleto que não se lembra da última vez que comeu. 

Sou atirado ao chão com bastante força e um dos homens tira-me o saco de heroína da mão. Começo a ver a dobrar quando sinto pontapés no meu estômago que já doía anteriormente e socos na minha cara. Não sei quanto tempo dura, mas sinto-me a apagar quando ainda consigo ouvir:

- Considera a tua dívida quase paga. Obrigado pela colaboração. - ouço a sua risada que se vai afastando.

Os meus olhos não conseguem ceder e sinto-me a entrar num sono bastante profundo. A última coisa que sinto são as pedras do chão imundo a arranharem-me os braços desprotegidos e as partes do meu copo que não estão cobertas pelas minhas calças rotas. 

Abro os olhos com muito custo mas não vejo nada. Não sei onde estou não sei se é de noite. Não sei se estou a sonhar. Sinto uma presença e uma voz angelical fala comigo. Acho que estou a sonhar.

- Estás bem? Consegues me ouvir? - sinto uma mão suave e quente na minha cara suja. - Ryan, ajuda-me aqui.

Acho que estou a sonhar. A última coisa que vi foi um anjo.



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Olá baby's estou de volta com uma nova história que estou super entusiasmada para ouvir as vossas opiniões e ler os vossos comentários. 

Por favor digam-me o que estão a achar da forma como escrevo e da ação até agora <3

Muitos beijinhos ADORO-VOS, 

Joana  🌈 


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